Política

Russomanno foi o maior perdedor em último debate, dizem especialistas

Candidato bolsonarista foi o que mais se prejudicou em confronto com adversários na televisão

O candidato Celso Russomanno (Republicanos). Foto: Reprodução/YouTube
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Apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro, o candidato Celso Russomanno (Republicanos) teve o pior desempenho no último debate entre os postulantes ao cargo de prefeito de São Paulo, exibido na quinta-feira 12, pela TV Cultura. Esta é a opinião de especialistas ouvidos por CartaCapital. Líder nas pesquisas de intenção de voto no início da campanha, Russomanno está derretido e disputa com Guilherme Boulos (PSOL) e Márcio França (PSB) um lugar no 2º turno contra Bruno Covas (PSDB).

Um dos momentos mais difíceis para Russomanno foi a invertida que levou de Jilmar Tatto (PT). O republicano havia ironizado a saída de Marina Silva, Martha Suplicy e Luiza Erundina do PT e perguntou: “Você não tem medo de perder o Lula para o Boulos, não?”. O petista rebateu: “Me parece que quem é campeão de perder em São Paulo é você, meu irmão. Você se toca, meu filho. Você perde todas.”

Russomanno também foi chamado de “cara de pau” e “sem vergonha” por Boulos, porque repetiu acusações veiculadas por um blogueiro sobre suposto uso de empresas fantasmas por parte do candidato do PSOL. A própria Justiça Eleitoral já mandou tirar essas acusações do ar, por julgar que o conteúdo é inverídico.

“Me admira muito a sua cara de pau”, disse Boulos. “Você fez uma acusação leviana de um suposto jornalista que foi preso pela Polícia Federal a mando do Supremo, porque faz parte do gabinete do ódio. Você se aliou com ele para inventar uma mentira a meu respeito. O vídeo foi retirado do ar, justamente por ser mentira, e você traz isso aqui novamente.”

Doutor em Ciência Política e professor na Fundação Escola de Sociologia e Política (FESPSP), Aldo Fornazieri afirma que não houve alguém vitorioso no debate, mas o perdedor foi Russomanno.

“O debate não teve um vencedor evidente. Mas teve um perdedor evidente: Celso Russomano. Ele era a imagem da derrota, da falta de convicção, da inexpressividade, da falta de energia. Russomano foi o que mais apanhou”, avalia o professor.

Alexsandro Santos, doutor em Educação e pesquisador do Núcleo de Estudos da Burocracia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), crê que Russomanno “desceu alguns degraus” ao voltar à tática de colocar Boulos sob suspeita de usar recursos públicos de forma indevida.

“Russomano também desceu alguns degraus insistindo em repetir a estratégia de colocar sob suspeita o uso dos recursos públicos da campanha eleitoral pela candidatura de Boulos, repercutindo vídeo de denúncia feita por um dos investigados de inquérito liderado pelo STF”, considerou.

Na mesma linha, Fábio Gomes, cientista social e diretor do Instituto Informa, especializado em comunicação política, disse que, do ponto de vista estratégico, “Russomanno deixou de lado a oportunidade de ocupar seus espaços”.

“Russomanno parece ter esquecido de algo mais territorial, e também se esqueceu de apresentar de forma mais eficaz os argumentos que podem apresentá-lo como alguém preparado para cuidar de onde ele é mais forte”, observou.

Progressistas falharam?

Fornazieri e Gomes concordam que houve falhas dos candidatos do campo progressista.

Para Fornazieri, Boulos, França e Tatto faltaram com uma oposição mais forte contra Bruno Covas, que pode ir ao 2º turno com larga faixa de vantagem.

“Isto era evidente desde o início da campanha. Um desses três candidatos tinha que ter se proposto a ser o anti-Covas desde o inicio da campanha. Isto não ocorreu e foi um erro dos candidatos progressistas”, afirmou o professor.

Algo similar é dito por Gomes.

Com a garantia do 2º turno para o Covas, os candidatos progressistas se encontraram em um embate triplo por uma vaga. Para Gomes, em termos de estratégia, os três “pecaram algumas vezes”, primeiro porque não teriam se atentado à briga  que teriam de travar entre eles mesmos, e segundo que acabaram afastando-se do voto popular, especialmente nas regiões onde Russomanno é mais forte.

Já Alexsandro Santos diz acreditar que Boulos “lidou bem” com o lugar de adversário de Covas no próximo turno.

“Continuou com pés no chão e seguiu construindo uma postura de abertura para além do campo ideológico da esquerda mais radical e aproximando seu discurso do centro democrático”, observou.

Os problemas do formato e dos candidatos

Para Fornazieri, o debate acabou sendo “fraco” porque foi dispersivo. Ele atribuiu o problema ao excesso de candidatos e à falta de focos temáticos. Sem centralidade, o formato não ajuda, diz ele, porque a burocracia e a sucessão do mesmo esquema de respostas deixa a discussão monótona.

O especialista também culpou os programas de governo dos candidatos, que para eles são elaboradas com propostas “frágeis”.

“O resumo dos programas e das propostas pode ser definido assim: ‘mais do mesmo’. Mais disso que está aí, mais do que já foi proposto em outras campanhas”, disse o professor. “O mais do mesmo não serve mais para a saúde.”

Alexsandro Santos também viu problemas no formato. Para o professor, a quantidade geral de participantes foi um desafio para o ritmo das perguntas e respostas.

“Dificultou o ritmo e trouxe pouco dinamismo ao programa”, afirmou.

Para ele, também houve irresponsabilidade por parte do candidato Arthur do Val (Patriota), ao mobilizar um “discurso antissistema e cheio de ambiguidades”.

“Demonstrou irresponsabilidade com o debate público e explicitou que não deve, de fato, ser levado em consideração por quem tem bom senso e preza pela qualidade da democracia”, declarou.

O especialista pontuou ainda que Joice Hasselmann (PSL) e Marina Helou (Rede) “ocuparam lugar coadjuvante, cada uma a seu modo”.

Quem se saiu bem

Para Gomes, Boulos e França aproveitaram mais as referências territoriais das suas propostas. Mas é em Covas, Tatto e Andrea Matarazzo (PSD) que ele viu uma discussão maior acerca dos “problemas macro” da cidade, com proposições mais bem fundamentadas.

Covas acertou em focar na prestação de contas de seu mandato como prefeito, afirma o especialista, enquanto Tatto relembrou seu legado como secretário da gestão de Fernando Haddad (PT). “Tatto valeu-se da experiência e usou muito esse argumento em suas proposições”, observou.

No caso das bandeiras de equidade de gênero e raça, Gomes dá destaque para Boulos, Marina Helou (Rede) e Orlando Silva (PCdoB).

Para Alexsandro Santos, Orlando Silva apresentou um “lado mais luminoso”, de forma mais consistente.

“Demonstrou conhecer a cidade e ter propostas bem construídas para os seus principais desafios. Fez duas perguntas fundamentais aos seus adversários: a primeira, sobre a reforma da previdência municipal, e a segunda, sobre políticas de enfrentamento ao racismo”, observou.

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