Política

Oposição vê Bolsonaro encurralado e diz que mudanças visam eleições de 2022

Para parlamentares do PT, PCdoB e ex-aliado, presidente tenta viabilizar a continuidade do seu governo e criar uma aliança com o Centrão

Foto: EVARISTO SA / AFP
Apoie Siga-nos no

As mudanças no alto escalão da gestão do presidente Jair Bolsonaro foram interpretadas por deputados da oposição como uma tentativa de viabilizar a continuidade do seu governo e criar uma aliança com o Centrão para as eleições de 2022.

Na segunda-feira 29, foram anunciadas trocas nos Ministérios das Relações Exteriores, da Justiça, da Defesa, na Casa Civil, na Advocacia-Geral da União e na Secretaria de Governo da Presidência da República. (Leia todas as alterações no fim do texto).

“As mudanças são uma arrumação pré-eleitoral, pois Bolsonaro atua para consolidar uma área de influência com partidos do Centrão”, avalia o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP).

“Ele já tem o Republicanos no Ministério da Cidadania e agora incorpora o PL na Secretaria de Governo e muito provavelmente deve indicar o PSD [de Gilberto Kassab] para alguma outra pasta. Com essa tríade e o PP na presidência da Câmara, cria-se um ambiente de diálogo para 2022”, acrescenta o parlamentar.

Na opinião do comunista, a mudança mais grave foi no Ministério da Justiça. “Bolsonaro vai tentar ampliar o controle na Polícia Federal e fazer do ministério uma barricada de proteção da família, que está toda enrolada e tenta obstruir as investigações. É uma operação que procura preservar os interesses da família, manejar instituições de Estado e criar espaço de diálogo para fazer base para sua aventura em 2022”, esclarece.

O deputado Junior Bozzella (PSL-SP), ex-aliado do presidente, acredita que o “Centrão tenta tutelar um Bolsonaro indomável e totalmente encurralado no seu momento de maior fragilidade”. “Um vai enganando o outro para ganhar tempo”, afirma.

Além das próximas eleições, deputados apontam para uma tentativa do presidente de “enquadrar instituições” ao tentar influir no comando das Forças Armadas.

Para os petistas Alexandre Padilha (SP) e Rogério Correia (MG), Bolsonaro está “acuado” e, por isso, fez o que classificam de “movimento arriscado”.

“O presidente resolveu reagir da pior maneira possível, tentando garantir a governabilidade no Congresso dando a chave do cofre para a sua base política”, disse Padilha. “Bolsonaro aposta em um só caminho: garantir governabilidade no Congresso para impedir as instalações da CPI da Covid e do processo de impeachment”, pontua.

“Bolsonaro quis mostrar para o STF e para o Congresso que ele tem domínio sobre as Forças Armadas e que, por meio delas, poder executar o seu autoritarismo. Ele quis dar na semana do aniversário do golpe uma demonstração de força, mas faz isso em um momento em que está acuado”, interpreta Correia. “Passado esse momento, ele fica ainda mais fraco e sobram duas opções: o Centrão, que precisa ser atendido, ou o impeachment”.

Ainda sobre a disputa de 2022, Padilha alerta para  o que chama de “eleições mais violentas da nossa história”. “Bolsonaro prepara o País para uma instabilidade institucional ao longo de todo o processo eleitoral”, diz.

Eis as pastas sob novo comando:

• Casa Civil da Presidência da República: General Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira;

• Ministério da Justiça e Segurança Púbica: Delegado da Polícia Federal Anderson Gustavo Torres;

• Ministério da Defesa: General Walter Souza Braga Netto;

• Ministério das Relações Exteriores: Embaixador Carlos Alberto Franco França;

• Secretaria de Governo da Presidência da República: Deputada Federal Flávia Arruda;

• Advocacia-Geral da União: André Luiz de Almeida Mendonça.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo