Política

Em nota, Funai ignora coronavírus e foca em criticar ‘marxismo’ de organização

Sem mencionar combate ao coronavírus, Funai defende ações do governo e diz que Bolsonaro rompeu com ’20 anos de administração socialista’

Realocação dos indígenas Warao, em Manaus (Foto: Nathalie Brasil/ Semcom/Governo de Manaus)
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Enquanto povos indígenas se mobilizam para pedir um auxílio internacional para o suporte no combate ao coronavírus nas aldeias, a Funai (Fundação Nacional do Índio) acha mais importante esclarecer que o governo Bolsonaro rompeu com “o socialismo” no Brasil quando foi eleito. Esse é o tom de uma nota do órgão, nomeada de “Os Fatos”, que visa “repudiar” entrevistas dadas pelo diretor de uma organização que acusa a Funai de não se mobilizar o suficiente para proteger as populações indígenas neste momento.

Na nota, o órgão sequer menciona como tem sido feita a estrutura de combate ao coronavírus nas aldeias. Para a Funai, situações de vulnerabilidade dos índios relatadas recentemente, incluindo o medo das ameaças de invasores de terras motivados pelo discurso anti-demarcação de Jair Bolsonaro, são decorrentes de políticas “paternalistas” de governos anteriores – incluindo alegados quase 20 anos de “socialismo” no País.

“Nestes quase 20 anos de administração socialista no Governo Federal, a política indigenista brasileira restringiu-se ao assistencialismo subserviente e ao paternalismo explicito, com o aplauso, a complacência e a participação de ONGs e grupos religiosos ligados à Teologia da Libertação, de matriz marxista”, escreve a Funai.

A justificativa para a nota de repúdio se dá por conta de críticas feitas pelo secretário-executivo da organização Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Antônio Eduardo de Oliveira, às formas como a Funai atua para prevenir uma tragédia causada pelo coronavírus nas comunidades indígenas brasileiras.

Em entrevista a Deutsche Welle Brasil, Antônio afirmou que até mesmo as ações iniciais de proibir a circulação de terceiros nos territórios indígenas partiu da população, e não da Funai. “Praticamente, a Funai se ausentou totalmente. A iniciativa de isolar os territórios para conter a covid-19  foi dos próprios indígenas”, disse. Em outra entrevista, Antônio também afirmou que “o atual governo se instaurou com o propósito de destruir tudo o que havia sido construído pela sociedade civil organizada nos últimos anos”.

Ainda na nota oficial, a Funai também acusa a organização de invadir terras e cita um processo de reintegração de posse, movido por fazendeiros, que data de 2013 e se encerrou com o direito dos indígenas da etnia Terena de permanecerem no local reivindicado no Mato Grosso do Sul. O caso está no Supremo Tribunal Federal e já ganhou um parecer favorável aos indígenas por parte da ministra Carmen Lucia.

A Funai finaliza a nota pedindo para que a população dê um “voto de confiança às novas ideias e projetos de sucesso para o etnodesenvolvimento do indígena brasileiro”.

Segundo as últimas atualizações da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), vinculada ao Ministério da Saúde, há 139 infecções confirmados de coronavírus em indígenas no País, além de oito óbitos registrados em decorrência da covid-19. O órgão também analisa 49 casos suspeitos.

No entanto, a Sesai só relata mortes em aldeias, e não as de integrantes de tribos que se mudaram para áreas urbanas. Por isso, organizações como a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil divulgam, extraoficialmente, ao menos 18 mortes confirmadas pelo coronavírus.

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