Política

Empresário que vendeu loja de chocolates a Flávio Bolsonaro afirma que foi ameaçado

Em depoimento ao MP-RJ, Cristiano Correia Souza disse que o caso ocorreu ao tentar denunciar fraude em notas fiscais na loja do senador

(Foto: Beto Barata/Agência Senado)
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O empresário que vendeu uma loja de chocolates para o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) afirmou que foi ameaçado ao tentar fazer a denúncia de que o parlamentar fraudava notas fiscais.

A revelação foi feita pelo Jornal Nacional na quinta-feira 13, após ter acesso ao depoimento do empresário Cristiano Correia Souza e Silva ao Ministério Público do Rio (MP-RJ), que investiga a prática de rachadinha.

Flávio é dono da loja de chocolates em um shopping na Barra da Tijuca desde 2015. Ele comprou o estabelecimento do empresário, que já tinha uma loja da mesma franquia num outro shopping no mesmo bairro.

Conforme relatou Cristiano, no natal de 2016, ele soube por clientes que a loja de Flávio estaria vendendo produtos abaixo da tabela da Kopenhagen. Panetones, por exemplo, eram vendidos a  80 reais quando deveriam custar  100.

 

O empresário disse que, por se tratar de uma infração contratual, entrou em contato com a matriz, que, segundo ele, fez uma fiscalização e constatou que a operação ocorria com emissão de nota fiscal com o preço cheio, mas o cliente pagava um valor menor.

Cristiano disse ainda que uma consultora da Kopenhagen filmou uma venda com preço menor com o próprio telefone.

À TV Globo, a Kopenhagen confirmou que comprovou a denúncia de uso de preço fora da tabela e informou ainda que a loja de Flávio foi advertida e multada por causa da promoção.

O empresário afirmou, em seu depoimento, que ele e a mulher receberam ameaças por e-mail depois que a denúncia chegou ao grupo de conversas dos franqueados da Kopenhagen.

As ameaças envolveriam Alexandre Ferreira Dias Santini, sócio de Flavio Bolsonaro na loja, e “laranja”, segundo entendimento do MP-RJ.

Indícios de lavagem de dinheiro

A suspeita da promotoria do Ministério Público é a de que parte dos recursos desviados da Assembleia Legislativa do Rio no esquema da rachadinha tenha sido lavada na loja de chocolates.

De acordo com investigadores, a loja de Flávio Bolsonaro recebia mais dinheiro vivo do que outras franqueadas, em média. Os pagamentos em espécie permaneciam constantes mesmo em períodos de aumento das vendas, como a Páscoa.

A loja teria sido adquirida por Flávio e sua esposa, Fernanda Bolsonaro, por mais de 1 milhão de reais, valor que, segundo os promotores, não seria compatível com a renda do casal.

Embora ela não apareça como dona, os investigadores descobriram que, de sua conta, saíram 350 mil para o negócio.

O senador  não explicou a denúncia da loja de chocolates.

Esquema da rachadinha

A investigação do Ministério Público  também aponta que ex-assessores do senador Flávio Bolsonaro sacaram, em dinheiro vivo, pelo menos 7,2 milhões de reais, o que reforça a suspeita de que tenha ocorrido a prática de rachadinha em seu gabinete.

O valor sacado corresponde a 60% do que os servidores receberam dos cofres públicos fluminenses.

As datas das retiradas, de acordo a investigação, correspondem a períodos em que o senador pagou despesas usando dinheiro em espécie.

Os investigadores suspeitam, principalmente, da compra de dois imóveis em Copacabana, na zona sul do Rio, em dezembro de 2012.

De acordo com o MP, Flávio pagou ‘por fora’ 638,4 mil reais ao vendedor, enquanto os registros oficiais da compra mostram o valor de 310 mil. O então deputado estadual também usou 86,7 mil em dinheiro na compra de 12 salas comerciais, em 2008.

O cálculo considera 24 ex-funcionários do atual senador quando ele era deputado estadual no Rio e exclui valores sacados pelo ex-assessor Fabrício Queiroz – que, segundo os promotores, seria o operador do suposto esquema.

Parte dos assessores envolvidos tem ligação com a família Bolsonaro, conforme apurou a própria Promotoria: 12 são ligados a Queiroz por graus de parentesco ou vizinhança; dez são familiares de Ana Cristina Siqueira Valle, segunda ex-mulher de Jair Bolsonaro; e dois são parentes do miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, morto em fevereiro na Bahia.

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