Política

Moro rebate Bolsonaro e diz que governo deixa dúvidas “quanto ao que é certo”

Presidente havia escrito que troca na chefia do Ministério da Justiça melhorou combate à corrupção ‘como passe de mágica’

O ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro. Foto: Foto: Robert Leal /TJMG
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O ex-ministro Sérgio Moro rebateu a afirmação do presidente Jair Bolsonaro de que a troca na chefia do Ministério da Justiça e Segurança Pública melhorou o combate à corrupção “como por um passe de mágica”. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, publicada nesta segunda-feira 3, o ex-juiz federal disse que “não há passe de mágica” e declarou ter dúvidas sobre o compromisso do governo “quanto ao que é certo”.

Ao veículo, Moro reivindicou méritos para sua gestão na pasta e destacou que a Polícia Federal trabalhava com autonomia em sua passagem.

“A Polícia Federal sempre trabalhou com autonomia durante minha gestão, em ações e operações coordenadas com o Ministério Público Federal. Essas operações, em regra, são trabalhadas durante meses. Em alguns casos é questão de anos. Muitas das operações deflagradas recentemente tiveram origem em apurações realizadas durante a Operação Lava Jato e no acordo celebrado com a Odebrecht. Então, não há ‘passe de mágica’, mas um trabalho duro que vinha sendo realizado na minha gestão e que, em boa parte, foi consequência do meu trabalho como juiz federal”, afirmou.

Perguntado sobre o envolvimento de aliados de Bolsonaro em investigações, como o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) por suposto desvio de salários de funcionários, e o secretário de Comunicação Fábio Wajngarten por advocacia administrativa, Moro afirmou que as lideranças devem dar o exemplo e precisam partir do chefe do Palácio do Planalto.

“Acredito na importância de as pessoas em posição de liderança darem o exemplo. Deve sempre existir um compromisso, sem qualquer vacilo, a favor do que é certo e contra o que é errado. As pessoas aprendem com o exemplo e isso, na maioria das vezes, vale muito mais do que diversas ações policiais. A liderança maior tem que partir do presidente da República. Alguns recentes episódios, infelizmente, colocam em dúvida esse compromisso quanto ao que é o certo por parte desse governo”, disse ele.

As declarações de Moro respondem o post de Bolsonaro no domingo 3, que elencou ações do governo federal contra a corrupção após a troca no comando do Ministério da Justiça. Bolsonaro diz que “o maior combate à corrupção” foi executado por ele próprio, “ao não lotear cargos estratégicos, como por exemplo as presidências das estatais”. Conforme mostrou CartaCapital, Bolsonaro abriu a porteira do governo ao “centrão”, distribuindo cargos para legendas como o PP, o PTB e o PL.

Bolsonaro escreveu ainda que a Polícia Federal “goza de total liberdade em sua missão”, apesar de acusações de Moro sobre a tentativa de interferência política no trabalho da corporação. O vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, liberado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), também revelou declaração de Bolsonaro sobre possibilidade de interferência na Polícia Federal para proteger família e amigos.

“Com a troca do Ministro da Justiça, como por um passe de mágica, várias e diversificadas operações foram executadas”, publicou o presidente. “Com orgulho digo: estamos há 18 meses sem qualquer denúncia de corrupção. Isso tem incomodado parte da imprensa e os derrotados de 2018.”

– COMBATE À CORRUPÇÃO/A VERDADE:- O maior programa combate à corrupção foi executado por mim ao não lotear cargos…

Posted by Jair Messias Bolsonaro on Saturday, August 1, 2020

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