Saúde

Teich diz que falta informação sobre covid-19 e critica ministério por ocultar dados

Ex-ministro acredita que falta capacidade de resposta ao vírus e que ocultamento prévio de dados gerou desconfiança em relação a Saúde

(Foto: Erasmo Salomão/MS)
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O ex-ministro da Saúde Nelson Teich afirmou, em entrevista ao UOL nesta segunda-feira 22, que avalia negativamente a tentativa do governo de Jair Bolsonaro de ocultar dados referentes à pandemia de coronavírus, como foi prática do Ministério da Saúde logo após a saída de Teich.

“Achei isso um erro. Trouxe uma discussão, uma confusão em relação ao ministério totalmente desnecessárias. Me traz uma percepção muito negativa”, afirmou, apesar de tentar não criticar diretamente a gestão de Bolsonaro e do atual ministro, Eduardo Pazuello, que foi seu secretário-executivo enquanto durou sua breve atuação de menos de um mês na pasta. “Aquele consolidado seria disponibilizado de alguma forma, não tinha como esconder os números”, disse, ao também negar que tenha sofrido pressão para realizar ato semelhante enquanto foi ministro.

No começo de junho, após pressões do presidente Jair Bolsonaro, a pasta adotou o método de relatar somente os números de mortes “ocorridas” por dia. Depois, foi obrigada a retomar o fluxo normal devido a uma decisão do Supremo Tribunal Federal.

Além disso, Nelson Teich, que justificou sua saída como uma tentativa de não gerar outra crise política na gestão, opinou que faltam informações de qualidade para a avaliação do momento atual do coronavírus no Brasil, onde o vírus já matou mais de 50 mil pessoas.

“É tanta informação que a gente ainda não tem. Hoje, se eu tivesse que focar em uma coisa, seria rever informações que eu preciso e trabalhar pra que essa informação chegasse pra ser consolidada pelo Ministério. Isso vai muito além do que o número de mortes”, afirmou o ex-ministro. A gente tem que melhorar a eficiência da operação, melhorar a nossa capacidade de responder ao que tá acontecendo”.

Teich, no entanto, evitou dar mais detalhes sobre sua saída do Ministério, impulsionada pelo médico ser contra a flexibilização dos protocolos para o uso da cloroquina no Brasil – atualmente liberada até para casos mais leves da doença, apesar da falta de comprovação científica envolvendo o assunto.

Na visão do ex-ministro, Bolsonaro “sempre deixou muito claro a forma que ele tem de governar e liderar” e, por ter sido eleito, teria a prerrogativa de realizar as escolhas ministeriais que melhor lhe agradassem. Atualmente, a pasta da Saúde está com um porcentual alto de militares em cargos antes pertencentes à especialistas.

Mesmo assim, Nelson Teich afirmou que falta uma “liderança clara” para o Ministério da Saúde em relação a unidade de informações e práticas, o que abre ” espaço pra uma disputa de poder” e para uma “gestão enfraquecida”, segundo suas palavras.

O ex-ministro foi o segundo na gestão da Saúde do governo federal durante a pandemia. O primeiro, Henrique Mandetta, também foi demitido por discordar de Jair Bolsonaro em relação à cloroquina e às orientações de distanciamento social, fortemente atacadas pelo presidente desde o início da crise.

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