Política

O sonho de Serra e o pesadelo do eleitor

O desempenho do tucano em campanha e o peso das suas duas anteriores renúncias

Na mosca. As certeiras observações de Jairo Nicolau
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É possível escolher, em lista razoavelmente variada, a razão para a dificuldade que enfrenta a candidatura de José Serra nesta nova disputa pela prefeitura paulistana. Uma delas: nos últimos 12 anos, ele participou de sete eleições para os três níveis do Executivo – municipal, estadual, nacional – e agora dá sinais de fadiga. Outra: sofre o efeito direto da administração do prefeito Gilberto Kassab, com alta avaliação negativa. O mau desempenho da criatura engole o criador. E não é tudo.

Cada argumento tem, contudo um próprio e específico nível de influência nas dificuldades do candidato tucano. No entanto, o que parece ser o fator determinante são as renúncias movidas pela obstinação de chegar à Presidência. Dois os momentos frustrantes para os eleitores. Ele desistiu da prefeitura de São Paulo em 31 de março de 2006, pouco mais de um ano após ter sido eleito, e entregá-la a Kassab para entrar na corrida presidencial. Sem sucesso. Repetiu a dose, em abril de 2010, quando desistiu do governo estadual para se candidatar à Presidência pela segunda vez. Enfim, está sempre pronto a trocar São Paulo por Brasília. O sonho de Serra, hoje com mais de 40% de rejeição na capital paulista, virou pesadelo para os eleitores.

“A questão nacional pode contaminar a escolha do candidato a prefeito, mas isso não contamina a escolha do eleitor, que é essencialmente definida por questões locais, pela administração da cidade”, afirma o cientista político Jairo Nicolau, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Ele é um especialista atento às artimanhas do processo eleitoral. E demonstra em Eleições no Brasil – Do Império aos dias atuais (Zahar), que chegará às livrarias nos próximos dias, com documentação rica e inédita, como as atas das eleições das governanças das cidades de Cabo Frio e Paraty no período colonial.

“Esse material mostra a longa tradição das eleições locais”, diz Jairo Nicolau.

Essas competições eleitorais só sofreram interrupção nos hiatos autoritários entre os anos 1930 e 1945 e, posteriormente, nos 21 anos da ditadura implantada em 1964.

A normalização do processo foi retomada com pleitos locais alternados com as eleições nacionais a partir de 1986. Dessa alternância nasceu uma tese, furada, de influência nacional nas disputas municipais. Há três bons exemplos, no momento, capazes de ajudar a dirimir possíveis controvérsias.

No Recife, o candidato do PT, Humberto Costa, segundo as últimas pesquisas, está marcado para perder. Mesmo com apoio de Lula e de Dilma, carrega o peso de uma administração petista local (prefeito João da Costa) pessimamente avaliada. Perde a disputa para o candidato do governador Eduardo Campos, que tem grande aprovação do eleitorado.

Em São Paulo, onde Serra padece do mesmo mal (o prefeito Kassab) de Humberto Costa no Recife, tanto os tucanos quanto os petistas agem em função do plano nacional. Dilma e Lula, com enorme prestígio nacional, apoiam Haddad. Celso Russomanno, terceira via inesperada que lidera as pesquisas de intenção de voto, poderia ser o vencedor.

Belo Horizonte é o terceiro vetor do jogo no plano nacional. Marcio Lacerda, apoiado por Aécio Neves, é um socialista com plumagem tucana que busca a reeleição. Tem boa aprovação e, até agora, supera o petista Patrus Ananias (apoiado por Dilma e Lula), ex-prefeito e admirado pelos belo-horizontinos.

Corrupção: Um foco


Dnit tornou-se um nome mal-afamado. Esta é a sigla do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte, órgão do Ministério dos Transportes envolvido em suspeitas de  alianças de corrupção tanto com o escancarado mundo político quanto com o fechado mundo  da caserna.

Não por acaso, o ex-diretor-geral do Dnit Luís Fernando Pagot foi chamado a depor na CPI do Cachoeira. Ameaçou falar o que sabia. Porém, ao depor, se calou. Ele lidava com contratos de interesse das empreiteiras, como, por exemplo, a Delta de Fernando Cavendish.

Corre à margem do trabalho rumoroso desta CPI o caso envolvendo o Dnit e o Instituto Militar de Engenharia (IME), em curso na 2ª Auditoria Militar, no Rio de Janeiro. Há seis militares denunciados por crime de peculato em torno de licitações a partir de convênios firmados com


o Dnit, apurado em Inquérito Policial Militar.

Afora esses oficiais, uma parte do problema aponta para o comandante do Exército, Enzo Peri.  Por ter foro privilegiado, a denúncia foi ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Desde então, ao que se sabe, adormece em alguma gaveta.

Trilhas de Pezão


Após empréstimo de 5 bilhões de reais no Banco do Brasil, Sérgio Cabral recebeu há poucos dias do ministro da Fazenda, Guido Mantega, a informação de que o governo do Rio poderá dispor de mais 7 bilhões de reais em novas operações de crédito. No total são 12 bilhões para investimentos em obras.

