Saúde

Indústria de comida deve ser monitorada como a de cigarro?

Cientistas propõem a criação de uma “convenção sobre os sistemas alimentares” para desafiar o lobby das empresas do setor

Créditos: Divulgação
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Obesidade, alimentação e mudanças climáticas: essas três variáveis representam uma ameaça para o planeta e devem ser combatidas de maneira global, segundo um relatório publicado nesta segunda-feira 28 por um grupo de especialistas na revista The Lancet.

De acordo com o documento, assinado por um coletivo de especialistas da universidade de Auckland, na Nova Zelândia, da universidade de George Washington, nos Estados Unidos e da ONG Word Obesity Federation, as multinacionais da indústria alimentícia devem ser monitoradas como as empresas de tabaco.

Para isso, os cientistas propõem a criação de uma “convenção sobre os sistemas alimentares” similar ao adotado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2003, na luta contra o cigarro. O objetivo é desafiar o lobby da indústria para limitar a influência nas políticas públicas. Segundo o relatório, em 2017 a indústria de refrigerantes gastou 50 milhões de dólares para lutar contra medidas destinadas a diminuir o consumo desse tipo de bebida.

“A comida é, logicamente, diferente do cigarro, porque é indispensável à vida, mas esse não é o caso dos alimentos que fazem mal para a saúde”, declarou o professor William H. Dietz, um dos especialistas que assina o relatório. “Os pontos comuns entre a comida industrializada e o cigarro são os estragos que ambos provocam e o comportamento das empresas que lucram com essa situação”, diz.

O documento é uma continuação de um estudo publicado no dia 17 de janeiro, que preconiza a diminuição do consumo de carne vermelha, açúcar e mais frutas, legumes e nozes no cardápio.

O novo relatório é resultado dos trabalhos de 43 especialistas de 14 países. A conclusão é que, nos últimos 20 anos, a obesidade, a desnutrição e as mudanças climáticas foram consideradas questões independentes, o que gerou uma resposta política “lenta e inaceitável”, afirmam os membros do coletivo. A alimentação representa 25% das emissões de gases poluentes, causadores do efeito estufa. A criação de gado é responsável por uma boa parte da poluição, salienta o estudo.

Os cientistas também apontam o sedentarismo como uma das causas do aquecimento global. “Nossos sistemas de transporte são dominados pelo uso do carro, favorecendo um modo de vida sedentário, com pouca atividade física, o que gera entre 14% e 25% das emissões poluidoras.”

Leia também: Pesquisa aponta como alimentar o planeta até 2050

Fenômenos climáticos extremos

“A desnutrição e a obesidade serão, sem dúvida, agravadas pelas mudanças climáticas”, preveem os cientistas. Os fenômenos climáticos extremos, como as secas, poderiam privar as populações de diversos países de comida e elevar o preço de frutas e legumes, o que aumentaria também o consumo de alimentos industriais. “É preciso ter consciência dessa ligação”, diz Corinna Hawkes, uma das autoras do relatório.

Como solução para essa situação, ela aponta a implantação de políticas de saúde pública, como recomendações para se ter uma alimentação saudável e uma atividade física regular, além de mais financiamento para agricultura sustentável, com a adoção de impostos para diminuir o consumo de carne vermelha e a utilização de carros no dia a dia.

De acordo com a OMS, 1,9 bilhão de adultos no mundo estão em sobrepeso e 650 milhões são obesos, o que é um fator de risco para o diabetes, as doenças cardio-vasculares e o câncer. Ao mesmo tempo, 462 milhões de adultos são magros demais.

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