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Saúde

Pausa em testes de vacina é prática “extremamente frequente”

Epidemiologista Paulo Lotufo explica os próximos passos após suspensão da fase 3 do imunizante de Oxford

Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
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A interrupção na fase 3 da vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela Universidade de Oxford, cujo anúncio foi feito na tarde da terça-feira 08 após reações adversas em um voluntário, voltou a gerar dúvidas sobre o complexo processo científico de aprovação de uma vacina segura e eficaz.

No entanto, o procedimento de interromper os testes é visto com tranquilidade por pesquisadores.

“É um processo extremamente frequente, mas quantos bilhões de olhos temos em cima dessa vacina, né?”, disse o médico e epidemiologista Paulo Lotufo, que atribuiu o grande peso do anúncio à expectativa de que a vacina seja disponibilizada o quanto antes, apesar de destacar a necessidade de se respeitar o tempo correto da Ciência.

Ainda não se sabe qual foi a reação adversa causada pela vacina-teste.

Em nota, o laboratório AstraZeneca, que conduz os estudos em conjunto com Oxford, reafirmou que o procedimento é comum e que está “trabalhando para agilizar a revisão de um único evento para minimizar qualquer impacto potencial no cronograma do teste”.

De acordo com Lotufo, o procedimento agora é avaliar o paciente em todas as frentes viáveis para identificar possíveis contaminações por outros vírus, problemas genéticos não alegados anteriormente, análises de tomografias, radiografias e demais exames específicos.

Depois de todos os testes, é praxe que os resultados sejam encaminhados a um comitê de segurança independente que irá avaliar a situação. Geralmente, explica o médico, a continuidade dos testes só é retomada depois de um consenso entre os membros desse grupo específico.

“Por isso que nós, pesquisadores, estamos lutando para que a vacina só venha depois de uma fase 3 muito bem feita com resultados disponíveis para todo mundo julgar”, afirmou. “O tempo da Ciência tem que ser respeitado não porque o cientista é um chato, mas porque as coisas são assim mesmo”.

Como exemplo, Lotufo conta o caso de um voluntário de um estudo que teve a morte reportada aos demais pesquisadores mesmo tendo falecido após um atropelamento acidental em um ponto de ônibus.

“Isso foi notificado porque, se uma pessoa está fazendo um estudo e ela é atropelada, pode significar que essa pessoa estava perdendo algum tipo de sentido, como audição e visão”, explica.

Pesquisa no Brasil 

A Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que conduz os testes da vacina em voluntários de São Paulo, afirmou que, até o momento, as 5 mil pessoas que receberam a dose da vacina de Oxford não tiveram reações adversas.

“No Brasil, o estudo envolve cinco mil voluntários e avança como o esperado. Muitos já receberam a segunda dose e até o momento não houve registro de intercorrências graves de saúde”, disse a Unifesp em nota.

O Ministério da Saúde também posicionou-se no mesmo sentido.

“As regras definidas no protocolo do ensaio clínico com a vacina ChAdOx-1 nCoV-19 (desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com AstraZeneca) são baseadas no padrão internacional de Boas Práticas Clínicas e estabelecem que a ocorrência de qualquer Suspeita de Reação Adversa Grave Inesperada (SUSAR) pode provocar a suspensão temporária do estudo”, informou a pasta.

“Importante esclarecer que, no ensaio clínico da vacina de Oxford/AstraZeneca, já foram incluídos aproximadamente 18 mil participantes. A pausa no estudo significa que não haverá inclusão, neste momento, de novos participantes. Entretanto, aqueles já incluídos seguem em acompanhamento para avaliação da segurança e eficácia”, concluiu o ministério.

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