Política

Eduardo Bolsonaro mente 5 vezes em tweet sobre incêndios na Austrália

Deputado disparou informações falsas no Twitter sobre suposta falta de reação aos incêndios florestais no país

O deputado Eduardo Bolsonaro. (Foto: Alex Ferreira/Câmara dos Deputados)
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No espaço de um tweet, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) disse cinco mentiras sobre os incêndios que atingem a Austrália. Primeiro, diz que não tem famoso protestando; dois, fala que a imprensa finge que nada acontece; três, acusa a organização WWF Brasil de ter feito apenas um post; quatro, lembra que o ICMBio, um órgão federal, não se manifestou sobre o assunto e, cinco, acusa a sueca Greta Thunberg – a quem chama de “pirralha maluca” – de sumiço.

Eduardo anexou à publicação uma matéria que aponta 480 milhões de animais mortos.

“Quase MEIO BILHÃO de animais mortos no fogo da Austrália e não tem famoso protestando, a imprensa finge que nada acontece. Organizações como a WWF Brasil (só fez 1 post) e ICMBio quase nada ou nada falam, a pirralha maluca também sumiu. Curioso, né?”, criticou o deputado.

As queimadas na Austrália fazem parte de um processo natural entre o fim da primavera, no mês de novembro, e início do verão, no mês de dezembro. No entanto, em 2019, os incêndios começaram antes deste período, desde setembro, e com maior agressividade. Entre os motivos, estão o aumento da temperatura, estiagens e ventos acima da média.

Apesar de Eduardo disparar acusações de omissão sobre o tema, houve manifestações por parte de diferentes personalidades e organismos. A começar por Greta, que postou em suas redes sociais uma série de textos e imagens sobre a tragédia.

Em 22 de dezembro, por exemplo, a jovem compartilhou um vídeo do veículo Nine News Sidney e escreveu que “nem mesmo catástrofes como essa parecem trazer ação política”.

“Como isso é possível? Porque ainda não fazemos a ligação entre a crise climática e o aumento de eventos climáticos extremos e desastres da natureza como os incêndios na Austrália. É isso que tem de mudar. Agora”, escreveu a ativista.

Em 31 de dezembro, a sueca publicou mais imagens sobre os incêndios com a hashtag #AustraliaFires. Em 4 de janeiro, a ativista escreveu um longo texto de protesto contra as queimadas, com uma foto em que um animal caminha no fogo.

“A Austrália está em chamas. E o verão lá apenas começou. 2019 foi um ano de calor e seca recordes. Hoje a temperatura fora de Sydney era de 48,9 °C. Estima-se que 500 milhões de animais estão mortos por causa dos incêndios florestais”, publicou. “Tudo isso ainda não resultou em nenhuma ação política. Porque ainda não conseguimos estabelecer a conexão entre a crise climática e o aumento de eventos climáticos extremos e desastres naturais, como os #AustraliaFires. Isso tem que mudar.”

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Australia is on fire. And the summer there has only just begun. 2019 was a year of record heat and record drought. Today the temperature outside Sydney was 48,9°C. 500 million (!!) animals are estimated dead because of the bushfires. Over 20 people have died and thousands of homes have burned to ground. The fires have spewed 2/3 of the nations national annual CO2 emissions, according to the Sydney Morning Herald. The smoke has covered glaciers in distant New Zealand (!) making them warm and melt faster because of the albedo effect. And yet. All of this still has not resulted in any political action. Because we still fail to make the connection between the climate crisis and increased extreme weather events and nature disasters like the #AustraliaFires That has to change. And it has to change now. My thoughts are with the people of Australia and those affected by these devastating fires. (Photo: Matthew Abbott for The New York Times)

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Famosos também protestaram. O ator americano Leonardo DiCaprio anunciou a doação de 3 milhões de dólares para a criação de um fundo como “resposta internacional aos incêndios catastróficos”, segundo noticiado na quinta-feira 9 pelo site da revista The Hollywood Reporter.

Também anunciaram doações os cantores Elton John, Shawn Mendes, Pink, a banda Metallica, a socialite Kylie Jenner e a atriz Nicole Kidman. De acordo com a revista People, as estrelas do tênis Serena Williams, Roger Federer e Rafael Nadal, entre outros atletas, devem participar de uma partida beneficente para arrecadar fundos.

A organização não-governamental WWF também publicou uma sequência de protestos. A conta da sucursal brasileira, citada por Eduardo, é voltada para questões do Brasil, mas ainda assim divulgou, na quarta-feira 8, um link explicativo em português com dados sobre a catástrofe.

Em outra publicação, no mesmo dia, a mesma conta escreveu sobre as diferenças entre a devastação na Austrália e na Amazônia.

“Na Amazônia, as chamas são provocadas pelo homem para limpar áreas desmatadas. Na Austrália, os mega incêndios são consequência das mudanças climáticas”, publicou a organização.

O perfil do WWF-Austrália também apresenta postagens relacionadas ao assunto. Em 9 de dezembro, publicou uma foto de incêndios e divulgou um link sobre o infame prêmio que o país recebeu na COP-25, “Fóssil do Dia”, para marcar o desprezo do governo australiano em relação às mudanças climáticas. O troféu também foi dado ao Brasil.

O site global da organização dá amplo destaque ao fato. Já na página inicial, em inglês, o WWF publicou uma enorme fotografia das chamas para a campanha doações, com a informação de que 10 mil hectares foram queimados no país.

Site do WWF Global dá destaque para campanha de doação. Foto: Reprodução

Na lista de ataques de Eduardo, também aparece o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, o ICMBio. Diferente do WWF, o instituto não é uma organização, mas sim, uma autarquia federal brasileira, criada em 2007 e vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, pasta gerida pelo ministro Ricardo Salles.

Citado por Eduardo, o perfil da autarquia no Twitter está desatualizado, com postagens mais recentes que datam de fevereiro de 2019, início do governo do presidente Jair Bolsonaro.

No Facebook, as publicações divulgadas no início de 2020 foram de caráter institucional, com divulgações de concursos, credenciamentos para serviços, inscrições para voluntariados, além de informações para passeios turísticos em parques ambientais.

Já a imprensa acompanha continuamente os desdobramentos do caso, reportando a dimensão geográfica, o alcance da fumaça, as mortes dos animais e as mobilizações em torno da catástrofe. O fogo repercutiu em veículos internacionais, como os americanos CNN The New York Times, o britânico The Guardian e o argentino Clarín.

Na quinta-feira 9, a francesa AFP publicou uma imagem da carcaça de um canguru após a devastação.

Nesta sexta-feira 10, o jornal The Washington Post publicou uma longa reportagem sobre a piora nos incêndios na quinta-feira 9, com vídeo atualizado sobre o desastre. O noticiário chegou a fazer uma lista de recomendações para situações em que o fogo cerca uma vítima.

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