Justiça

Entenda: Cesare Battisti não é um perseguido político

O italiano, preso na Bolívia, alimenta o mito de militante de esquerda, mas não passa de um assassino

Cesare Battisti (Foto: José Cruz/ABr)
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A decisão de Lula de manter Battisti no Brasil, ao fim de seu mandato, em dezembro de 2010, gerou críticas internacionais, principalmente do governo italiano, e figura entre os grandes erros de avaliação do ex-presidente. O italiano alimentou o mito de ser um militante político de esquerda perseguido por seus ideais, mas o histórico de suas condenações revela apenas um ladrão comum e um assassino covarde.

Assaltante condenado à prisão perpétua na Itália (decisão proforma, pois nenhum preso cumpre mais do que 30 anos de cadeia no país europeu), Battisti, depois de fugir para o México e obter asilo na França, sob o governo de François Mitterrand, passou a se autodenominar ativista de uma agremiação chamada Proletários Armados para o Comunismo (PAC).

O mito floresceu, embora não existam registros concretos dessa militância, e Battisti angariou simpatia de grupos de esquerda mundo afora. Nem mesmo a posição dos partidos progressistas italianos, incluído o antigo PCI, que nunca reconheceram o alegado ativismo e sempre descreveram o fugitivo como um matador sanguinário, foi capaz de abalar essa convicção firmada no exterior e particularmente no Brasil, onde Battisti goza de prestígio entre filiados do PT e em alas do PSOL.

Os processos na Itália revelam outra realidade.

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Entre 1978 e 1979, aponta a Justiça, Battisti foi o mentor de quatro assassinatos a sangue-frio, todos por vingança e sem nenhuma relação com atividades políticas.

A primeira vítima do fugitivo foi o agente penitenciário Antonio Santoro, em junho de 1978, por motivos fúteis. Santoro havia sido carcereiro de Battisti em uma prisão na cidade de Udine, quando este cumpriu pena por furto. Levou dois tiros pelas costas. Segundo a acusação, o bandido valeu-se de uma cúmplice. Fingiu namorar nos arredores da casa do agente penitenciário para emboscá-lo. Um açougueiro que frustrou um assalto do grupo do “militante” e um joalheiro foram igualmente assassinados.

Battisti, julgado à revelia na Itália, encontrou abrigo na França durante o governo Mitterrand. Quando o socialista deixou o poder, a Justiça italiana voltou a solicitar sua extradição. Para evitar a prisão, Battisti saiu da Europa, rodou por alguns países e finalmente se instalou no Brasil em 2004.

Leia também: Mino Carta: “Manutenção de Pizzolato na Itália não é uma vingança pelo caso Battisti”

No País, o entendimento da Justiça mudou em 2018, quando o ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux negou um pedido de habeas corpus preventivo feito pela defesa de Battisti, determinando que prisão do italiano deveria ficar a cargo do presidente Temer. A ordem presidencial pela sua detenção foi emitida no dia seguinte, ocasionando a fuga de Cesare Battisti, em dezembro.

Na noite de sábado 12 de janeiro, o italiano foi finalmente capturado pela polícia boliviana para ser extraditado ao seu país de origem, colocando, o que parece ser, um ponto final em sua aventura de impunidade.

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