Política

Temos 19 dias para conseguir votar para presidente em novas eleições

Caso Michel Temer não saia do cargo até 31 de dezembro, só poderemos sonhar com uma democracia em outubro de 2018

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Vira e mexe eu recebo e-mails com títulos como “temos 24 horas para salvar as baleias”. Geralmente, essas correntes parecem bem intencionadas, mas com impacto bastante incerto.

Afinal, um abaixo-assinado online com prazo de validade beirando o desespero seria mesmo capaz de influenciar o governo de um determinado país a, por exemplo, não construir uma termelétrica que irá afetar os tigres de bengala?

Bem, mas é com uma carga enorme de incerteza que, inspirada por essas correspondências duvidosas, quero reforçar aqui um desses apelos temporais extremos: temos apenas 19 dias para conseguir votar para presidente. Sim, 19 dias.

Se Michel Temer não sair do cargo ao qual foi alçado pelo complô golpista até 31 de dezembro de 2016, só poderemos sonhar com ter qualquer coisa parecida com um ensaio de democracia no país em outubro de 2018 – e torcendo para que essa data continue existindo.

Afinal, como boa parte das pessoas que foram às ruas contra o impeachment de Dilma Rousseff já sabia e como os jornais de hoje começam a mostrar, é bastante possível que Temer não chegue até o final do mandato.

Além de ilegítimo, sua popularidade segue em queda brusca e a cada dia aumentam os tentáculos das denúncias de corrupção da Lava Jato sobre o PMDB e seus aliados, com a temida lista da Odebrecht.

A questão-chave agora, nesse turbilhão de emoções em que estamos desde 2014, é que, passado o ano novo, não se pode mais convocar um novo pleito. Caso Temer caia, seu sucessor será escolhido pelo poder Legislativo.

Sim, aquele mesmo que vota por interesses próprios e que de representativo do conjunto da população brasileira tem muito pouco. Aquele mesmo que votou a PEC 241/55, a do teto dos gastos públicos, no mesmo dia da queda do avião da Chapecoense, aproveitando-se da consternação que tomou conta do país.

Temos, portanto, 19 dias para evitar que isso ocorra. Só que obviamente não será suficiente clicar na mensagem e colocar lá o seu nome – como também não o é no caso de usinas e animais em extinção: é preciso mais.

Haverá atos, convocados pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, que desde o início estiveram ao lado da defesa da democracia. Aqui em Salvador será terça-feira 13. Eu estarei lá.

Até seria coerente que aqueles verde-amarelos que se diziam nas ruas contra a corrupção – e não tomados pelo sentimento antipetista – convergissem nesse ponto e participassem dessas ações. Uma parte deles tem se manifestado, mas seletivamente.

Contudo, o caminho traçado para esse grupo heterogêneo é outro: o discurso será que a crise política é grave, mas que o país não pode ser mergulhado no caos – como se já não estivesse caótico desde 1500 –, e que é preciso garantir o funcionamento das instituições – argumento já explicitado para acochambrar o caso Renan.

A pressão por essa via será tremenda. Possivelmente veremos os meios de comunicação hegemônicos martelando a inviabilidade de Temer junto com o risco de desgoverno, o que poderia causar um paradoxo.

Criticarão os corruptos, mas garantirão que o presidente não caia até chegue 2017 e se eleja um novo, pelas mãos dos tão questionáveis congressistas.

Por trás dessa movimentação, a expectativa de que é preciso algum tipo de depuração para que tudo continue como está. Os de cima em cima, os de baixo, embaixo.

Aí entra uma outra questão, que é sensível também a uma parte daquelxs que foram contrários ao impeachment, já confortavelmente acostumados apenas à disputa da institucionalidade: no fundo, concordariam com os verde-amarelos de que faltar-nos-iam lideranças para conduzir a sociedade nesses tempos tão inóspitos.

Nos restariam alternativas – seriam mesmo? – que podem ser contadas nos dedos, e olhe lá. Os processos do Ministério Público contra Lula que o digam. A depender de como esses desdobramentos ocorressem, eleições agora seriam motivo não de alegria, mas de pânico. Colocar quem lá?

Esse, porém, é o momento em que a defesa de democracia não pode ser sinônimo de manter estas instituições da maneira como estão e nem apenas com os nomes já conhecidos. Pelo contrário: é preciso questioná-las, problematizá-las, no sentido de sua radicalização.

É somente quando calibrarmos nossos olhares de outra maneira que conseguiremos enxergar novos sujeitos, que podem participar da construção da democracia de outra maneira. E de outra democracia.

Gosto muito da palavra de ordem da Frente Povo Sem Medo: “povo sem medo / sem medo de lutar”. As incertezas não podem nos paralisar.

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