Política

Em meio à onda Bolsonaro, Chile e Uruguai punem militares

Seria uma maneira de conter o assanhamento de movimentos ultradireitistas?

Os extremistas da vizinhança se assanham com Bolsonaro
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Em um movimento contrário ao discurso pró-militar do candidato do PSL à presidência no Brasil, Jair Bolsonaro, o Chile e o Uruguai impuseram punições às insubordinações de seus militares nas últimas semanas.

Recentemente, o presidente chileno, Sebastián Piñera, destituiu o diretor da Escola Militar, coronel Germán Villarroel. O militar havia rendido homenagem ao brigadeiro Miguel Krassnoff, sequestrador da ditadura no Chile e condenado a mais de 600 anos de prisão. O coronel Miguel Krassnoff Bassa, diretor de línguas da Escola Militar e filho do torturador homenageado, também foi demitido. 
 
Essas punições provavelmente teriam acontecido porque o presidente chileno enaltece as reformas econômicas liberais do ditador Augusto Pinochet, mas sempre criticou a ditadura pelas violações aos direitos humanos. Paralelamente, Piñera estava sob fortes críticas no Chile por elogiar o candidato Jair Bolsonaro. O presidente chileno esclareceu que só havia elogiado as reformas econômicas que o candidato propõe por meio do economista Paulo Guedes que, aliás, foi professor na Universidade do Chile durante a ditadura de Pinochet.

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Embora Piñera tenha criticado o discurso de Bolsonaro em relação às minorias e às torturas, as críticas no Chile continuaram, mesmo após a tentativa de retratação. Por isso, para o cientista político chileno, Patricio Navia, a decisão de destituir o coronel, embora coerente com a filosofia de Piñera, foi conveniente para o governo chileno se diferenciar de Bolsonaro.

Efeito Bolsonaro no Chile
 
Na coligação governista de Piñera, o partido mais à direita é a União Democrata Independente (UDI). A legenda defende a linha ideológica de Augusto Pinochet. Dois dos seus senadores, inclusive a presidente da UDI, se encontraram com Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro enquanto o coronel era destituído pelo presidente chileno.  

Piñera lidera um processo de modernização da direita chilena, afastando-se do legado de Pinochet. Mas, segundo Patricio Navia, a popularidade de Bolsonaro no Brasil alimenta a nostalgia desses admiradores do passado ditatorial, criando um problema para o presidente chileno. Além disso, assusta os eleitores chilenos com o autoritarismo e a dificuldade de renovação da direta. 

Punição de militares no Uruguai 
 
Em setembro, o presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, puniu dois militares do mais alto comando do Exército. O general Guido Manini Ríos, comandante do Exército, recebeu 30 dias de detenção por se opôr publicamente ao projeto de reforma da Previdência militar que está em debate no Congresso. Assim como no Brasil, os militares estão proibidos de se manifestar sobre decisões de poderes do Estado.
 
Duas semanas depois da punição a Manini Ríos, o presidente Tabaré Vázquez puniu também o comandante do Exército que substituía Manini Ríos. O chefe do Estado Maior, Marcelo Montaner, teve pena de detenção por três dias por executar a marcha militar Tres Árboles numa cerimônia. A marcha está ligada ao Partido Nacional, oposição de direita à coalizão de esquerda que governa o Uruguai.
 
Por outro lado e em sintonia com o crescimento de Bolsonaro nas pesquisas, o presidente do Centro Militar, Carlos Silva Valiente, disse que, no Uruguai, não houve ditadura.
 
Casos isolados ou tendência?
 
Por enquanto, esses são casos isolados, mas a eventual volta de militares ao poder no mais importante país da América Latina pode injetar ânimo em outros movimentos pela vizinhança. 
 
O ex-presidente uruguaio, José Mujica, integrante da coalizão governista, declarou que uma vitória de Bolsonaro seria perigosa para a região. A sua esposa, a vice-presidente Lucía Topolansky, adverte que “no Brasil, há quase uma volta à ditadura”. Essas opiniões foram criticadas pela oposição porque o governo uruguaio mantém silêncio sobre a Venezuela, ao contrário dos demais países governados pela direita na região.
 
Patricio Navia analisa que uma volta dos militares ao governo no Brasil com a justificativa do combate à insegurança é preocupante. Segundo ele, se Bolsonaro se eleger e puser o Exército nas ruas para controlar a violência, pode-se abrir uma janela para os militares se envolverem com política e a tendência se disseminar pela região. 

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