Política

Pazuello confirma: Bolsonaro estava na reunião em que o governo decidiu não intervir na saúde do Amazonas

‘Essa decisão não era minha. Ela foi levada a reunião de ministros com o presidente’, disse o general

Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
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O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello confirmou, em depoimento à CPI da Covid nesta quinta-feira 20, que o presidente Jair Bolsonaro estava na reunião em que o governo resolveu não optar pela intervenção federal na saúde do Amazonas, em janeiro, durante a crise da falta de oxigênio nos hospitais do estado.

Questionado pelo senador Eduardo Braga (MDB-AL) sobre as razões pelas quais sua solicitação de intervenção federal não foi acolhida pela gestão federal, o general revelou um encontro de ministros e disse que não era o responsável por chancelar a proposta.

“Essa decisão não era minha. Ela foi levada a reunião de ministros com o presidente. E o governador, presente, se explicou, apresentou suas observações. E foi decidido pela não intervenção. Foi dessa forma que aconteceu”, declarou Pazuello. O pedido de intervenção federal foi apresentado por Braga em 15 de janeiro.

“O presidente da República estava presente. A decisão foi tomada nessa reunião”, completou o ex-ministro da Saúde, sem, no entanto, indicar a data do encontro.

Eduardo Braga diz ter enviado uma carta a Bolsonaro na qual solicitava a intervenção “para salvar vidas, diante do que nós estamos ouvindo aqui por parte do Ministro da Saúde, da falta de compromisso, da falta de competência, da falta de responsabilidade”.

“Deixou faltar oxigênio. Fecharam o hospital de campanha. E, lamentavelmente, não fui atendido”, apontou o senador.

Posteriormente, questionado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI, Pazuello reforçou que Bolsonaro estava na reunião.

Na quarta-feira 19, seu primeiro dia de depoimento à comissão, o general já havia sido questionado sobre diversos pontos relacionados à crise do oxigênio em Manaus. Um dos mais relevantes é a data em que o governo Bolsonaro tomou conhecimento da calamidade nos hospitais do estado.

Aos senadores, Pazuello alegou só ter sido informado no dia 10 de janeiro sobre a falta de oxigênio. Um ofício do Ministério da Saúde entretanto, contradiz o militar.

Uma nota técnica assinada pelo ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde Élcio Franco indica que, três dias antes, Pazuello já sabia do drama amazonense. “Esclareço que, na noite de 7 de janeiro de 2021, este Ministério tomou ciência de problemas relacionados ao abastecimento de oxigênio da rede de saúde do Amazonas”, diz o texto.

“Tratou-se de uma conversa informal entre o Secretário de Saúde do Estado do Amazonas e o Ministro da Saúde, naquela noite, por telefone, apenas e tão somente para solicitar apoio no transporte de 350 cilindros de oxigênio de Belém para Manaus”, acrescenta a nota técnica, que chegou à Câmara em 16 de março, como resposta a um requerimento protocolado pelo deputado José Ricardo (PT-AM).

Horas depois de afirmar que só tomou conhecimento da situação em Manaus no dia 10 de janeiro, Pazuello tornou a ser questionado sobre o tema, desta vez pelo presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM). O parlamentar lembrou o general de que ele havia sido avisado pelo secretário estadual de Saúde do Amazonas, Marcellus Camêlo, por telefone, três dias antes.

O general, entretanto, insistiu na afirmação de que o assunto não entrou em pauta na conversa.

“No dia 7 à noite, ele não me falou nada de colapso de oxigênio. Foi a solicitação de transporte, a logística de Belém para Manaus, que foi feita no dia 8 e 10”, disse o ex-ministro.

Pazuello ainda disse na CPI que seus “olhos estavam sobre Manaus” desde o dia 28 de dezembro. Segundo ele, após o secretário estadual lhe telefonar no dia 7 de janeiro para pedir ajuda no transporte de cilindros, ele contatou o Ministro da Defesa e pediu que o auxílio fosse prestado. Com isso, o transporte teria começado no dia 8 de janeiro.

“Em momento algum foi feita qualquer observação sobre colapso de oxigênio (antes do dia 10). No dia 8, determinei que fôssemos a Manaus, não pela falta de oxigênio, mas pelo colapso na rede de atendimento. Embarcamos no dia 10 e fui direto para a reunião”, completou.

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