Política
Eleições 2020: Candidato do PT em São Paulo aposta em segundo turno contra Russomanno
Para Jilmar Tatto, polarização nacional de 2018 se repetirá na capital paulista entre representantes de Bolsonaro e de Lula
O candidato à prefeitura de São Paulo pelo PT, Jilmar Tatto, acredita que a eleição na capital paulista será decidida no segundo turno entre ele e Celso Russomanno (Republicanos).
Em entrevista a CartaCapital, o petista disse que a polarização que marcou disputa que elegeu o presidente Jair Bolsonaro deve se repetir em São Paulo, mas com um resultado diferente.
“Uma vitória do campo progressista enfraquece o Bolsonaro. Na minha visão, ele entrará de cabeça na eleição (…). Se o Russomanno encarnar a defesa do presidente, acabará polarizando com o PT. Por isso, avalio que, no segundo turno, estarão o candidato do PT e o Russomanno”, diz.
Na conversa, Tatto rebateu a declaração de Guilherme Boulos (PSOL) de que a falta de união dos partidos de esquerda em uma única candidatura se deve a “interesses menores e paroquiais”.
“O PSOL nunca fez [alianças]. Eles têm uma tradição de voo próprio, tanto que não apoiaram o [ex-prefeito Fernando] Haddad na reeleição e nem na primeira eleição”, afirmou.
Nesta semana, em meio a pressões para escolha de uma mulher para ser candidata a vice, o partido anunciou o deputado federal Carlos Zarattini. De acordo com Tatto, o ex-presidente sugeriu que a vaga fosse ocupada por um parlamentar.
Leia os principais trechos da entrevista feita nesta sexta-feira 18.
CartaCapital: Quero começar com a escolha do seu vice nesta semana. Por que o Carlos Zarattini?
Jilmar Tatto: Eu conheço o Zarattini desde os anos 1990. Fomos secretários, deputados estaduais e federais. Ele foi líder da bancada do PT lá em Brasília, quando o partido era oposição, e eu fui líder no governo do [ex-presidente] Lula. O Zaratinni tem uma grande capilaridade na cidade de São Paulo, tem um trabalho forte na periferia e é uma pessoa que ajuda muito a unificar o PT.
CC: Em algum momento, vocês cogitaram ter uma mulher como vice?
JT: Alguns disseram que deveria ser mulher, da universidade e da periferia Eu ouvi também que deveríamos colocar o [deputado e ex-ministro da Saúde Alexandre] Padilha ou o próprio Zarattini.
CC: O Lula aprovou a escolha?
JT: Aprovou, porque ele queria que fosse um deputado federal ou um deputado estadual. O que ele disse: ‘Olha, tem que ser um vice que tenha mais estofo’.
CC: Quem o senhor considera o seu principal adversário na disputa para chegar ao segundo turno?
JT: A cidade de São Paulo tem 30% de eleitores que votam na esquerda, 30% na direita e 30% que vão para um lado e para o outro a depender da conjuntura. Se você for verificar do ponto de vista do comportamento do eleitor, eu diria que o Covas dialoga mais com o centro, diferente do Russomanno, que vai procurar um eleitor mais de direita. Dito isso, o principal adversário é quem está no governo, que é o Covas, que tem a máquina, tem uma grande aliança de partidos. Derrotá-lo no primeiro turno é o grande passo para derrotar o Russomanno no segundo turno. Eu avalio que, no segundo turno, estarão o candidato do PT e o Russomanno.
CC: Então, você considera que haverá em São Paulo a disputa idelógica que marcou a última eleição nacional?
JT: Com certeza, pois o país continua polarizado. E os debates sobre emprego, queimadas, auxílio emergencial e a pandemia estarão colocados, porque são discussões nacionais. Se o Russomanno encarnar a defesa do governo Bolsonaro, ele vai polarizar com o PT.
Em agosto, o ainda pré-candidato foi entrevistado no canal de CartaCapital no Youtube?feature=oembed" frameborder="0" allowfullscreen>
CC: Boulos, Orlando Silva (PCdoB) e Márcio França (PSB) não têm chance de tomar o seu lugar na polarização?
JT: O PSOL e o PCdoB fazem oposição ao Bolsonaro. Já o Márcio França vai tentar evitar a polarização e pode não entrar no jogo para valer. A dificuldade do Boulos e do Orlando é que são de partidos pequenos. Já o PT é um partido grande, com capilaridade, tem tradição na cidade e deixou marcas em São Paulo.
CC: Uma vitória de algum candidato progressista em São Paulo abre caminho para derrota de Bolsonaro em 2022?
JT: Uma vitória do campo progressista enfraquece o Bolsonaro. Na minha visão, ele entrará de cabeça na eleição, porque São Paulo é uma cidade nacional. Nós vamos dizer que para resolver as questões do país é preciso vencer o Bolsonaro. Os problemas da cidade têm muito a ver com a mudança de política econômica do governo federal e da maneira que eles governam o país.
CC: Se a eleição em São Paulo pode representar a derrota do Bolsonaro, por que a esquerda não se uniu? O Boulos falou em “interesses paroquiais” de outros candidatos.
JT: O PT já fez alianças em São Paulo, com PDT e PCdoB, por exemplo. O PSOL nunca fez. Eles têm uma tradição de voo próprio, tanto que não apoiaram o [ex-prefeito Fernando] Haddad na reeleição e nem na primeira eleição. E tem a nova legislação eleitoral que fez com que os partidos menores insistissem nas candidaturas. Eu nunca fui contra uma frente, mas queria saber qual é o critério, pois é desproporcional a força do PT em relação aos outros partidos.
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