Saúde

Covid-19: Abolir máscaras em locais fechados é prematuro, defendem especialistas

Além de variantes e subvariantes em circulação, o País tem apenas 33,2% de sua população vacinada com a dose de reforço

Gonzalo Vecina e Margareth Dalcomo: "Quem tem me perguntado sobre a liberação do uso de máscaras em ambientes fechados, como escritórios, academias, tenho tido uma posição consistente, tem que usar", reforça ela
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O País vive um momento de flexibilização do uso das máscaras. Pelo menos 15 estados e seis capitais já flexibilizaram o uso da proteção em lugares abertos, quando não a desobrigaram até em locais fechados.

Em nove estados, a obrigação caiu por terra: Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Alagoas, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Roraima, Acre e Distrito Federal, sendo a proteção exigida apenas em transportes públicos e unidades de saúde. Amazonas, Maranhão, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul dispensaram o uso apenas em locais abertos. Minas Gerais, Espírito Santo e Goiás também recomendaram a liberação, mas só para municípios dentro de suas unidades federativas que tenham atingido taxas de vacinação satisfatórias.

Entre as capitais, São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Florianópolis, Natal, e Maceió já permitem que a população fique sem a proteção em locais abertos e fechados. Outras dez capitais já liberaram a obrigatoriedade do uso de máscaras em locais abertos, mas ainda mantêm em lugares fechados. São elas: Belo Horizonte, Boa Vista, Campo Grande, Curitiba, Macapá, Manaus, Porto Alegre, São Luís, Porto Velho e Teresina.

Especialistas ouvidos por CartaCapital concordam com a liberação do acessório ao ar livre, mas são unânimes em dizer que a retirada da proteção em locais fechados é ‘precoce’. Principalmente por conta do desigual cenário vacinal no País. Apenas 33,2% dos brasileiros conta com o ciclo vacinal completo mais a dose de reforço. O percentual de pessoas que tomou ao menos uma dose da vacina é de 83,6%.

Para Margareth Dalcolmo, pneumologista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz, esses números mostram que ainda não se tem a segurança necessária.

“Estamos falando de apenas um terço da população vacinada com a dose de reforço”, lamenta, lembrando que a Ômicron e outras variantes derivadas dela só respondem em termos de proteção com três doses da vacina.

A essa altura, avalia ela, o País deveria estar mais preocupado em vacinar as pessoas que não tomaram a segunda e terceira dose, além de garantir a imunização às crianças, freando a disseminação do vírus.

“Quem tem me perguntado sobre a liberação do uso de máscaras em ambientes fechados, como escritórios, academias, tenho tido uma posição consistente, tem que usar”, reforça. “O mesmo vale para as escolas, é preciso usar máscaras nas salas de aula.”

A disparidade da vacinação entre os estados também preocupa Gonzalo Vecina, sanitarista e fundador da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa. São Paulo, por exemplo tem 83,1% de sua população com as duas doses da vacina. Nas demais unidades da federação, pondera, o cenário pode ser preocupante: no Acre, por exemplo, o percentual é de 56,27%. “São Paulo, em certa medida, fez a lição de casa”, elogia.

Variantes também colocam em xeque a decisão

A falta de informações sobre os impactos das variantes em circulação no País também pesa contra a liberação total. O Brasil, alertam Dalcomo e Vecina, não está imune a novos surtos localizados da doença. O aumento de casos em países da Ásia e Europa deve servir de alerta.

Vecina alerta para a subvariante BA.2, da Ômicron, identificada pela Fiocruz no início de fevereiro. O Ministério da Saúde disse ter recebido a notificação de sete possíveis casos da linhagem no Brasil, incluindo outros três casos no estado de São Paulo e um no Rio de Janeiro.

Se a variante BA.1, que causou uma avalanche de casos, não proteger contra a BA.2, Vecina vê riscos de o país voltar a este cenário. “Nós ainda não sabemos quantos casos já são derivados dessa subvariante, mas ela é potencialmente perigosa. A BA.1 protege contra a BA.2? Essa pergunta é muito crítica. Se não, teremos que voltar correndo para a máscara”.

Dalcolmo também cita a variante Deltacron, uma recombinação genética das variantes Ômicron e Delta.”Nada indica que ela seja mais letal ou transmissível do que a Ômicron, mas também não é melhor. Ou seja, vai exigir três doses para que possamos fazer um controle de casos graves e hospitalizações.”

Ainda não há a confirmação de infecções pela nova cepa no País, mas a Fundação Oswaldo Cruz atua com análises clínicas diante um caso suspeito.

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