Política

Noruega procura ‘homem do Agro’ de Lula e deve discutir a volta do Fundo Amazônia

O país interrompeu os repasses em 2019, quando o governo de Jair Bolsonaro acabou com dois comitês responsáveis pela gestão do fundo

Geraldo Alckmin, Carlos Fávaro, Lula e Neri Geller. Foto: Ricardo Stuckert
Apoie Siga-nos no

O senador licenciado Carlos Fávaro (PSD-MT), escalado pelo ex-presidente Lula (PT) para coordenar sua campanha ao Palácio do Planalto em Mato Grosso e quebrar resistências no agronegócio, deve se encontrar na semana que vem com representantes da Noruega para conversar, entre outros assuntos, sobre a reativação do Fundo Amazônia.

A reunião com Mads Lie e Vedis Vik, enviados especiais do governo da Noruega para Clima e Floresta, deve acontecer em Cuiabá (MT), na manhã da quinta-feira 25.

Também entrarão na pauta uma parceria por meio de “outros projetos financiados bilateralmente” e a exploração de “oportunidades para maior cooperação na área de cadeias de valor sustentáveis”.

Entre 2008 e 2018, a Noruega transferiu 1,2 bilhão de dólares (cerca de 6 bilhões de reais) para o Fundo Amazônia, que paga para o Brasil prevenir, monitorar e combater o desmatamento. Como mostrou CartaCapital, o governo de Jair Bolsonaro (PL) deixou de investir 3,3 bilhões de reais do fundo.

A Noruega interrompeu os repasses em 2019, quando a gestão do ex-capitão acabou com dois comitês responsáveis pela gestão do fundo, um rompimento do acordo que definia as regras do financiamento. Agora, disse Carlos Fávaro a CartaCapital, o governo norueguês dá sinais de uma abertura para conversas sobre a retomada da colaboração. Isso ocorre, segundo ele, após declarações e indicações no programa de governo de Lula.

“Uma das propostas é uma linha de crédito de longo prazo, com juros compatíveis com o agronegócio, para que possamos converter pastagem de baixa produção em agricultura, com investimento em calcário, sementes e fertilizantes, para renovar essas terras e, com isso, aumentar a nossa produção e diminuir a pressão sobre novos desmatamentos”, afirmou Fávaro à reportagem. “O Lula achou muito interessante. Vamos apimentar um pouquinho mais, com incentivo na taxa de juros para quem tiver uma agricultura de carbono positivo e para quem tiver programas sociais em suas propriedades.”

Assim, prosseguiu o senador licenciado, abriu-se “uma esperança, uma voz de diálogo com a Noruega, para que possamos voltar a discutir políticas públicas caso o presidente Lula seja eleito, e tenho certeza de que será”.

Fávaro diz “não ter dúvida” de que o Fundo Amazônia será reativado em caso de vitória do petista. “Eles [os noruegueses] têm segurança de que é um governo que trata com responsabilidade o meio ambiente, e por isso vão voltar a investir.”

De fato, em junho deste ano, o ministro do Clima e Meio Ambiente da Noruega, Espen Barth Eide, admitiu à agência Reuters que uma derrota de Bolsonaro nas eleições tende a significar a retomada dos pagamentos via Fundo Amazônia.

“Se acontecer o que as pesquisas indicam e houver uma mudança [de governo] no Brasil, temos grande esperança de que poderemos retomar rapidamente uma parceria boa e ativa”, afirmou o ministro. “O que eles já disseram, do lado da oposição, tem sido muito positivo.”

No programa de Lula registrado no Tribunal Superior Eleitoral, o termo “meio ambiente” aparece 21 vezes. Em um dos trechos, o documento defende “combater o uso predatório dos recursos naturais e estimular as atividades econômicas com menor impacto ecológico”. Para isso, prega a recuperação das “capacidades estatais, o planejamento e a participação social fortalecendo o Sistema Nacional de Meio Ambiente e a Funai”.

O programa também diz que o governo combaterá “o crime ambiental promovido por milícias, grileiros, madeireiros e qualquer organização econômica que aja ao arrepio da lei”. Assume ainda um compromisso “com o combate implacável ao desmatamento ilegal e promoção do desmatamento líquido zero, ou seja, com recomposição de áreas degradadas e reflorestamento dos biomas”.

Ex-presidente da Associação dos Produtores de Soja, Fávaro divide com o vice de Lula, Geraldo Alckmin (PSB), a tarefa de diminuir as resistências à chapa no agronegócio.

Em julho, Fávaro, Alckmin e Lula se reuniram, acompanhados do deputado federal Neri Geller (PP-MT), outro aliado a integrar a bancada ruralista. O ex-presidente é esperado em Mato Grosso nas próximas semanas.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo