Política

Empresário confirma à PF que pagou reforma de escritório de Jair Renan, diz jornal

O depoimento traz novos indícios de que o filho do presidente cometeu tráfico de influência e recebeu valores em troca de facilitar o trânsito de empresários no Planalto

Jair Renan, o filho '04' de Jair Bolsonaro. Foto: Reprodução/Redes Sociais
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O empresário Luís Felipe Belmonte confirmou em depoimento à Polícia Federal que pagou 9,5 mil reais pela reforma do escritório de Jair Renan Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, localizado no estádio Mané Garrincha, em Brasília. As informações são do jornal O Globo desta sexta-feira 13.

O depoimento traz novos indícios de que Jair Renan cometeu tráfico de influência e recebeu valores em troca de facilitar o trânsito de empresários no Planalto. Além do depoimento de Belmonte à PF, troca de mensagens entre a arquiteta Tânia Fernandes, responsável pela obra, e Allan Lucena, parceiro de negócios do filho do presidente, já indicavam a suspeita. Nas conversas a arquiteta chama os negócios de ‘Bolsa Móveis’ e ‘Bolsa Reforma’. Lucena chegou a ironizar o apelido dado pela profissional. ‘Já já sai na mídia. Filho de presidente pede Bolsa Móveis’, escreveu.

Ao jornal, a arquiteta também confirmou o pagamento feito por Belmonte e disse que Jair Renan recebeu ‘patrocínio’ de outros empresários.

Foi isso mesmo. Eu fiz o contrato de reforma do camarote, com o que seria feito, e ele fez a transferência, depois gerei o recibo de pagamento e executei a obra conforme estava planejado. Foi uma reforma simples e rápida”, disse após relatar que, com o valor, pintou paredes e fez ajustes elétricos, além de reparos no piso e uma pedra que já estava no local.

“O resto de materiais, como mobílias, móveis, painéis, plantas e placa da logo deles, foi de patrocinadores de outras empresas, que foram passadas para mim e eu só defini o tipo, cor e tamanho, mas a tratativa ou acordos ou sei lá não foi comigo. Só defini mesmo mediante catálogos o que ficava bom lá dentro”, completou a arquiteta em seguida.

Apesar de confirmar o pagamento para a reforma do escritório de Jair Renan, Belmonte negou que fez em troca de obter agendas ou vantagens com o presidente. Segundo defendeu em seu depoimento à PF, o fato de o jovem ser filho de Bolsonaro ‘foi irrelevante’.

“O fato de ser filho do presidente da República é irrelevante”, disse à Polícia ao afirmar que patrocina atletas e atividades esportivas desde 2016. “Não tem nenhum relacionamento com o poder público”, acrescentou ao afirmar ter trânsito direto com Bolsonaro, sem a necessidade de intermediações com o filho do ex-capitão.

Belmonte ficou conhecido por atuar na montagem do partido Aliança para o Brasil, que abrigaria Bolsonaro. O projeto de criação da legenda, no entanto, não avançou. O empresário então se tornou dirigente do PSC no Distrito Federal.

Jair Renan, por sua vez, está no centro de escândalos envolvendo sua atuação em Brasília. Ele é acusado de obter vantagens em suas empresas para intermediar encontros de empresários com o presidente. Em um dos episódios, ele ganhou um carro elétrico no valor de 90 mil reais. Ao jornal, o advogado Frederick Wassef, que defende o clã Bolsonaro, nega.

“Não solicitou dinheiro a ninguém, não recebeu um único real de quem quer que seja, não recebeu carro de presente, não atuou para nenhuma empresa, não solicitou que ninguém pagasse nada a ninguém e seu nome foi usado indevidamente”, escreve Wassef em nota. Ele ainda nega que Jair Renan tenha marcado reunião com ministros.

Na prática, porém, ele participou de diversos encontros de empresários com ministros em Brasília. O próprio governo federal confirma os encontros, tendo inclusive o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), comandado por Augusto Heleno, atuado para tentar manter, sem sucesso, as agendas sob sigilo. O então ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, ao confirmar a agenda com os empresários e Jair Renan, chegou a afirmar que não sabia quem ele era e que só ficou sabendo se tratar do filho do presidente no encontro.

Nas mensagens da arquiteta também aparecem pedidos para que Jair Renan faça a intermediação das reuniões de Bolsonaro com os empresários que patrocinaram as obras.

Na gravação, ela diz que “seria muito interessante” a presença do Zero Quatro em uma agenda com empresários no Palácio do Planalto “porque o teu acesso [a Jair Bolsonaro] é mil vezes mais fácil.”

O descontentamento com o avanço das investigações contra Jair Renan também reforçam as suspeitas de interferência de Bolsonaro na Polícia Federal. Em outubro do ano passado, após os primeiros passos da investigação, o diretor da PF afastou o delegado que coordenava a área responsável pelas apurações.

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