Ele abriu uma trilha para a eventual candidatura do seu vice, o peemedebista Luiz Fernando Pezão, em 2014. Cabral pretende deixar o governo e já teria avisado sobre isso à presidenta  Dilma. Isso põe o PMDB e o PT no Rio, hoje aliados, em rota direta de colisão.

Voto: regra e exceção


Para definir o voto no pleito municipal, o eleitor, em regra, avalia os problemas reais da cidade em que vive e não os problemas nacionais. Por isso, olhando para o universo petista, a  ascensão de Fernando Haddad em São Paulo é a regra. A renúncia de João Paulo Cunha, em Osasco, é a exceção.

O tema “mensalão” não guia a escolha local, mas pode estar sendo um fator importante na  desmoralização da política e, por consequência, nas opções dos eleitores que estão causando  surpresa.

Voo de galinha


Em Fortaleza, também já há inversão nas pesquisas de intenção de voto. Moroni Torgan  (DEM) perdeu fôlego e dificilmente chegará ao segundo turno diante do crescimento das candidaturas de Roberto Cláudio (PSB) e Elmano de Freitas (PT).

A exemplo de Inácio Arruda (PCdoB), que também disputa a prefeitura, Moroni é bom de  largada e ruim de chegada.

Tucano depenado


Na disputa pela prefeitura de Manaus, pesquisa do Ibope já registra empate numérico, de 29% das intenções de voto, entre a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB) e o ex-senador Arthur Virgílio (PSDB).

A diferença é que ela subiu de 17% e ele caiu de 40%. Há pouco tempo, em 2010, Vanessa tomou a cadeira de Virgílio no Senado. Aos 67 anos, este tucano eminente, fundador do partido, se perder esta eleição, corre o risco de ter a sua vida política encerrada  prematuramente.

Já em São Paulo…


Celso Russomanno parece ter abandonado esse grupo de candidatos de fôlego eleitoral curto. O  porcentual de intenção de voto nele atraiu boas contribuições e já abriu folga no caixa de  campanha.

Russomanno, por isso, encomendou o monitoramento diário da campanha por meio de um  processo telefônico chamado tracking.

E se ele ganha?


Cavalgando rápido, mas montado em partido nanico, o PRB, a possibilidade de vitória de  Russomanno, sem qualquer experiência administrativa, conduz à avaliação sobre as  possibilidades de governança para ele.

Se eleito, terá muitas possibilidades de fazer coligação e fatalmente será engolido por ela.

Serra ou Haddad?


Considerando os números do Datafolha – Russomanno 34%, Serra 21% (em queda) e Haddad 16% (em ascensão) –, quem disputará o 2º turno na surpreendente Pauliceia?

A esperança de Serra é a de que esteja no piso de votação. A de Haddad é a de que não tenha  atingido o teto.

É possível escolher, em lista razoavelmente variada, a razão para a dificuldade que enfrenta a candidatura de José Serra nesta nova disputa pela prefeitura paulistana. Uma delas: nos últimos 12 anos, ele participou de sete eleições para os três níveis do Executivo – municipal, estadual, nacional – e agora dá sinais de fadiga. Outra: sofre o efeito direto da administração do prefeito Gilberto Kassab, com alta avaliação negativa. O mau desempenho da criatura engole o criador. E não é tudo.

Cada argumento tem, contudo um próprio e específico nível de influência nas dificuldades do candidato tucano. No entanto, o que parece ser o fator determinante são as renúncias movidas pela obstinação de chegar à Presidência. Dois os momentos frustrantes para os eleitores. Ele desistiu da prefeitura de São Paulo em 31 de março de 2006, pouco mais de um ano após ter sido eleito, e entregá-la a Kassab para entrar na corrida presidencial. Sem sucesso. Repetiu a dose, em abril de 2010, quando desistiu do governo estadual para se candidatar à Presidência pela segunda vez. Enfim, está sempre pronto a trocar São Paulo por Brasília. O sonho de Serra, hoje com mais de 40% de rejeição na capital paulista, virou pesadelo para os eleitores.

“A questão nacional pode contaminar a escolha do candidato a prefeito, mas isso não contamina a escolha do eleitor, que é essencialmente definida por questões locais, pela administração da cidade”, afirma o cientista político Jairo Nicolau, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Ele é um especialista atento às artimanhas do processo eleitoral. E demonstra em Eleições no Brasil – Do Império aos dias atuais (Zahar), que chegará às livrarias nos próximos dias, com documentação rica e inédita, como as atas das eleições das governanças das cidades de Cabo Frio e Paraty no período colonial.

“Esse material mostra a longa tradição das eleições locais”, diz Jairo Nicolau.

Essas competições eleitorais só sofreram interrupção nos hiatos autoritários entre os anos 1930 e 1945 e, posteriormente, nos 21 anos da ditadura implantada em 1964.

A normalização do processo foi retomada com pleitos locais alternados com as eleições nacionais a partir de 1986. Dessa alternância nasceu uma tese, furada, de influência nacional nas disputas municipais. Há três bons exemplos, no momento, capazes de ajudar a dirimir possíveis controvérsias.

