Política
“Moro é nosso patrimônio, vítima de uma trama”, diz Bolsonaro
Para Bolsonaro, Glenn Greenwald, o deputado federal David Miranda e o ex-deputado Jean Willys querem atacar quem está do seu lado
Durante participação em um evento em Guaratinguetá, o presidente Jair Bolsonaro voltou a defender o ministro da Justiça, Sérgio Moro, das conversas com procuradores da Lava-Jato que vem sendo divulgadas pelo site The Intercept.
Bolsonaro se referiu a Moro como ” nosso patrimônio” e alegou que o ministro é vítima de uma trama que tem por objetivo atacar quem está do seu lado. “Vão quebrar a cara, podem procurar outro alvo”, declarou.
O presidente atribuiu à “trama” ao jornalista Glenn Greenwald, que está à frente das divulgações pelo The Intercept e o seu marido, o deputado federal David Miranda. Bolsonaro também citou o ex-deputado Jean Willys, a quem se referiu como “menina”.
“Aquele casal lá, um deles esteve detido na Inglaterra há pouco tempo por espionagem e o outro aqui tem suspeita de vender o mandato. E a outra menina tá lá fora do Brasil”, completou.
A informação de que Jean Wyllys teria vendido o seu mandato a David Miranda foi ventilada pelo senador Flávio Bolsonaro (PSL) sem nenhuma comprovação e agora repercutida por seu pai. O deputado rebateu a afirmação em suas redes sociais, dizendo ser vergonhoso o nível do Presidente da República.
Bolsonaro insiste na fake news estapafúrdia de que Jean me vendeu o mandato, e em seguida se refere a Jean como a “menina” que deixou o país. É vergonhoso o nível do Presidente da República.
Além de tudo, Bolsonaro comete o crime de homofobia, recentemente reconhecido pelo STF. pic.twitter.com/nmILTHhoRy
— David Miranda (@davidmirandario) 19 de junho de 2019
O ex-deputado Jean Wyllys também fez uma série de publicações condenando a atitude de Bolsonaro. Entre elas, declarou que, ao tratá-lo como menina na tentativa de ofendê-lo, o presidente tratou o gênero feminino como algo “desprezível, menor, subalterno, ou seja, para ele é um insulto ser mulher”.
1. Numa mesma coletiva, o Presidente da República mentiu e propagou uma fake news contra @ggreenwald, @davidmirandario e contra mim, tratando como “aquela menina que está lá fora”. Parece inacreditável, mas a suposta maior autoridade do país fez isso.
— Jean Wyllys (@jeanwyllys_real) 20 de junho de 2019
2. Ao me tratar de “aquela menina” como forma de me ofender e supondo que eu me ofenderia, o presidente tratou o gênero feminino (todas as mulheres) como algo desprezível, menor, subalterno, ou seja, para ele, é um insulto ser mulher.
— Jean Wyllys (@jeanwyllys_real) 20 de junho de 2019
3. Eu quero dizer ao presidente da república (dessa republiqueta de bananas em que ele e suas milícias transformaram o Brasil), que eu não me senti ofendido. Ao contrário: toda minha força reside no que as mulheres me deram, começando por minha mãe.
— Jean Wyllys (@jeanwyllys_real) 20 de junho de 2019
4. E ser tratado como “mulherzinha” por valentões machistas e homofóbicos não é uma novidade na minha vida nem na vida de qualquer gay. Estamos habituados. A diferença é nós aprendemos a encarar o que presidente considera uma ofensa como – e a transformar em – elogio.
— Jean Wyllys (@jeanwyllys_real) 20 de junho de 2019
5. O fato de o presidente ter se referido a mim como “aquela menina” é a prova cabal de que não há homofobia sem sexismo/misoginia e vice-versa. Todo homofóbico no fundo também odeia as mulheres. Bolsonaro também nunca escondeu que é homofóbico e misógino. Não finjam surpresa.
— Jean Wyllys (@jeanwyllys_real) 20 de junho de 2019
6. O que Bolsonaro fez, nessa coletiva só encontra paralelo na maneira como os nazistas demonizariam os judeus com mentiras e teorias infames sobre uma suposta conspiração judaica, interpelando assim o antissemitismo social europeu.
— Jean Wyllys (@jeanwyllys_real) 20 de junho de 2019
7. Bolsonaro basicamente mentiu sobre Gleen, David e eu, inventando que as denúncias de @TheInterceptBr sobre os crimes da Lava Jato são uma conspiração de três gays (dos gays) para derrubar seu governo, interpelando assim a homofobia social e incentivando a violência contra nós.
— Jean Wyllys (@jeanwyllys_real) 20 de junho de 2019
8. Enquanto parte da nação assiste a esse descalabro estupefata, e as elites ligam e desligam as instituições ao sabor de seus interesses, permitindo que esse sujeito seja presidente da república, eu aviso a este que eu tenho o maior orgulho de ser menina! De verdade!
— Jean Wyllys (@jeanwyllys_real) 20 de junho de 2019
9. Aprendi a lutar como uma menina. E mais: aprendi a lutar como uma menina baiana, e toda menina baiana tem um santo que Deus dá. O meu Oxóssi. Lutar como uma menina me trouxe aqui, presidente, e faz, de mim, o cuspe em sua cara que lhe incomoda e que nenhum tempo vai enxugar.
— Jean Wyllys (@jeanwyllys_real) 20 de junho de 2019
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