Saúde

A maconha na gravidez: o que se sabe (e não se sabe) até agora

Uma das consequências mais nefastas da guerra às drogas é a falta de estudos sobre as sequelas do uso crônico na saúde humana

Foto: Free-Photos/Pixabay
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Da erva considerada maldita, que o preconceito social dizia ser consumida apenas por negros escravos e marginais, da época do Império, ela chegou à contracultura nos anos 1960 e imiscuiu-se em todas as camadas sociais. Uma das consequências mais nefastas da guerra às drogas é a falta de estudos sobre as sequelas do uso crônico na saúde humana. Por exemplo, enquanto conhecemos razoavelmente bem os efeitos deletérios do fumo e do álcool, drogas lícitas, no desenvolvimento fetal, o uso de maconha durante a gravidez é cercado de ignorância.

Daniel Corsi e colaboradores acabam de publicar no Journal of the American Medical Association (Jama) um estudo que analisou os dados contidos no Ontario Better Outcomes Registry & Network. Foram avaliadas 667 mil mulheres canadenses que deram à luz um bebê com pelo menos 20 semanas de gestação, no período de abril de 2012 a dezembro de 2017.

O tratamento estatístico ficou concentrado em 5.539 mulheres que fumaram maconha durante a gravidez e 98.500 que não o fizeram nesse período (grupo controle).

  1. A maconha na gravidez aumentou o número de partos prematuros: 10,2% entre as fumantes ante 7,2% entre as que não fumaram.
  2. O número de casos de descolamento prematuro de placenta aumentou de 4% no grupo controle, para 6,1% no grupo das que fumaram.
  3. Dos bebês nascidos no grupo controle, 13,8% precisaram de internação em UTIs logo após o parto. No grupo das que fumaram durante a gestação foram 19,3%.
  4.  Os bebês de mulheres que usaram maconha na gestação apresentaram índices de adaptação à vida extrauterina, medidos cinco minutos depois do parto (Apgar), 28% mais baixo.

Por outro lado, entre as grávidas que fizeram uso de cannabis houve 10% de redução nos casos de pré-eclâmpsia e de 9% nos casos de diabetes gestacional.

Foto: SeaweedJeezus/Pixabay

O aumento do consumo de maconha no sexo feminino tem sido bem documentado em vários países. Um inquérito epidemiológico, publicado nos Estados Unidos pelo Substance Abuse and Mental Health Services Administration, avaliou o uso entre 467 mil mulheres de 12 a 44 anos, no período de 2002 a 2017.

Nos anos de 2002 e 2003, haviam fumado maconha nos últimos 30 dias 3,4% das mulheres americanas. Entre as que se encontravam no primeiro trimestre da gravidez a prevalência foi mais alta: 5,7%. Em 2017, tinham fumado no mês anterior 7% das americanas. Das que estavam no primeiro trimestre da gestação, 12,1%.

Portanto, no período de 15 anos, o número das que fumaram no mês anterior duplicou na população de 12 a 44 anos, bem como duplicou o número das que o fizeram durante o primeiro trimestre, a fase em que o desenvolvimento fetal é mais sensível às agressões externas.

As mulheres fumam maconha na gravidez em busca da sensação de relaxamento, alívio das náuseas ou porque são dependentes que não conseguem evitar o uso frequente. É importante saber que, pelo menos no primeiro trimestre, o uso é provavelmente inseguro.

“As migrações. A fuga dos estados tediosos”
– Oswald de Andrade

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