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Nova variante do coronavírus descoberta na África do Sul atinge jovens

A nova cepa tem 32 mutações na proteína spike, a parte do vírus que a maioria das vacinas utiliza para preparar o sistema imunológico

Foto: Fred TANNEAU / AFP
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Cientistas da África do Sul identificaram uma nova variante do coronavírus com várias mutações preocupantes e facilmente transmissível. A descoberta acontece em meio a um aumento de casos da Covid-19, sinal de que uma nova onda da epidemia deve se instalar no país nos próximos meses.

“Infelizmente, nós detectamos uma nova variante que é motivo de preocupação na África do Sul”, explicou o virologista brasileiro Tulio de Oliveira, em uma entrevista coletiva organizada pelo Ministério da Saúde sul-africano.

A variante, identificada pelo código B.1.1.529 enquanto aguarda a atribuição de uma letra do alfabeto grego, “tem um elevado número de mutações”, acrescentou o brasileiro, que lidera a equipe de pesquisas Krisp, da Universidade de Kwazulu-Natal. No ano passado, a equipe de Oliveira já tinha descoberto a variante Beta da Covid-19, que também foi considerada particularmente contagiosa, mas teve propagação limitada.

A nova cepa tem 32 mutações na proteína spike, a parte do vírus que a maioria das vacinas utiliza para preparar o sistema imunológico contra a Covid-19. As mutações na proteína spike podem afetar a capacidade do vírus de infectar células e se espalhar, mas também dificultar a ação dos anticorpos contra o patógeno.

Os primeiros casos da B.1.1.529 foram detectados em Botsuana, em 11 de novembro, e três dias depois na África do Sul. A variante chegou a Hong Kong com um viajante procedente da África do Sul.

O ministro da Saúde sul-africano, Joe Phaahla, afirmou que a nova linhagem é a fonte do aumento “exponencial” do número de casos constatados nos últimos dias no país. Os contágios dispararam a mais de 1.200 casos positivos na quarta-feira 24, contra apenas 100 por dia no início do mês.

Embora a variante Beta tenha inquietado as autoridades sanitárias no ano passado, a Delta, detectada pela primeira vez na Índia, se impôs como cepa predominante e estava, até agora, provocando a maior parte das contaminações no país. A nova mutação do coronavírus pode mudar esse cenário.

As mutações fazem parte da evolução natural de um vírus e ocorrem em seu processo de multiplicação, depois de infectar as células. Algumas mudanças tornam os vírus mais transmissíveis, como aconteceu com a variante Delta, que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), reduziu em 40% a eficácia das vacinas contra a Covid-19.

“O que nos preocupa é que esta variante pode não apenas ter uma capacidade de transmissão ampliada, mas também ser capaz de evitar em parte o sistema imunológico”, diminuindo as defesas do organismo contra a Covid-19, disse outro pesquisador, o professor Richard Lessells. A equipe do Krisp ainda não pôde determinar se a B.1.1.529 resiste às vacinas disponíveis.

Até o momento, foram registrados 22 casos de Covid-19 provocados pela nova cepa. A maioria dos infectados são jovens, de acordo com o Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis (NICD).

“Inimigo imprevisível”

“O número de casos diagnosticados e a porcentagem de testes positivos estão aumentando rapidamente”, confirmou o NICD em um comunicado, particularmente na província mais populosa de Gauteng, que inclui Pretória e Joanesburgo. Os hospitais devem se preparar para receber uma nova onda de pacientes nos próximos dias ou semanas, alertaram os cientistas.

Segundo o ministro da Saúde sul-africano, o surgimento desta nova forma da infecção viral “reforça o fato que este inimigo invisível com o qual lidamos é muito imprevisível”, destacou.

A África do Sul registrou cerca de 2,9 milhões de casos de Covid-19 desde o início da pandemia, e 89.600 mortes. Atualmente, a Europa voltou a ser o epicentro global da pandemia, mas a OMS alerta com frequência para o risco de explosão de casos em países pobres do continente africano, devido ao baixo índice de vacinação de suas populações.

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