Política

Irã pode diminuir importações do Brasil em cenário drástico, diz professor

A defesa contra o ‘terrorismo’ ainda não prejudicou completamente as relações Brasil-Irã, mas país deve ser cauteloso

Funeral do general Qassem Soleimani. Foto: Prakash SINGH / AFP
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O primeiro pronunciamento do presidente norte-americano Donald Trump, nesta quarta-feira 08, sobre as resposta iranianas aos ataques que vitimaram o general Qassem Soleimani, não trouxeram apenas acusações de terrorismo, poderio bélico norte-americano e um apaziguamento nos ânimos – como já vinha acontecendo -, mas também a possibilidade dos EUA aplicarem mais sanções econômicas ao Irã.

Para além do conflito entre os dois países, tal medida poderia trazer implicações que, ao longo prazo, podem exigir do Brasil maior cautela nas estratégias diplomáticas em relação à crise, que foram bastante criticadas por especialistas até o momento. Isso porque o Irã é um dos maiores importadores de produtos agrícolas brasileiros, tais como o milho, a soja e a carne de frango, e os Estados Unidos possuem a fidelidade do presidente Jair Bolsonaro – que fez até uma live assistindo ao pronunciamento de Donald Trump.

Posições enfáticas nesse momento, no entanto, não são a melhor saída. Pelo menos é como analisa Manuel Furriela, professor de Direito Internacional da FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas), que afirmou que o Brasil ainda está relativamente isento de problemas mais graves com o Irã após a nota do Itamaraty que apoiava o “combate ao terrorismo”. Ainda assim, a posição não é definitiva.

“Ao Brasil, é interessante não ter uma posição muito forte. No Oriente Médio, não temos uma posição que nos leve a ser um interlocutor a qualquer lado, porque não é nossa área de influência na região. O Irã importa muito mais do que exporta – a balança comercial é favorável ao Brasil e ajuda a girar a economia brasileira”, analisa Furriela. Com a ameaça de Trump, o professor avalia que sanções mais enfáticas devem ser impostas nos ativos financeiros das empresas e investidores internacionais do país árabe.

O Irã, pelo seu programa de enriquecimento de urânio que se alastra desde 1979, sofria sanções econômicas determinadas pela ONU (Organização das Nações Unidas) e que foram derrubadas após o Acordo Nuclear de 2015. Com o atual cenário, porém, as autoridades iranianas já anunciaram que irão se retirar do acordo – aos moldes dos Estados Unidos, que saíram em maio de 2018.

No caso do Brasil, que é um agroexportador, as sanções não devem atingir em cheio os negócios, à priori, por “pura sorte”, analisa Furriela. “Dificilmente um embargo internacional chega na exportação de alimentos, porque aí entra em questões humanitárias. O único risco que nós temos é uma reação iraniana querendo reduzir as compras do Brasil. Esse cuidado precisamos ter”, diz. 

Nesse caso, posicionar-se a favor da “defesa contra o terrorismo”, como consta no posicionamento do Itamaraty, precisa ser uma medida levada com cautela. O professor avalia que, nesse contexto, é necessário cuidado ao taxar as ações de Soleimani como atos terroristas.

“A posição de quem era o general era controversa. Se quiser interpretar que terrorismo é organizar grupos insurgentes e não estatais para que eles pratiquem atos hostis, este é um debate que podemos ter. Chamá-lo de terrorista poderia ser uma identificação de atos contras os interesses americanos, e efetivamente ele era organizador disso, junto às milícias da região”, analisa o professor.

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