Política

Para atacar Lula, Michelle Bolsonaro liga religiões afro-brasileiras a ‘trevas’

A primeira-dama, protagonista da campanha de Bolsonaro nas últimas semanas, usou um vídeo antigo do ex-presidente, publicado em 2021

Bolsonaro e Michelle, que luta - sem sucesso - para reverter a rejeição do ex-capitão entre as mulheres. Foto: Alan Santos/PR
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A primeira-dama Michelle Bolsonaro usou as redes sociais para endossar a alegação de que o ex-presidente Lula (PT) “entregou sua alma para vencer essa eleição”. A mensagem acompanha um vídeo antigo em que o petista se encontra com representantes de religiões afro-brasileiras.

A legenda da gravação publicada pela vereadora de São Paulo Sonaira Fernandes (Republicanos) e compartilhada por Michelle diz que “não lutamos contra a carne nem o sangue, mas contra os principados e potestades das trevas”. E emenda: “Isso pode né! Eu falar de Deus, não!”

O vídeo de Lula foi divulgado em 26 de agosto de 2021 e replicado por aliados do ex-presidente. Um deles, o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP), escreveu: “Lula em Salvador abençoado e protegido pelo banho de pipoca usado nas oferendas para os Orixás Obaluayê na Umbanda”.

A estratégia da extrema-direita não é inédita. Em janeiro, a Coalizão Negra por Direitos acionou o Ministério Público do Paraná contra o vice-presidente da Câmara Municipal de Cascavel, o vereador bolsonarista Romulo Quintino (PSC), por disseminar notícias falsas e promover discurso de ódio contra religiões afro-brasileiras a partir de um vídeo manipulado de Lula.

“Aconteceu nesse fim de semana um congresso de lideranças do candomblé da Bahia. E eu quero fazer um pedido para você, bem rápido, para você mandar esse vídeo para o seu padre, para o seu pastor, para o seu líder religioso, para algum amigo seu que diz que é eleitor do Lula”, dizia Quintino.

A alegação era de que Lula teria afirmado manter uma relação com o demônio. Na gravação original, o ex-presidente dizia apenas ter sido recebido por mulheres que o presentearam com a imagem de Xangô e que, por isso, adversários declaravam que ele tinha “relação com o demônio”.

Segundo a Coalizão, “o discurso de ódio identificado no conteúdo que tem grande circulação no ambiente virtual é racista em sua essência, e extrapola os limites da liberdade de expressão”.

No último domingo 7, durante culto evangélico na Igreja Batista Lagoinha em Belo Horizonte, Michelle Bolsonaro afirmou que o Palácio do Planalto era consagrado a demônios antes da posse do presidente Jair Bolsonaro (PL). “Cozinha consagrada a demônios, Planalto consagrado a demônios. E hoje é consagrado ao senhor Jesus.”

Nas últimas semanas, a primeira-dama passou a participar com frequência e protagonismo de atos pró-Bolsonaro, parte da estratégia da campanha de diminuir a rejeição do ex-capitão entre as mulheres.

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