Política

Relembre momentos em que Araújo provocou crises diplomáticas com a China

Ex-chanceler afirmou na CPI da Covid que nunca fez ataques ao país asiático

CHANCELER ERNESTO ARAÚJO. FOTO: JOSÉ CRUZ/AGÊNCIA BRASIL
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O ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo, em depoimento à CPI da Covid no Senado Federal nesta terça-feira 18, afirmou que nunca proferiu nenhum ataque à China.

“Jamais promovi nenhum atrito com a China, seja antes, seja durante a pandemia”, declarou. “Não era uma política de alinhamento automático com os EUA, nem uma política de enfrentamento com a China”, acrescentou.

Na prática, no entanto, o ex-chanceler sempre foi um crítico ao país asiático e chegou por diversas vezes ofender o principal parceiro comercial do Brasil.

Ainda em campanha

O presidente Jair Bolsonaro e o então ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Foto: Agência Brasil

Araújo é um seguidor de Olavo de Carvalho e fazia parte da ala mais radical do governo. Ligado a pautas de extrema-direita, ele sempre defendeu o presidente Jair Bolsonaro e fez parte de sua campanha eleitoral de 2018.

Naquela época, Bolsonaro já criava problemas com a China.  Em março de 2018, o pré-candidato à presidência da República visitou a ilha de Taiwan, território autônomo considerado pela China uma província rebelde.

O tour pela Ásia, feito com os filhos, gerou reação da embaixada chinesa em Brasília, que, em uma carta, afirmou ver a visita com “profunda preocupação e indignação”.

Alguns meses depois, Bolsonaro criticou a relação comercial entre o Brasil e a nação asiática, acusando a China de estar tentando “comprar oBrasil e não do Brasil”.

‘Comunavírus’

Foto: Reprodução

Em novembro de 2019, surgiu na China um novo vírus que meses depois colocaria o mundo em alerta vermelho. O coronavírus foi identificado pela primeira vez na cidade de Wuhan.
Em abril de 2020, um mês após o primeiro caso de Covid-19 ser confirmado no Brasil, Araújo escreveu um artigo para seu site no qual denunciava um “plano comunista” que iria tirar proveito da pandemia de Covid-19 para implementar sua ideologia por meio de organismos internacionais, como a Organização Mundial da Saúde.
O ex-chanceler fez comentários sobre um livro de Slavoj Zizek, segundo o qual a pandemia representa “uma imensa oportunidade de construir uma ordem mundial sem nações e sem liberdade”.

Em redes bolsonaristas crescia as teorias conspiratórias de que a China criou o vírus em laboratório para criar uma dominação mundial. Por isso, por diversas vezes, o próprio presente Jair Bolsonaro e seus seguidores se referiam ao coronavírus como ‘vírus chinês’.

Em defesa de Eduardo Bolsonaro’

 

Ernesto Araújo e Eduardo Bolsonaro. Foto: Arthur Max/Ministério das Relações Exteriores

O filho 03 do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL/SP), tornou-se um assessor informal do ministério das Relações Exteriores. Muito ligado a Araújo, Eduardo também criou conflitos com a China.

Logo no início da pandemia, Eduardo comparou o momento com Chernobyl e disse que a China orquestrava um plano de dominação mundial do comunismo.

As acusações foram imediatamente repudiadas pela embaixada da China no Brasil.

Mesmo pressionado,  Araújo não se pronunciou sobre o assunto, o que foi entendido como o endosso a critica do deputado.

Reunião ministerial 

Na famosa reunião ministerial de 22 de abril, que foi divulgada após decisão do STF, ARAÚJO criticou os 30 últimos anos da globalização, por terem permitido a ascensão  da China como potência mundial.

No trecho da reunião, Araújo não chegou a mencionar a “China”, maior parceira comercial do Brasil, pelo nome, mas disse que hoje há um país não democrático que não respeita os direitos humanos no centro da economia mundial.

Usou o Itamaraty para criticar o país asiático 

Em novembro do ano passado, Araújo saiu mais uma vez em defesa do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que, nas redes sociais, havia associado o governo chinês à “espionagem” por meio da tecnologia 5G.

A China respondeu criticando a atitude do deputado e ameaçou o país com “consequências negativas”.

Naquela ocasião, o chanceler utilizou a estrutura do Itamaraty para defender o filho do presidente. O Itamaraty respondeu que “o tom e conteúdo ofensivo e desrespeitoso da (nota) prejudica a imagem da China junto à opinião pública brasileira”. Afirmou ainda que as redes sociais não eram ambiente adequado para troca de mensagens de autoridades dos dois países. Três dias depois, o próprio Araújo insinuou no Twitter que a China estava “tentando controlar o mundo” e que não conseguiria.

Bolsonaro chegou a elogiar o ministro pela iniciativa.

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