Saúde

França registra mortes suspeitas de efeitos colaterais da hidroxicloroquina

O relato dessas mortes e de efeitos colaterais graves é mais uma reviravolta na controvérsia global em torno da cloroquina

Remdesivir tem 'pouco ou nenhum' efeito na mortalidade por Covid-19, mostra estudo.
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Três pacientes contaminados com o novo coronavírus morreram na França de possíveis efeitos colaterais graves de um coquetel de medicamentos à base de hidroxicloroquina, molécula submetida atualmente a testes clínicos para verificar a eficácia contra a Covid-19. As autoridades sanitárias francesas alertam contra os riscos da automedicação.

Os hospitais franceses registraram nos últimos dias 30 casos de intoxicação, três deles fatais, em pacientes que tomaram a hidroxicloroquina, também conhecida pelo nome comercial de Reuquinol no Brasil, associada ao Kaletra, um antirretroviral composto das substâncias lopinavir e ritonavir. Na semana passada, o governo francês enquadrou o uso desses medicamentos nos hospitais.

 

O diretor da Agência Nacional de Segurança dos Medicamentos (ANSM), Dominique Martin, disse que análises estão em curso para apurar se esses eventos graves podem ser atribuídos à utilização dos tratamentos experimentais. A ANSM lançou, entretanto, um alerta pedindo aos franceses que evitem a automedicação. A agência também recomenda aos médicos de consultórios privados que não prescrevam essas drogas para pacientes infectados pelo novo coronavírus até a conclusão dos estudos científicos já iniciados.

Nas últimas duas semanas, a ANSM colocou sob “vigilância reforçada” os tratamentos experimentais contra a Covid-19, principalmente quando utilizados ​​fora de ensaios clínicos (cloroquina, hidroxicloroquina, azitromicina, lopinavir/ritonavir, tocilizumabe, colchicina). “É normal que os tratamentos sejam tentados, dadas as circunstâncias, mas isso não nos impede de exercer vigilância e farmacovigilância sobre esses produtos”, pondera Dominique Martin.

Distúrbios metabólicos da Covid-19 e interação com medicamentos

O diretor da ANSM diz que os estudos realizados pelo professor Didier Raoult, no Hospital Universitário de Marselha (sul), com o coquetel à base de hidroxicloroquina e o antibiótico azitromicina, merecem uma “atenção especial” das autoridades sanitárias. Raoult, um infectologista e microbiologista francês de reputação internacional, mas controverso por algumas posições no meio científico, defende a ampla prescrição desse tratamento em pacientes da Covid-19. Depois de ter realizado dois estudos experimentais em Marselha, ele afirma que a cloroquina “é eficaz” contra a nova pneumonia viral.

Porém, o diretor da ANSM destaca que a associação dessas duas drogas “potencializa o risco” de distúrbio do ritmo cardíaco, que pode levar a um infarto”, afirma Martin. E isso é “ainda mais verdadeiro em pacientes que sofrem da Covid-19″, devido a distúrbios metabólicos específicos dessa doença”, insiste o especialista da ANSM.

O relato dessas mortes e de efeitos colaterais graves é mais uma reviravolta na controvérsia global em torno da cloroquina. O farmacêutico de um grande hospital universitário francês, associado ao centro de farmacovigilância em sua região, havia lançado desde sexta-feira (27) uma advertência sobre os casos de acidentes cardíacos fatais.

No domingo (28), a agência regional de saúde da Nova-Aquitânia (oeste) informou que “casos de toxicidade cardíaca foram relatados na região após a automedicação com o Reuquinol diante de sintomas sugestivos da Covid-19, às vezes exigindo hospitalização em terapia intensiva”.

Evitar sair de casa continua sendo o melhor método de prevenção contra a doença, segundo especialistas.

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