No Recife, o candidato do PT, Humberto Costa, segundo as últimas pesquisas, está marcado para perder. Mesmo com apoio de Lula e de Dilma, carrega o peso de uma administração petista local (prefeito João da Costa) pessimamente avaliada. Perde a disputa para o candidato do governador Eduardo Campos, que tem grande aprovação do eleitorado.

Em São Paulo, onde Serra padece do mesmo mal (o prefeito Kassab) de Humberto Costa no Recife, tanto os tucanos quanto os petistas agem em função do plano nacional. Dilma e Lula, com enorme prestígio nacional, apoiam Haddad. Celso Russomanno, terceira via inesperada que lidera as pesquisas de intenção de voto, poderia ser o vencedor.

Belo Horizonte é o terceiro vetor do jogo no plano nacional. Marcio Lacerda, apoiado por Aécio Neves, é um socialista com plumagem tucana que busca a reeleição. Tem boa aprovação e, até agora, supera o petista Patrus Ananias (apoiado por Dilma e Lula), ex-prefeito e admirado pelos belo-horizontinos.

Corrupção: Um foco


Dnit tornou-se um nome mal-afamado. Esta é a sigla do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte, órgão do Ministério dos Transportes envolvido em suspeitas de  alianças de corrupção tanto com o escancarado mundo político quanto com o fechado mundo  da caserna.

Não por acaso, o ex-diretor-geral do Dnit Luís Fernando Pagot foi chamado a depor na CPI do Cachoeira. Ameaçou falar o que sabia. Porém, ao depor, se calou. Ele lidava com contratos de interesse das empreiteiras, como, por exemplo, a Delta de Fernando Cavendish.

Corre à margem do trabalho rumoroso desta CPI o caso envolvendo o Dnit e o Instituto Militar de Engenharia (IME), em curso na 2ª Auditoria Militar, no Rio de Janeiro. Há seis militares denunciados por crime de peculato em torno de licitações a partir de convênios firmados com


o Dnit, apurado em Inquérito Policial Militar.

Afora esses oficiais, uma parte do problema aponta para o comandante do Exército, Enzo Peri.  Por ter foro privilegiado, a denúncia foi ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Desde então, ao que se sabe, adormece em alguma gaveta.

Trilhas de Pezão


Após empréstimo de 5 bilhões de reais no Banco do Brasil, Sérgio Cabral recebeu há poucos dias do ministro da Fazenda, Guido Mantega, a informação de que o governo do Rio poderá dispor de mais 7 bilhões de reais em novas operações de crédito. No total são 12 bilhões para investimentos em obras.

Ele abriu uma trilha para a eventual candidatura do seu vice, o peemedebista Luiz Fernando Pezão, em 2014. Cabral pretende deixar o governo e já teria avisado sobre isso à presidenta  Dilma. Isso põe o PMDB e o PT no Rio, hoje aliados, em rota direta de colisão.

Voto: regra e exceção


Para definir o voto no pleito municipal, o eleitor, em regra, avalia os problemas reais da cidade em que vive e não os problemas nacionais. Por isso, olhando para o universo petista, a  ascensão de Fernando Haddad em São Paulo é a regra. A renúncia de João Paulo Cunha, em Osasco, é a exceção.

O tema “mensalão” não guia a escolha local, mas pode estar sendo um fator importante na  desmoralização da política e, por consequência, nas opções dos eleitores que estão causando  surpresa.

Voo de galinha


Em Fortaleza, também já há inversão nas pesquisas de intenção de voto. Moroni Torgan  (DEM) perdeu fôlego e dificilmente chegará ao segundo turno diante do crescimento das candidaturas de Roberto Cláudio (PSB) e Elmano de Freitas (PT).

A exemplo de Inácio Arruda (PCdoB), que também disputa a prefeitura, Moroni é bom de  largada e ruim de chegada.

Tucano depenado


Na disputa pela prefeitura de Manaus, pesquisa do Ibope já registra empate numérico, de 29% das intenções de voto, entre a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB) e o ex-senador Arthur Virgílio (PSDB).

A diferença é que ela subiu de 17% e ele caiu de 40%. Há pouco tempo, em 2010, Vanessa tomou a cadeira de Virgílio no Senado. Aos 67 anos, este tucano eminente, fundador do partido, se perder esta eleição, corre o risco de ter a sua vida política encerrada  prematuramente.

Já em São Paulo…


Celso Russomanno parece ter abandonado esse grupo de candidatos de fôlego eleitoral curto. O  porcentual de intenção de voto nele atraiu boas contribuições e já abriu folga no caixa de  campanha.

Russomanno, por isso, encomendou o monitoramento diário da campanha por meio de um  processo telefônico chamado tracking.

E se ele ganha?


Cavalgando rápido, mas montado em partido nanico, o PRB, a possibilidade de vitória de  Russomanno, sem qualquer experiência administrativa, conduz à avaliação sobre as  possibilidades de governança para ele.

Se eleito, terá muitas possibilidades de fazer coligação e fatalmente será engolido por ela.

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