Política

Nos EUA, Bolsonaro se diz ‘maravilhado’ com Biden e nega devastação ambiental

‘A experiência de ontem com Biden foi simplesmente fantástica’, disse o ex-capitão, que já havia se referido à relação com Trump como ‘passado’

O presidente Jair Bolsonaro (PL) durante discurso na Cúpula das Américas. Foto: Patrick T. Fallon/AFP
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O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse estar “maravilhado” com o homólogo americano Joe Biden após a primeira reunião bilateral entre os chefes de Estado, em Los Angeles, nos Estados Unidos. A declaração ocorreu nesta sexta-feira 10, durante discurso na Cúpula das Américas.

Bolsonaro havia se pronunciado publicamente ao lado de Biden na quinta-feira 9. Se antes o presidente brasileiro se declarava um aliado de Donald Trump, adversário do atual comandante da Casa Branca, hoje ele diz que o magnata republicano é “passado” e cita até casamento com o democrata.

Segundo Bolsonaro, depois do pronunciamento público, ele e Biden tiveram uma reunião de cerca de meia hora, “mais reservada, com pouquíssimas pessoas, numa distância inferior a um metro e sem máscaras”. O ex-capitão aproveitou, então, para elogiar o presidente americano.

“Senti no presidente Biden muita sinceridade e muita vontade em resolver certos problemas”, declarou. “A experiência de ontem com o presidente Biden foi simplesmente fantástica. Estou realmente maravilhado e acreditando em suas palavras e naquilo que foi tratado reservadamente entre nós.”

Bolsonaro voltou a defender a gestão ambiental do seu governo e negou a devastação da Amazônia, ainda que dados de instituições e entidades apontem crescimento no índice de queimadas. Mais uma vez, o ex-capitão afirmou que o Brasil, no seu mandato, é “um dos países que mais preservam o meio ambiente e suas florestas”.

Ele também prestou satisfações sobre o jornalista inglês Dom Philips e o indigenista Bruno Pereira, desaparecidos d desde o domingo 5 no Amazonas. O caso ganhou repercussão internacional.

“Nossas Forças Armadas têm se destacado na busca incansável da localização dessas pessoas. Pedimos a Deus que sejam encontrados com vida”, afirmou.

Bolsonaro também enalteceu a agenda de “costumes” do seu governo, citando indiretamente a pauta do aborto. Exaltou, ainda, as Forças Armadas, um dos setores com os quais busca proximidade enquanto faz ameaças às eleições. Apesar disso, tentou amenizar, de forma implícita, suspeitas de que esteja em afinidade com projetos antidemocráticos.

“Ao longo do meu mandato, o Brasil manteve-se presente nos fóruns hemisféricos e regionais, trabalhando pela democracia, pela liberdade e pela prosperidade econômica e social. Neste ano em que o Brasil comemora 200 anos de independência, afirmamos que temos um governo que acredita em Deus, respeita os seus militares, é favorável à vida desde a sua concepção, defende a família e deve lealdade ao seu povo.”

O tom repete uma declaração sugestiva de ontem, quando Bolsonaro disse que respeitará a democracia, mas que quer eleições “limpas, confiáveis e auditáveis”. A afirmação ocorre num contexto em que, com frequência, o presidente incentiva a descrença sobre a segurança do sistema eleitoral, diante da crescente possibilidade de vitória do seu principal adversário nesta eleição, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Apesar dos esforços para aparentar um chefe de Estado alinhado com princípios democráticos, Bolsonaro tem sido criticado por manifestantes nos Estados Unidos e até por figuras públicas.

Nesta sexta, o ator americano Mark Ruffalo marcou Joe Biden no Twitter e disse que “o homem com quem você está se encontrando hoje não respeita a democracia”. Bolsonaro respondeu com ironia: “Tenho certeza que você nunca leu a Constituição brasileira, mas posso garantir que não é nada como os roteiros complicados do Hulk que você tem que memorizar: ‘AHGFRR'”.

As críticas à presença de Bolsonaro na Cúpula acontecem após Biden excluir da Cúpula das Américas apenas os países gerenciados por governos associados à esquerda (Cuba, Nicarágua e Venezuela). Por outro lado, o presidente americano deve viajar em breve para a Arábia Saudita, para se reunir com o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, apesar de críticas ao regime antidemocrático do país.

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