Política

Guedes diz que relatório pode ‘abortar’ reforma da Previdência

Ministro quer regime de capitalização, mudanças no BPC e na aposentadoria rural, mas foi contrariado

O ministro Paulo Guedes
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O ministro da Economia, Paulo Guedes, demonstrou desagrado com as mudanças no relatório da reforma da Previdência, apresentado nesta quinta-feira 13 na Comissão Especial da Câmara. “Se aprovarem a reforma do relator, abortaram a reforma da Previdência”, disse a jornalistas, nesta sexta-feira 14, no Rio de Janeiro. Ele queria incluir um regime de capitalização, modificar regras no Benefício de Prestação Continuada (BPC), na aposentadoria rural, das mulheres e dos professores, mas suas exigências não foram atendidas no novo relatório.

As modificações ocorreram após pressão de governadores, em reunião realizada na última terça 11. Além disso, parlamentares da oposição atacaram as medidas de Guedes em sessões na Câmara nesta semana. Em busca de um acordo para angariar votos pela reforma, o relator Samuel Moreira (PSDB-SP) preferiu deixar os itens de fora. O ministro da Economia, por sua vez, não gostou da decisão.

“Eu esperava que cortassem o BPC e o Rural, daí ficava 1 trilhão de reais [de economia em dez anos]. Porque com 1 trilhão, eu alertei várias vezes, nós conseguimos lançar a Nova Previdência, que é o compromisso com as futuras gerações. Mas aí, na verdade, cortaram 350 bilhões [da proposta inicial]”, reclamou. “Achei redundante tirar a emenda de capitalização. Se fizer só 860 bi, já é uma declaração do relator que as conversas estão indicando que não há desejo da Nova Previdência”.

O ministro atribuiu as alterações ao “lobby dos servidores públicos” e afirmou que, agora, sua previsão é de que “daqui a 5 ou 6 anos tem outra reforma”.

“O que o relator está dizendo é ‘abortamos a Nova Previdência e gostamos mesmo é da velha Previdência’. Cedemos ao lobby dos servidores públicos que eram, justamente, os privilegiados”, atacou.

Reforma sofre embate

As modificações no relatório criaram expectativas positivas para o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que tenta atrair mais votos favoráveis à reforma. Em coletiva de imprensa realizada na quarta 12, Maia disse que, para aprovar o projeto, era preciso negociar, mas cogitou a má reação do ministro da Economia. “Não vou dizer que ele esteja satisfeito, mas a democracia é assim. O poder executivo não comanda sozinho”, disse.

O projeto ainda sofre forte embate de líderes políticos e da sociedade. Para o deputado Ivan Valente (PSOL-SP), a reforma da Previdência é inegociável. “Não temos nenhum acordo. Essa reforma nunca deveria ter começado pela Previdência, mas sim, pela tributária. Ninguém fala de taxar grandes fortunas, lucros e dividendos, nem de cobrar dívidas de grandes empresas”, disse, em sessão na Comissão Especial. Trabalhadores de diferentes categorias estão em greve geral nesta sexta e paralisaram diversos serviços.

Um novo debate sobre o relatório ocorrerá em sessão na Câmara, na próxima terça-feira 18.

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