Política

Lindbergh: “Lula apostou em conciliação e esqueceu que a elite é escravocrata”

Em entrevista a CartaCapital, ex-senador do PT avaliou erros da gestão de seu partido no Palácio do Planalto

Foto: Reprodução
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“Se a gente voltar para o governo, tem que voltar com a faca nos dentes”. A dois anos das eleições presidenciais de 2022, o ex-senador Lingbergh Farias (PT-RJ) diz acreditar em um projeto de esquerda que não repita erros do passado. Para ele, Lula pensava ser democrático, mas ignorou a natureza da elite brasileira, com um passado de suporte à exploração do trabalho, participação na ditadura militar e, mais recentemente, apoio a interferências de agentes estrangeiros no golpe contra Dilma Rousseff (PT).

Lindbergh Farias já foi presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), da União da Juventude Socialista (UJS), foi deputado federal pelo PCdoB e pelo PT, prefeito reeleito em Nova Iguaçu (RJ) e entrou no Senado em 2010, onde ficou por oito anos. Em entrevista ao diretor de redação de CartaCapital, Mino Carta, Lindbergh projeta uma esquerda que dispute não somente a corrida eleitoral, mas também o poder, mesmo que esteja no comando do Executivo.

“Lula apostou num projeto de conciliação entre as classes sociais e esqueceu que essa elite brasileira é escravocrata, antinacional e antidemocrática. Essa elite deu um golpe em Getúlio [Vargas]. Getúlio se matou como resposta. Deu um golpe em João Goulart e deu um golpe na gente. E eu acho que o problema é que a gente acreditava um pouco naquilo e faltou se preparar, porque a gente devia ter na cabeça: em momento de fragilidade, eles vão vir, vão tentar impor um retrocesso e vão tentar dar um golpe”, afirmou.

 

Para o ex-senador, o PT errou no trato com as instituições do estado brasileiro.

“Eu não consigo entender, tem gente que ainda defende: a Constituição dizia ao Lula que ele tinha que nomear um procurador-geral da República. Ele colocou o mais votado de uma lista tríplice, de uma corporação, um negócio extremamente corporativista. Nossas indicações ao Supremo Tribunal Federal (STF), o trato com os militares… Você sabe que quem nomeia general 4 estrelas é o presidente, né? O Lula achava que era democrático, a lista vinha lá dos generais e ele só assinava. Faltou a discussão da questão do poder”, avalia.

Em seguida, Lindbergh citou o exemplo de Hugo Chávez, presidente da Venezuela entre 1999 e 2013, ano em que faleceu. Para o ex-senador, o líder mostrou bom exemplo em disputar o poder com as elites do país e instigar a articulação popular. Conforme publicado em CartaCapital, determinados analistas veem na Constituição chavista um meio de implementação de avanços ainda impensáveis no Brasil.

“Nesse sentido, o Chávez, na Venezuela, discordando ou não, desde o começo entrou sabendo da possibilidade da existência de um golpe, tratou diferente a questão das Forças Armadas e teve um processo de mobilização popular permanente. Isso aqui também faltou. Como se nós vivêssemos em uma democracia eterna. Temos que tirar lições disso”, afirmou Lindbergh.

Não tive vida fácil do PT, diz ex-senador

Perguntado por CartaCapital se teve vida fácil no partido, carregando críticas às gestões petistas, Lindbergh responde: “Não tive”. Um dos principais erros da legenda, segundo ele, foi a escolha do economista Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda. A nomeação representou um processo de ajuste fiscal que se voltou contra os trabalhadores e, posteriormente, contra a própria sigla, avalia o ex-senador.

“Acho que tive um momento muito difícil no PT, que foi em 2015. O grande erro que a gente teve ali foi a nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda. E eu sendo do PT lá no Senado, junto com Roberto Requião, votamos contra o pacote de ajuste fiscal apresentado pelo governo da nossa presidenta”, disse. “Eu ligava para o presidente Lula e dizia: esse ajuste fiscal vai impor uma derrota a gente. É um grave equívoco. Naquele período, foi muito difícil minha vida dentro do PT. Mas depois a gente conseguiu mostrar que aquele era um caminho equivocado.”

Para Lindbergh, a tarefa do PT é conectar o debate da recuperação da democracia à luta contra o neoliberalismo. “A gente não pode dissociar uma coisa da outra”, examina.

O ex-senador argumenta que uma das principais discussões atuais envolve a formulação de programas de superação da crise econômica que acompanha a pandemia do novo coronavírus. Segundo ele, a esquerda deve propor investimentos públicos pesados, espelhando-se no presidente Franklin Roosevelt, que governou os Estados Unidos entre 1933 e 1945, e na Europa após 1945. Lindbergh defendeu que a esquerda elabore um programa alternativo ao ajuste fiscal, proposto por setores neoliberais.

“Parte dessa direita neoliberal pode estar circunstancialmente contra o Bolsonaro, e a gente tem que explorar essas contradições, mas essa turma quer continuar o processo de perseguição política contra a esquerda e contra Lula”, analisa.

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