Política

Governo Bolsonaro mirou no House of Cards, mas acertou nas Kardashians

A relação conturbada dos filhos do presidente com o vice Mourão daria um roteiro sem nada a dever para qualquer seriado ou reality show

Apoie Siga-nos no

Um presidente que tem como guru um filósofo que nunca cursou Filosofia. O filho do presidente posta no canal oficial do pai um vídeo do filósofo atacando os militares. O vice, que também é militar, manda o filósofo continuar falando sobre astrologia. O filósofo dispara palavrões contra o vice. O filho do presidente começa a atacar o vice defendendo o filósofo. O pai diz que defende o filho por ser sangue do seu sangue. O vice diz que se precisar sai do governo. E enquanto isso, o país segue no caos.

A internet, como sempre, não perdoa e faz piada com a briga família Bolsonaro x Mourão

A política brasileira tentou mirar em House of Cards, mas acertou no reality show das Kardashians. O programa norte-americano mostra o cotidiano das irmãs que são famosas, ricas e sempre acabam causando em volta de problemas bastante fúteis. Como toda boa família, os barracos entre elas são constantes em cada episódio.

Jair Bolsonaro, o presidente tuiteiro, é o centro de todas as atenções assim como Kim, a primogênita da família Kardashian. Ele se elegeu focando em polêmicas nas suas redes sociais, fugindo de debates e entrevistas que tratavam sobre assuntos pertinentes para o País.

Depois de eleito, Bolsonaro não seguiu o rito que o cargo exige e continuou utilizando suas redes sociais para polemizar. Um episódio que ficou famoso foi no último Carnaval, quando o presidente postou em seu Twitter um vídeo de um rapaz urinando em outro para poder criticar a maior festa popular do Brasil (quem não se lembra da pergunta “O que é golden shower”?).

E antes tivesse parado por aí. A cada semana, o presidente, sua família e integrantes do governo acabam se envolvendo em alguma polêmica. No sábado 20, os portais de notícia repercutiram o fato de Bolsonaro ter publicado em seu canal do YouTube um vídeo no qual Olavo de Carvalho criticava os militares.

“Qual foi a última contribuição das escolas militares para a alta cultural nacional? As obras do Euclides da Cunha. Depois de então foi só cabelo pintado e voz empostada. Esse pessoal subiu ao poder em 1964, destruiu os políticos de direita e sobrou o quê? Os comunistas”, disse Olavo.

Após a polêmica, Jair Bolsonaro apagou o vídeo de sua conta do YouTube e não se pronunciou mais sobre o assunto. Eis que entra na história o seu vice, o general Hamilton Mourão. O militar da reserva tem sido procurado sempre que o governo se envolve em polêmicas. Ao contrário de Bolsonaro, Mourão tem mantido uma boa relação com a imprensa e tem feito análises consideradas sensatas comparado com outros integrantes governistas.

“Eu acho que ele deve se limitar à função que ele desempenha bem, que é de astrólogo. Ele pode continuar a prever as coisas, que ele é bom nisso”, disse Mourão sobre o caso.

Imediatamente, Olavo de Carvalho foi até seu Facebook e disparou xingamentos contra o vice-presidente da República.

Após os ataques de Olavo ao vice, o filho 02 do presidente Carlos Bolsonaro, um seguidor assíduo do filósofo e guru do governo, resolveu se juntar à turma contra Mourão e mirou a metralhadora de críticas ao militar em sua conta no Twitter.

O clima estava tenso entre as pessoas que, de certa forma, fazem parte do governo. Enquanto isso, Bolsonaro não se pronunciou. O presidente fez algo que nunca tinha feito desde que tomou posse: passou três dias sem utilizar as redes sociais.

Mas, ao tomar café da manhã com os jornalistas, prática adotada pelos últimos governos e cada vez menos realizada por Bolsonaro, o presidente foi questionado sobre a briga e saiu em defesa de seu filho: “O Carlos tem a sua posição, a sua liberdade para expor as suas ideias no Twitter, onde quer que for, como uma pessoa qualquer”, disse.

Quando questionado sobre como estava o clima em seu governo, o presidente garantiu estar tudo resolvido.

A briga com o vice-presidente, no entanto, não parou por aí. O filho 03 de Bolsonaro, o deputado federal Eduardo, deu uma entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo em que defendeu o irmão e atacou Mourão. Para ele, o general já teve mais visibilidade do que os últimos quatro ocupantes do cargo, o que teria acontecido por conta das opiniões contrárias as de Bolsonaro. Eduardo disse ainda que a postura de Mourão deveria ser a de um “soldado do presidente”.

Recebendo ataques da família do presidente e seus seguidores, Hamilton Mourão não conseguiu permanecer sumido por muito tempo. Depois de ter ficado calado durante toda a semana, o vice-presidente deu uma entrevista à revista Veja dizendo que, se a crise continuasse, não descartava a saída extrema de renunciar.

“Se ele (Bolsonaro) não me quer, é só me dizer. Pego as coisas e vou embora”, desabafou. Resignado, explicou que é um soldado a serviço da nação. No governo, tudo o que faz, diz ele, é tentar ajudar o presidente, e não o contrário. “O presidente nunca me disse para parar, para não falar com essa ou aquela pessoa. Então, entendo que não estou fazendo nada de errado. Mas se ele quiser que eu pare…”, disse o vice.

E assim termina mais uma semana desse reality show em que se transformou a política brasileira. Um presidente tuiteiro que tem a sua volta filhos com comportamentos juvenis que saem falando o que bem entendem. Um filósofo de Taubaté que mora nos EUA e consegue controlar de lá a política por aqui. Um vice que de decorativo não tem nada, mas que se encontra em uma crise com seu presidente. E um país inteiro padecendo de um governo que realmente entenda as prioridades da população.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo