Política

Indicado para Minas e Energia defende a indústria e o pré-sal

Almirante comandou o programa de construção, pela indústria nacional, de submarinos para proteger o pré-sal e a Amazônia Azul

O futuro ministro de Minas e Energia, Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Junior é hoje diretor-geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha
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Em um governo comandado por capitão que bate continência aos Estados Unidos, a indicação na sexta-feira 30 do almirante de esquadra Bento Costa Lima Leite de Albuquerque como ministro das Minas e Energia aumenta a possibilidade de preservação de um mínimo de economia nacional e de alguma aspiração de soberania em meio à desnacionalização galopante desde FHC, acentuada por Temer e com risco de intensificar-se sob a orientação do futuro ministro da Economia Paulo Guedes. O almirante coordenou a construção, pela indústria brasileira, de submarinos para a defesa do pré-sal e outras riquezas minerais integrantes da chamada Amazônia Azul. O ministério das Minas e Energia abrange os setores de petróleo e gás natural, pré-sal incluído, biocombustíveis, geologia, mineração, energia elétrica, energia nuclear além das estatais Petrobras e Eletrobras.

As ameaças mais prováveis ao País, disse o almirante em entrevista à CartaCapital em outubro do ano passado, são “A guerra cibernética e o terrorismo internacional. O Brasil é hoje o maior produtor de petróleo da América Latina. Superamos a Venezuela e o México, com o pré-sal. Imagine um atentado a esse patrimônio do País, que fica de 150 a 200 quilômetros da costa, se não houver capacidade de defendê-lo. Pensemos no que isso pode causar à economia brasileira e para as nações que importam nosso petróleo.”

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Na posição de diretor-geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha, o almirante chefiou o Programa de Desenvolvimento de Submarinos, parceria com a França para a construção, no País, de quatro submarinos convencionais e um com propulsão nuclear. Iniciado em 2011, o Prosub se entrelaça em parte com o Programa Nuclear Brasileiro criado há 40 anos e é essencial ao cumprimento do “compromisso da Marinha com a integridade nacional, a soberania e o desenvolvimento do Brasil”, conforme consta de publicações oficiais desse braço das Forças Armadas.

O acordo de transferência de tecnologia entre Brasil e França para a fabricação dos submarinos foi assinado pelos presidentes Lula e Sarkozy em 2009, como parte da parceria iniciada no ano anterior, e faz parte da Estratégia Nacional de Defesa. A França foi o único país a aceitar a transferência de tecnologia específica que envolve só as partes não nucleares e compreende a construção de um estaleiro e uma base naval em Itaguaí, no Rio de Janeiro.

Um programa específico da Marinha iniciado em 1979 visa desenvolver a tecnologia totalmente nacional e independente necessária ao projeto de construção do submarino movido a energia nuclear. Os objetivos incluem capacitação do país no domínio do ciclo do combustível e a construção de um reator nuclear responsável pela propulsão.

Na mencionada entrevista a esta revista, o almirante e futuro ministro explicou como a construção de submarinos se integra a um projeto de País: “Há várias inserções, inclusive naquilo que proporciona em termos de desenvolvimento relacionado a arrasto tecnológico e fomento industrial. O ponto primordial, entretanto, é que o programa de submarinos é essencial à defesa dos interesses do Brasil no mar, que são muito amplos, a começar pela zona econômica exclusiva de 4,5 milhões de quilômetros quadrados. Na verdade, ele transcende essa área, pois cerca de 95% do comércio brasileiro com o mundo são feitos pelo mar, com Ásia, Europa, Estados Unidos e América do Sul. O submarino é uma arma por si só de dissuasão. E o submarino de propulsão nuclear proporciona ao poder naval uma dimensão ampla, de estar presente em qualquer lugar que se faça necessário. Isso garante ao País um poder de dissuasão muito grande daquilo que conflite com os seus interesses.”

O Prosub tem como foco, no caso dos submarinos convencionais, a independência e autonomia dos processos de fabricação pela indústria brasileira. Engloba 104 subprojetos que constituem sistemas, equipamentos ou itens que integram o pacote de material. A Marinha priorizou 64 subprojetos levando em conta os aspectos estratégicos de conteúdo tecnológico a ser transferido à indústria nacional e as barreiras tecnológicas a serem suplantadas, entre outros pontos. Até o ano passado cerca de 200 empresas brasileiras tinham sido convidadas a participar do programa como fornecedoras.

O processo de transferência de tecnologia “gera expressivo arrasto tecnológico no País”, segundo a Marinha, que se desdobra na nacionalização de sistemas e equipamentos, na pesquisa e desenvolvimento em parceria com universidades, envolve indústrias de alta tecnologia e o campo da medicina nuclear. Propicia ainda um incentivo significativo dos setores de eletrônica, engenharia naval, computação (softwares), mecânicas de precisão e pesada, optrônica, mecatrônica, eletro-mecânica, metalúrgica, química e nuclear.

Ao longo dos 7,4 mil quilômetros de extensão da costa brasileira há, além do polígono do pré-sal, um imenso patrimônio de recursos minerais e de biodiversidade na chamada Amazônia Azul, em área equivalente a mais da metade da superfície do País. A produção de cem plataformas de petróleo corresponde a mais de 90% do total nacional. A descoberta do pré-sal catalisou investimentos também para as primeiras concessões de exploração mineral marinha. Nesses domínios foram identificados mais de 150 minerais com valor econômico, inclusive ouro, diamante e matéria-prima para a fabricação de chips e condutores de telecomunicação. As jazidas de carvão marítimas duplicam as reservas nacionais. A grande biodiversidade contém potencial econômico voltado para as áreas farmacêutica e cosmética. A Marinha monitora os 1,23 milhão de hectares das unidades de conservação em recifes e manguezais para proteger os respectivos ecossistemas.

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