Política

Eleição de Witzel no Rio uniu Flávio Bolsonaro e milícia denunciada

Quadrilha de Rio das Pedras ameaçou moradores que não votassem no atual governador, “adotado” por Flávio na campanha

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A recente prisão de milicianos no Rio traz à tona elos do grupo, acusado à Justiça por formação de quadrilha e assassinato, com Flávio Bolsonaro. Como deputado estadual no Rio, Flávio empregou a mãe e a esposa de um dos chefes da milícia das favelas de Rio das Pedras e Muzema, propôs condecorações e fez discursos a favor de milícias.

Há mais razões para desconfiar de vínculos do primogênito do presidente Jair Bolsonaro com a milícia que acaba de ser denunciada pelo Ministério Público (MP)? Há: a eleição do atual governador do Rio, Wilson Witzel, do PSC, em outubro passado.

Na reta final da campanha no primeiro turno, Flávio e Witzel aliaram-se. Participaram unidos de compromissos eleitorais. Em 22 de setembro, por exemplo, estiveram em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Era um ato de Flávio. “Agradeço também a presença aqui do candidato Wilson Witzel, que estamos acompanhando em algumas agendas”, disse o então concorrente ao Senado.

Ali, Flávio portou-se como um bom Bolsonaro, família chegada a uma arma e uma farda, igual milicianos. “Bandido, com a gente, vai ser tratado como bandido. Ou é cadeia ou é cemitério.”

Witzel era um completo azarão. Naquele dia, tinha 3% nas pesquisas. Na véspera do dia D, 10%. No domingo, surpreendeu nas urnas. Foi o primeiro colocado, com 39%.

Um dia depois, um morador de Rio das Pedras chegou ao trabalho e contou uma história sinistra a colegas. No sábado à noite, véspera da eleição, milicianos tinham feito correr uma ordem entre os moradores. Era para votar no número 20. Nós, avisaram os milicianos, vamos conferir a votação. Se o número 20 não tiver ido bem, todo mundo vai pagar.

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Ninguém na comunidade sabia quem era Witzel, nem que ele era o 20 na urna. Com medo de retaliação, muita gente votou nele.

Na 179a zona eleitoral do Rio, à qual pertence Rio das Pedras, o ex-juiz teve 34%. E teve 41% na 119a zona, a de Itanhangá, local do alegado QG da milícia, onde o MP achou 50 mil reais cash e 290 cheques de valores gordos.

CartaCapital tentou ouvir o morador de Rio das Pedras que relatou a história a colegas de trabalho. Ele não quis. Ficou com medo: “Essa terra tem lugar que não podemos entrar”.

Witzel defende que a polícia atire “na cabecinha” de bandidos, para alegria de policiais-milicianos.

Ele é também aliado dos Bolsonaro na facilitação de negócios com armas, efeito esperado da liberação da posse e da licença tácita para matar bandido (“É cadeia ou cemitério”). Em dezembro, pouco antes da posse, foi a Israel, reuniu-se com dois fabricantes de drones e prometeu comprar 50 deles para o Rio.

Leia também: O poder da milícia nas eleições do Rio de Janeiro

No dia da posse de Jair Bolsonaro, havia em Brasília um equipamento de segurança chamado DataGo. Serve para rastrear, num raio de 6 km, todos os números de celulares, ligações entre eles e o teor das conversas. Quem comprou? O Exército. Quem fabrica? Israel.

Bem que uma ex-autoridade da área internacional do governo Temer diz: Eduardo Bolsonaro, o caçula do presidente, tem negócios com empresas israelenses. Será?

Witzel viajou a Brasília para a posse presidencial e levou de carona no avião do governo um fã de Flávio e Jair, o juiz federal Marcelo Bretas, o da Operação Lava Jato no Rio.

No dia da eleição de Flávio ao Senado, Bretas festejou no Twitter: “Parabenizo os novos Senadores, ora eleitos pera representar o Estado do Rio de Janeiro a partir de 2019, Flávio Bolsonaro e Arolde de Oliveira. Que Deus os abençoe!”.

Agora anda aborrecido com “críticas prematuras” ao governo, “claramente oportunistas”, conforme escreveu na rede social em 9 de janeiro. Não explicou do que se queixava. Dá para imaginar. Seus ídolos derretem.

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