Política

Em 2014, Aécio será o anti-Dilma. E Campos?

Ao lado da presidenta, o governador pernambucano teve a lealdade colocada em xeque: “precisamos de parceiros comprometidos”

A presidenta Dilma Rousseff ao lado do governado Eduardo Campos (PSB-PE) e do ministro Fernando Bezerra. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
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A corrida para a sucessão presidencial de 2014 teve a sua primeira prévia na segunda-feira 25. Três dos quatro (mais que) prováveis candidatos subiram ao palanque e deram mostras de como devem construir a trilha para chegar, ou se manter, no Planalto.

No PSDB, o arranjo parece definido. O mineiro Aécio Neves está ungido pelos tucanos paulistas, caciques nas últimas cinco corridas, e José Serra, de futuro incerto, fica fora da foto. O discurso, de que o PT não inventou a roda e os tucanos não tem nojo de pobre, parece claro. Diferentemente das três ultimas eleições, o resgate do legado de Fernando Henrique Cardoso, que já deu a benção ao senador, parece balizar o movimento.

A não ser que haja uma correção de rota imprevista, Aécio será o candidato anti-Dilma.

Sobrou para Eduardo Campos, governador de Pernambuco que já se movimenta no tabuleiro, e a ex-senadora petista Marina Silva a tarefa de convencer o eleitor de que é possível deixar o lugar de origem sem rupturas e avançar.

Em Serra Talhada, interior pernambucano, Campos e Dilma, possíveis adversários, estiveram juntos. Eles desembainharam a espada em discursos pontuados pela elegância, mas cheios de significados.

Dilma anunciou investimentos de 3,1 bilhões em Pernambuco. Entregou retroescavadeiras, motoniveladoras e caminhões-caçamba para prefeituras do semiárido nordestino e prorrogou o Seguro-Safra e a Bolsa Estiagem durante a inauguração do primeiro trecho do Sistema Adutor do Pajeú. Falou em “nova face” do Nordeste, circunscrita, segundo ela, do governo Lula em diante, e deixou o recado: “Precisamos de parceiros. Precisamos que esses parceiros sejam comprometidos com esse caminho”. Disse também ser necessário lembrar “de onde viemos, como não podemos nos esquecer dos compromissos políticos que ao longo de nossas vidas lutamos por eles”.

Foi mais ou menos como cercar o rei e a rainha adversários em seu campo do tabuleiro. Campos, que a empresários paulistas disse ser possível “fazer muito mais” que o governo atual, busca ainda um slogan entre a continuidade e o rompimento; terá ainda de apontar caminhos sem chutar para longe a parceria com o governo petista, do qual se beneficiou.

Campos agradeceu o apoio com um contraponto: a base para os avanços sociais só foram possíveis com a estabilização da economia. “Nosso conjunto político não tem faltado ao Brasil nem tem faltado apoio político ao governo de Sua Excelência.”

É uma luta ingrata na saída. Campos é a principal liderança local em uma região onde o PT tem obtido mais votos nas últimas disputas à Presidência. O PT, por sua vez, não tem líderes locais – à exceção de Jaques Wagner, governador da Bahia – sem seu principal reduto.

É nessa aparente contradição que o PSB de Campos e dos irmãos Cid e Ciro Gomes avançou, sobretudo nas últimas eleições municipais. A situação de Campos tem um agravante: mesmo jogando em casa, será difícil vencer qualquer candidato ungido pelo ex-presidente Lula, ainda a principal peça do tabuleiro. É o que parece claro na pesquisa Datafolha publicada a pouco mais de um ano do início da corrida oficial: em nenhuma região do País Dilma receberia, hoje, tantos votos como no Nordeste, mesmo com Eduardo Campos na disputa. Ali, a presidenta tem 59% das intenções de voto; Campos tem 8%.

Em 2010, quando foi lançada candidata, Dilma também comia poeira nas pesquisas, mas com uma diferença: com a propaganda oficial, seria questão de tempo a associação entre seu nome e o do ex-presidente no auge de sua popularidade. Hoje a popularidade está com Dilma. E todos sabem de que lado Lula estará.

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