Política
Santos Cruz critica governo Bolsonaro: “Um show de besteiras”
Demitido da Secretaria de Governo, o general do Exército reclamou à revista Época sobre ‘fofocagem desgraçada’
Recém-demitido da Secretaria de Governo da Presidência da República, o general Carlos Alberto Santos Cruz classificou a gestão de Jair Bolsonaro (PSL) como “um show de besteiras”. O militar fez o comentário em entrevista à revista Época. Para Santos Cruz, o atual governo perde tempo com “bobagens”, em vez de priorizar questões relevantes para o país.
“Tem de aproveitar essa oportunidade para tirar a fumaça da frente para o público enxergar as coisas boas, e não uma fofocagem desgraçada. Se você fizer uma análise das bobagens que se têm vivido, é um negócio impressionante. É um show de besteiras”, disse o general, segundo trecho divulgado pela revista. “Isso tira o foco daquilo que é importante. Tem muita besteira. Tem muita coisa importante que acaba não aparecendo porque todo dia tem uma bobagem ou outra para distrair a população, tirando a atenção das coisas importantes. Tem de parar de criar coisas artificiais que tiram o foco. Todo mundo tem de tomar consciência de que é preciso parar com bobagem”.
O ex-ministro também comentou ao veículo sobre os ataques que recebeu nas redes sociais e reprovou o que chama de “guerra de baixarias”. Durante sua gestão na pasta, Santos Cruz foi publicamente criticado pelo vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente, e pelo escritor e guru bolsonarista Olavo de Carvalho.
“Não é porque você tem liberdade e mecanismos de expressão, Twitter, Facebook, que você pode dizer o que bem entende, criando situações que atrapalham o governo ou ofendem a pessoa. Você discordar de métodos de trabalho é normal, até publicamente. Discordâncias são normais, de modo de pensar, modo de administrar, modo de fazer política, de fazer coordenação. Mas, atacar as pessoas em sua intimidade, isso acaba virando uma guerra de baixarias”, afirmou.
Uma das ofensas declaradas a Santos Cruz foi feita pelo Twitter de Olavo de Carvalho, na última quarta 19. O escritor disse que não aceitaria dinheiro para trabalhar com o militar. Antes da demissão, no dia 4 de maio, Carvalho chegou a dizer que o general não tem “capacidade para ler e analisar sua filosofia” e o acusou de fazer fofocas pelas costas. Bolsonaro não endossou nenhuma defesa ao líder do Exército. À Folha de S. Paulo, Santos Cruz afirmou: “Eu nunca me interessei pelas ideias desse sr. Olavo de Carvalho”.
Aposentado há quase vinte anos, de tal maneira odeio grana estatal que nunca fui buscar o dinheiro que me é devido por lei. Dá uns quatrocentos mil. Imaginem, então, se eu aceitaria 320 pelo prazer de trabalhar com o Santis Cruz?
— Olavo de Carvalho (@opropriolavo) June 19, 2019
Vocês acham que o Santos Cruz tem capacidade para ler e analisar uma só página da minha filosofia? O que ele tem, sim, é a capacidade de fofocar e difamar pelas costas.
— Olavo de Carvalho (@opropriolavo) May 4, 2019
Terceiro ministro a cair
Anunciada na quinta-feira 13, a demissão de Santos Cruz foi a primeira baixa de um militar no corpo ministerial de Bolsonaro. Quem ocupa o cargo agora é o general Luiz Eduardo Ramos, comandante militar do Sudeste. O substituto fez passagem no Comando da 11ª Região Militar, em Brasília (DF) e na 1ª Divisão do Exército, no Rio de Janeiro (RJ)
Em menos de 6 meses de governo, três ministros caíram. Antes de Santos Cruz, foram derrubados Gustavo Bebianno, da Secretaria-Geral da Presidência, e Ricardo Vélez, do Ministério da Educação.
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