Justiça

Queiroz assume que fazia pagamentos para favorecer Flávio Bolsonaro

O ex-assessor do filho do presidente recolhia parte da remuneração dos servidores do gabinete para contratar colaboradores informais

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Um novo episódio no escândalo envolvendo o filho do presidente Jair Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), veio à tona nesta quinta-feira 28. O seu ex-assessor, enquanto ainda era deputado estadual do RJ, Fabrício Queiroz, contou que recolhia parte da remuneração dos servidores do gabinete para contratar colaboradores informais. A declaração está em uma carta enviada por Queiroz ao Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ).

Ele, no entanto, negou ter se apropriado dos valores. Queiroz diz que Flávio não sabia de sua atuação, mas que fazia isso para aumentar o número de assessores e, assim, aproximar Flávio de sua base eleitoral. A informação foi divulgada pelo jornal O Estado de S. Paulo.

O documento foi entregue ao MP-RJ na noite da quinta-feira. Nele, Queiroz conta que todo novo assessor de Flávio sabia antecipadamente que parte de seu salário deveria ser devolvida. “O peticionante entendeu que a melhor maneira de intensificar a atuação política seria a multiplicação dos assessores de base eleitoral, valendo-se, assim, da confiança e da autonomia que possuía para designar vários assistentes de base, a partir do gerenciamento financeiro dos valores que cada um destes recebia mensalmente”, diz o documento.

Queiroz não detalhou como ocorriam essas contratações e quantas pessoas teriam sido chamadas para trabalhar para Flávio. “Com a remuneração de apenas um assessor parlamentar, o peticionante conseguia designar alguns outros assessores para exercer a mesma função, expandindo, dessa forma, a atuação parlamentar do deputado”, declarou.

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Foi a primeira vez que Queiroz prestou esclarecimentos ao MP-RJ. Antes disso, ele não havia respondido a quatro convites para prestar depoimento, com alegações como a de que estava em tratamento de saúde.

Em depoimento ao Ministério Público do Rio, Agostinho Moraes da Silva, também ex-assessor de Flávio, admitiu que depositava cerca de dois terços de seu salário na conta de Queiroz todo mês.

COAF

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As suspeitas envolvendo Queiroz – e consequentemente Flávio – apareceram na imprensa no início de dezembro, após a eleição de Jair Bolsonaro, quando foi divulgado um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que detectou movimentações atípicas de uma série de assessores e ex-assessores de deputados da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro).

Na relação estava Fabrício Queiroz, que além de ter atuado como assessor de Flávio, também é amigo do presidente Jair Bolsonaro. De acordo com o relatório, Queiroz movimentou 1,2 milhão de reais entre janeiro de 2016 e o início de 2017, quando estava lotado no gabinete de Flávio – um valor incompatível com seu salário.

O documento apontou ainda que outros assessores do gabinete de Flávio faziam depósito regulares para Queiroz, sempre em datas próximas do dia de pagamento na Alerj. Os dados também apontaram que Queiroz fez um depósito de 24 mil reais na conta da primeira-dama, Michele Bolsonaro.

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O caso rapidamente despertou a suspeita de “pedágio” ou “rachadinha”, a prática de recolher parte dos salários de assessores, típica de parlamentares de baixo clero de assembleias e câmaras municipais Brasil afora. Com o relatório do Coaf em mãos, o MP-RJ passou a investigar se Queiroz guardava o dinheiro para si ou se entregava para o então deputado Flávio, hoje senador.

No período em que evitou prestar depoimento ao Ministério Público, Queiroz chegou a afirmar em uma entrevista amistosa ao SBT – canal que apoia o governo – que a movimentação era resultado de negócios de compra e venda de carros. “Eu sou um cara de negócios. Eu faço dinheiro, compro, revendo, compro, revendo, compro carro, revendo carro…”, disse ele, sem apresentar comprovantes ou registros dos automóveis.

Na semana passada, outro ex-assessor – que entregava 60% do seu salário para Queiroz – contou ao MP-RJ que fazia isso regularmente como forma de investimento. Ele disse que queria multiplicar o dinheiro no suposto esquema de compra e venda de carros. Investigadores afirmaram que a versão foi encarada como frágil e carente de comprovação.

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No depoimento prestado por escrito ao MP-RJ, Queiroz voltou a evocar parte da história da revenda de carros contada ao SBT e ainda ampliou o leque dos seus supostos negócios, que agora incluem a venda de eletrodomésticos, roupas, bicos como segurança e intermediação de imóveis.

“Todo e qualquer produto que pudesse lhe garantir uma renda extra”, diz a petição. Segundo o depoimento, a alta movimentação na sua conta bancária pode ser explicada tanto por esses negócios paralelos quanto por ele “ser pai de uma família grande”.

De acordo com essa versão, Queiroz contou que, por ser conservador, sempre insistiu “em administrar o essencial das finanças do seu núcleo familiar”. Dessa forma, também recebia em sua conta os salários de sua mulher e de seus filhos.

De acordo com os jornais O Estado de S. Paulo e O Globo, Flávio Bolsonaro não quis se pronunciar sobre o depoimento do ex-assessor.

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