Política

‘Todo mundo pode errar. Eu mesmo já errei e me desculpei’, diz Bolsonaro, sobre associar vacina à Aids

Presidente culpou revista por disseminar informação falsa sobre a vacina contra a Covid-19: ‘Desfeita a polêmica’

Presidente da República tenta se justificar por fake news sobre vacina e Aids. Foto: Reprodução
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Em um nova tentativa de se justificar por disseminar desinformação, o presidente Jair Bolsonaro negou que a associação da vacina à Aids tenha sido fake news da sua parte, mas sim, uma “reprodução de matérias publicadas em revista científica”.

 

O ex-capitão voltou à polêmica nesta quinta-feira 28, uma semana após sugerir, em live de 21 de outubro, que o imunizante contra a Covid-19 poderia colaborar para o desenvolvimento da síndrome de imunodeficiência adquirida. A ligação, segundo ele, estava baseada em uma publicação da revista Exame, de 20 de outubro de 2020, que abordava estudos científicos sobre o tema.

Em rápida transmissão ao vivo, antes de viajar para a Itália, Bolsonaro disse que deu o caso por encerrado e voltou a citar a revista Exame.

“Não vou discutir o assunto, chega de polêmica”, disse o presidente. “Eu quero elogiar a revista Exame agora. Eu falei sobre um estudo científico sobre vacina e HIV. Dois dias depois, a Exame fez uma matéria falando que eu estava divulgando fake news. Bem, depois foi visto que no ano passado a Exame fez exatamente uma matéria como eu tinha falado.”

Bolsonaro prosseguiu: “Dois dias depois da minha live, a Exame falou que a comunidade científica estava insatisfeita comigo. Agora, a Exame reconhece que fizeram matéria semelhante no ano passado, e não foi nenhum fake news da minha parte. Foi uma reprodução de matérias publicadas em revista científica.”

Na sequência, Bolsonaro parabenizou a revista por publicar a matéria Entenda a confusão entre a ligação da vacina contra Covid-19 e HIV, na noite da quarta-feira 27. No texto, a Exame disse que havia repercutido um artigo do jornal científico The Lancet sobre a relação de um tipo específico de adenovírus e o desenvolvimento de vacinas contra a Covid-19.

Segundo reporta a Exame, os pesquisadores observaram que “algumas vacinas que usam um adenovírus específico no combate ao vírus SARS-CoV-2 podem aumentar o risco de que pacientes sejam infectados com HIV, o vírus da Aids”. O estudo relatou ainda que “a infecção por HIV pode ser facilitada caso o paciente vacinado tenha recebido uma dose contendo o adenovírus de número 5 (Ad5).

Porém, a Exame declara que os pesquisadores não haviam se baseado em vacinas contra a Covid, mas em análises feitas em 2007 que usavam o Ad5 na busca por uma vacina contra o HIV. Além disso, salienta a matéria, apesar do alerta, nenhuma ligação entre as vacinas contra a Covid-19 e o desenvolvimento de Aids foi reportada pelos grupos que desenvolveram as vacinas.

Na 1ª versão da matéria da revista Exame sobre o tema, a revista havia pontuado também que os cientistas alertavam para riscos se caso o tal adenovírus fosse utilizado nos imunizantes. No entanto, o adenovírus em questão compõe apenas a 2ª dose da vacina Sputnik V e a CanSino, que não são aplicadas no Brasil.

O título da publicação chegou a ser alterado depois do escândalo: no lugar de Algumas vacinas contra a Covid-19 podem aumentar o risco de HIV, o veículo colocou Out/2020: Algumas vacinas contra a Covid-19 podem aumentar o risco de HIV?, acrescentando, portanto, a data da matéria e um ponto de interrogação.

“Parabéns à revista Exame aí, é coisa rara na imprensa brasileira corrigir uma matéria. Todo mundo pode errar. Eu mesmo já errei e me desculpei”, declarou Bolsonaro. “Então, desfeita a polêmica. E por causa disso, no relatório da CPI, entrou um pedido da Comissão para que todas as minhas mídias sociais venham a ser bloqueadas. Bem, resumido o assunto, mais uma vez parabéns à revista Exame.”

A associação feita por Bolsonaro foi criticada de forma ferrenha por parlamentares, que julgaram as declarações como irresponsáveis. Em ampla reação, estudiosos ressaltaram que nenhuma vacina, e não só as que protegem contra a Covid, implicam no desenvolvimento da síndrome de imunodeficiência adquirida.

Em nota, o Conselho Federal de Medicina desmentiu a informação falsa e incentivou a campanha de vacinação: “o CFM desconhece a existência de estudos científicos válidos que associem a imunização ao surgimento da síndrome de imunodeficiência humana adquirida”, declarou a entidade.

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