Política

Moro autorizou Lava Jato a investigar filha de suspeito para pressioná-lo

Ex-juiz Sergio Moro havia admitido falta de evidências para busca e apreensão na casa da filha de empresário, mas depois mudou a versão

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Novas mensagens reveladas nesta quarta-feira 11 pelo portal The Intercept Brasil revelaram que a Lava Jato fez operações de busca e apreensão na casa da filha de um investigado para pressionar pela prisão ou entrega dele à polícia.

O ex-juiz Sergio Moro, então responsável pela operação em Curitiba, chegou a negar o primeiro pedido feito pelo Ministério Público Federal alegando falta de provas do envolvimento da filha do empresário investigado, mas depois aprovou outro pedido igual ao primeiro para pressioná-lo mais uma vez, afirma a reportagem.

O alvo do MPF era Raul Schmidt, empresário que é apontado como um dos operadores de propina com a empreiteira Odebrecht. A Operação afirma que ele pagava propinas em troca de benefícios estrangeiros com a Petrobras. Raul foi preso pela primeira vez em março de 2016 – primeira investida internacional da Lava Jato – e ficou detido em Lisboa por alguns dias antes de conseguir prisão domiciliar.

Em dezembro de 2016, foi aceito requerimento do governo brasileiro pela extradição de Raul, mas ele já estava desaparecido. Para pressionar uma possível entrega, o procurador da República Diogo Castor de Mattos sugeriu que se investigasse a filha de Raul, Nathalie Schmidt, mesmo não existindo provas concretas de que ela tivesse praticado lavagem de dinheiro, como apontado por Deltan Dallagnol em diálogo.

“Diogo Castor de Mattos: prezados, gostaria de submeter à analise de todos a questão da operação na filha do raul schmidt.. basicamente, ela esta envolvida em algumas lavagens por ser beneficiária de uma offshore do pai.. pensamos em fazer uma operação nela para tentar localizá-lo.. oq acham?”

“Deltan Dallagnol: mas o que ganha? -salvo se realmente achar que ela tá envolvida nos crimes, não haverá provas deles -quanto à loalização* dele, pode até achar, mas terá poucas horas pra prendê-lo, ou menos de poucas horas, tendo de mobilizar polícia fora em país que não sabemso* qual em território de fronteiras abertas UE…”

“Diogo Castor de Mattos: na minha perspectiva, ela nao poder sair do país é um elemento de pressão em cima dele // e ai estamos falando de imóveis adquiridos em nome dela no exterior de USD 2 milhoes”

O encaminhamento do pedido para Sergio Moro aconteceu logo no dia seguinte. O MPF queria que fosse apreendido o passaporte de Nathalie, assim como que fossem realizadas operações de busca e apreensão em sua residência, bloqueios em contas pessoais e da empresa, quebra de sigilo fiscal e dos sigilos das mensagens do WhatsApp.

Nesse meio tempo, Raul foi encontrado e preso em Portugal, mas a decisão de Moro só sairia dois dias depois. O ex-juiz afirmou que não haviam “provas muito claras” de que a filha de Raul Schmidt tivesse ciência dos atos corruptos do pai, que eram apontados pela promotoria.

No entanto, sem mais informações sobre o paradeiro de Schmidt, o The Intercept Brasil alega que Moro perguntou aos procuradores se a ação ainda poderia ser útil ao MPF depois que, novamente, Raul Schmidt foi solto para cumprir prisão domiciliar. Com anseios pela extradição do empresário, os promotores deram o sinal verde, e Moro autorizou a investida contra Nathalie Schmidt.

Na época, a defesa de Nathalie afirmou que ela tinha sido coagida pela Polícia Federal a dizer onde estava o pai. No entanto, o processo de extradição foi derrubado em Portugal pelos advogados de Raul, e a pressão não faria mais sentido. Até hoje, existe um processo contra Nathalie, mas que corre em segredo de justiça.

Em resposta à reportagem, o MPF respondeu que “Nathalie Schmidt foi beneficiária de contas secretas que receberam milhões de dólares ilícitos no exterior, podendo estar sujeita, por tais condutas, a sanções criminais”. O ministro da Justiça Sergio Moro ainda não se pronunciou.

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