Educação

Universidade alemã desmente que ministro da Educação tenha concluído pós-doutorado

Carlos Decotelli já teve o doutorado não reconhecido por universidade argentina e ainda é acusado de plágio em sua tese de mestrado

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A Universidade de Wüppertal, no oeste da Alemanha, negou que o ministro da Educação, Carlos Decotelle, tenha um certificado de pós-doutor pela instituição, conforme anunciado pelo presidente Jair Bolsonaro no momento de sua nomeação.

“Carlos Decotelli não obteve nenhum título na nossa universidade”, afirmou a responsável pela comunicação da Bergische Universität Wüppertal (BUW), Jasmine Ait-Djoudi, em nota enviada ao O Globo.

A instituição esclareceu que o ministro conduziu pesquisas na universidade por um período de três meses em 2016, mas não concluiu nenhum programa de pós-doutorado, que, na Alemanha, dura de dois a quatro anos.

No currículo de Carlos Decotelli na plataforma Lattes consta o título de pós-doutorado, na Universidade de Wuppertal, na Alemanha, pelo período de 2015 a 2017.

Doutorado em xeque

Três dias após ser anunciado como ministro da Educação, Carlos Decotelli ainda enfrenta polêmicas em relação ao seu currículo acadêmico. A primeira se refere ao título de doutorado até então sustentado pelo novo ministro da Educação, e chancelado pelo presidente Jair Bolsonaro, mas não reconhecido pela Universidade de Rosário na Argentina.

Após o presidente anunciar a chegada de Decotelli e explanar seu currículo em um post nas redes sociais, o atual reitor da universidade argentina desmentiu que Decotelli tenha a titulação de doutor.

O Ministério da Educação chegou a reafirmar, em nota, a titulação de Decotteli, encaminhando um certificado que mostra o cumprimento dos créditos de doutorado. No entanto, em entrevista ao El País, o reitor afirmou que Carlos Decotelli foi reprovado no exame de qualificação da banca de doutorado na Universidade Nacional de Rosário e por isso não tem o diploma do curso, contrariando o que afirmava em seu currículo. “Ele apresentou uma versão escrita que foi julgada desfavoravelmente pelo júri e, portanto, não pôde fazer sua defesa oral”, disse.

O reitor da Universidade de Rosário também falou sobre a certificação à reportagem do El País. “Esse certificado confirma o que dissemos. Ele cursou o doutorado, mas não o concluiu. Falta aprovar a tese, que é a instância final para acessar o título de Doutor, portanto não é um Doutor da UNR”.

Após o caso, Decotteli editou o seu currículo na plataforma Lattes. Agora, no campo título, cita apenas “créditos concluídos” em 2009 e retirou o nome da tese “Gestão de Riscos na Modelagem dos Preços da Soja”. Também não aparece mais o nome do orientador Dr. Antonio de Araujo Freitas Jr. No campo dedicado a esta informação consta “sem defesa de tese”.

Suspeitas de plágio no mestrado

O ministro ainda é acusado de cometer plágios em sua tese de mestrado defendida em 2008 pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

A polêmica surgiu depois que o doutor em economia Thomas Conti publicou em suas redes sociais  uma análise feita a partir da tese de mestrado defendida por Decotelli. Na tese, Conti encontrou trechos idênticos ao de um relatório publicado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), publicado em 2007, sem que fossem dados os devidos créditos ao material original.

Depois, com o uso de um site verificador de plágio que comparou os dois textos, Conti encontrou 4200 palavras idênticas, o que significa mais de 10% da tese de mestrado.

O pesquisador ainda levanta casos em que Decotelli cita trechos de outros artigos acadêmicos, sem citar seus autores, caso de um escrito por Clóvis L. Machado-da-Silva e coautores, em 1998; e o artigo “A Abordagem Institucional na Administração” de Alexandre Rosa e Cláudia Coser, de 2004.

Defendida em 2008, a tese de mestrado de Decotelli teve o título “Banrisul do Proes ao IPO Com Governança Corporativa” e teve como orientador o professor Dr.Luis César Gonçalves.

O ministro negou as acusações em nota encaminhada pelo Ministério da Educação.

“O ministro refuta as alegações de dolo, informa que o trabalho foi aprovado pela instituição de ensino e que procurou creditar todos os pesquisadores e autores que serviram de referência e cujo conhecimento contribuiu sobremaneira para enriquecer seu trabalho. O ministro destaca que, caso tenha cometido quaisquer omissões, estas se deveram a falhas técnicas ou metodológicas”, declarou.

A FGV afirmou que vai apurar a denúncia e que está localizando o orientador do trabalho para buscar informações.

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