Sociedade

Brasil herdou 12 estádios de 2014: uma manada de elefantes brancos

Arenas abandonadas, construídas em cidades sem times de grande expressão, tentam evitar o prejuízo com promoção de eventos

'O teto de doação é para evitar que o poder econômico mande no Parlamento' (Antonio Augusto/Câmara)
Apoie Siga-nos no

Por Louis Genot

Os doze estádios construídos ou reformados para a Copa do Mundo do Brasil, em 2014, lutam, quatro anos depois da competição, por sua sobrevivência. Algumas das cidades que receberam os jogos do Mundial, como Cuiabá, não tem equipes de alto nível e os estádios novos viraram verdadeiros elefantes brancos.

Além de terem tido um custo muito superior ao esperado, ainda dão prejuízo, já que os gastos de manutenção são elevados. E quando as autoridades não conseguem sustentá-los, começam a se deteriorar.

“Obras que custaram uma fortuna têm problemas graves de infiltrações, como é o caso em Cuiabá, por exemplo, onde o estádio nem foi terminado”, lamentou Paulo Henrique Azevedo, encarregado do Gesporte, grupo de estudos sobre gestão esportiva da Universidade de Brasília (UnB).

Em entrevista à revista Exame, o consultor em gestão esportiva Amir Somoggi afirmou que a melhor solução seria “implodir os menos rentáveis, como de Brasília, Cuiabá e Manaus”.

Recentemente, a Exame destacou que dez dos 12 estádios são “monumentos à corrupção”, devido à má-gestão de todo tipo durante sua construção.

O mítico Maracanã, a joia da coroa na capital fluminense, teve uma reforma cercada de polêmica e, inclusive, ficou abandonado durante meses depois dos Jogos Olímpicos de 2016, devido a um imbróglio político-judicial que contrapôs a concessionária com o comitê organizador do evento.

Como estão as novas arenas

Um estudo do laboratório de jornalismo da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) destaca que só a Arena Corinthians, entre as novas arenas construídas para a Copa, teve público superior a 50% entre 2015 e 2017. Chegou até a ter lotação média de 86% nos confrontos do último campeonato brasileiro, vencido pela equipe corintiana, com 40 mil espectadores por partida.

Mesmo assim, o estádio é uma fonte de problemas para o clube, mergulhado em dívidas para financiar sua construção. Paradoxalmente, o Arena da Baixada, em Curitiba, do Atlético Paranaense, que teve grandes atrasos durante sua construção, é um dos mais bem administrados.

O Beira-Rio de Porto Alegre, reformado para o Mundial, também tem um bom desempenho, sendo regularmente usado pelo Internacional. No entanto, sofre na comparação com o ultramoderno estádio que o Grêmio, seu arquirrival construiu do zero, mesmo sabendo que não seria usado para o Mundial.

Leia também:
Denúncias de corrupção atingem 10 das 12 arenas da Copa
Dane-se o racismo: coletivos lutam contra o preconceito nos estádios

A Confederação Sul-americana de Futebol (Conmebol) ainda deve decidir quais os dois estádios que vão sediar a Copa América 2019, que será disputada no Brasil.

Em São Paulo, os organizadores do torneio também estão na dúvida entre a Arena Corinthians, onde foi disputada a abertura da Copa do Mundo de 2014, e o estádio de seu grande adversário, Palmeiras, que não recebeu jogos da Copa, mas é uma verdadeira joia, onde inclusive foram celebrados vários shows.

Receber espetáculos, além de jogos de futebol é uma forma de dar algo de rentabilidade aos elefantes brancos.

Em Brasília, onde foi construído o Mané Garrincha, o mais caro de todos os estádios, ao custo de R$ 1,4 bilhão, mais que o dobro do orçamento inicial, as autoridades falam de “elefante colorido”. Alguns espaços sob as arquibancadas foram transformados em escritórios da administração e ali se celebra todo tipo de evento, casamentos inclusive.

Desertos futebolísticos

Construídos para incentivar o turismo no Pantanal e na Amazônia, os estádios de Cuiabá e Manaus foram erguidos em “desertos” futebolísticos, onde são mais frequentes os jogos de futebol americano.

Outra forma de fazer com que alguns estádios sejam mais rentáveis é disputar ali alguns jogos dos times principais do Rio, mas isto ocorre muito esporadicamente, para assegurar uma receita sustentável.

A paixão pelo futebol está presente no nordeste, mas o público nos estádios de Salvador, Recife, Natal e Fortaleza depende muito dos resultados das equipes, que oscilam entre a primeira e a segunda divisão.

Em Belo Horizonte, o Mineirão, maldito por ter sido o cenário do 7 a 1 nas semifinais da Copa de 2014, só recebe jogos do Cruzeiro, um dos dois principais times locais. O Atlético Mineiro prefere o estádio Independência, menor e mais rentável.

Mas a empresa que administra o Mineirão encontrou uma forma original de espantar o fatídico legado daquele jogo: associar-se com instituições alemãs para leiloar pedaços da rede do gol daquela partida, com renda revertida para obras beneficentes.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo