Política

Flávio Bolsonaro diz que quem recebe Auxílio Brasil não passa fome; pesquisador desmente

O benefício é importante, mas não é suficiente para aliviar os efeitos do contexto econômico adverso – causado, entre outros motivos, por outras políticas do governo

Em pronunciamento, o senador Flávio Bolsonaro. Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado)
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O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro (PL), minimizou e distorceu a situação vivida por mais de 33 milhões de brasileiros que passam fome no Brasil, revelado pelo 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, produzido pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, a Rede Penssan.

O parlamentar disse, em entrevista à CNN Brasil nesta quarta-feira 8, que o governo do seu pai teria ‘feito tudo o que estava seu alcance’ para conter o drama vivido por esta parcela da população. Afirmou ainda que beneficiários do Auxílio Brasil, que recebem 400 reais por mês, podem até enfrentar dificuldades, mas não estariam passando fome – não podendo, portanto, ser contabilizados como parte dos 33 milhões de afetados pela insegurança alimentar no País.

Quem recebe 400 reais por mês de Auxílio Brasil pode ter dificuldade, mas fome não passa. O presidente Bolsonaro zerou os impostos federais sobre arroz, feijão, zerou impostos de importação sobre os derivados do petróleo que vem para abastecer as nossas redes de postos”, argumentou. “Quer dizer, o que está ao alcance dele ele tá fazendo.

Em entrevista ao canal de CartaCapital no YouTube, Renato Maluf, coordenador da Rede Penssan e ex-presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), já havia rebatido as falácias ecoadas pelo senador. Segundo ele, o ex-capitão foi o responsável pela desidratação ou mesmo pela extinção de diversos programas consolidados de combate à fome no Brasil e, portanto, seria um dos motivadores para o retrocesso de 30 anos observado no País.

“Comparamos o grau de insegurança alimentar de quem recebeu o Auxílio Brasil com o grau de insegurança alimentar de quem não recebia. E ele é praticamente o mesmo”, explicou. “O Auxílio Brasil, ainda que possa ter equacionado algumas questões, não tirou essas famílias da insegurança alimentar e da condição de fome.”

Ainda na entrevista, o pesquisador destacou que o benefício foi usado, segundo os relatos de beneficiários, para pagar dívidas.

“Tudo mais no entorno, desemprego, inflação, baixo salário e renda, além de escola que não dá refeição, seguem existindo. Então, vários beneficiários usaram o Auxílio para pagar dívidas, porque precisaram se endividar”, destacou.

O coordenador da Penssan também explicou em outro trecho que Bolsonaro poderia ter evitado a atual situação se não tivesse radicalizado ainda mais um desmonte de mecanismos e programas iniciado no pós-golpe, durante o governo Michel Temer (MDB).

“Quando entra este governo atual, ele radicaliza [esse desmonte]. A primeira medida deles foi fechar o CONSEA. Isso significa um desprezo pela participação social em política pública e um desmonte de um espaço que todos os setores consideravam fundamental para articular a política de segurança alimentar”, lamentou.

“Outros espaços de governo também foram desmontados, como uma câmara interministerial que existia para discutir segurança alimentar”, lembrou ainda antes de citar o esvaziamento nas verbas de programas como o Alimenta Brasil, que viu seu orçamento cair de mais de 500 milhões de reais para apenas 89 mil reais em 2022.

Para Maluf, os dados apenas demonstram a perversidade da política econômica do atual governo.

“Não gosto de dizer nem que a fome é um projeto neoliberal, porque parece que é uma opção teórica. É pura perversão mesmo. Esse tipo de política econômica é pura perversão”, disse. “É um governo que despreza absolutamente temas sociais relevantes. Você nunca ouviu o presidente da República falar uma palavra sobre esse tema.”

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