Política
Diretora da Precisa defende contrato da Covaxin, mas Queiroga diz que o Brasil não precisa da vacina indiana
Após ficar em silêncio na terça-feira, Emanuela Medrades alinhou discurso ao do Planalto e contestou o deputado Luis Miranda
A diretora técnica da Precisa Medicamentos, Emanuela Medrades, adotou em depoimento à CPI da Covid uma postura de confronto com alegações do deputado federal Luis Miranda (DEM-DF). Ela negou ter enviado uma invoice – espécie de nota fiscal internacional – da vacina Covaxin ao Ministério da Saúde em 18 de março. O documento, segundo a depoente, só foi encaminhado quatro dias depois.
De acordo com Miranda, a primeira invoice foi enviada no dia 18 e apresentava uma série de erros, os quais contrariavam o próprio contrato assinado. As irregularidades foram apontadas como indícios de um esquema de corrupção na compra do imunizante.
A Precisa Medicamentos entrou na mira da CPI da Covid por intermediar a negociação de 20 milhões de doses da Covaxin entre o Ministério da Saúde e a farmacêutica indiana Bharat Biotech. O contrato assinado chegava a 1,6 bilhão de reais.
Medrades negou à CPI que a Precisa tenha ofertado a Covaxin ao governo de Jair Bolsonaro, em novembro de 2020, ao valor de 10 dólares por dose. Um documento enviado pelo Ministério da Saúde à comissão, no entanto, mostra que em uma reunião naquele mês o imunizante foi oferecido a 10 dólares por dose.
No contrato assinado em fevereiro com intermediação da Precisa, a Saúde aceitou pagar 15 dólares por dose da Covaxin.
“Essa memória de reunião foi unilateral, confeccionada pelo Ministério da Saúde e que nós, parte da reunião, não tivemos oportunidade de ler, assinar ou validar o que estava escrito. Posso garantir que não houve nenhuma oferta de 10 dólares por dose e nós o tempo todo tentamos que esse produto fosse mais barato para o Brasil”, argumentou Emanuela Medrades.
A postura da diretora técnica da Precisa na CPI se transformou entre terça e quarta-feira. No primeiro dia do depoimento, ela se negou a responder a questionamentos protocolares dos senadores, o que levou o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), a acionar o Supremo Tribunal Federal para entender o alcance do direito ao silêncio concedido à depoente.
O presidente do STF, Luiz Fux, reafirmou que Medrades tem a prerrogativa de não responder a perguntas que possam incriminá-la, mas não pode recorrer ao silêncio ante todos os questionamentos. Nesta quarta, porém, ela optou por não silenciar e adotou um tom alinhado ao do Palácio do Planalto.
No dia 29 de junho, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse que o contrato da Covaxin seria suspenso, por recomendação da Controladoria-Geral da União.
Nesta quarta, durante audiência na Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados, Queiroga disse que o Brasil não precisa incorporar a Covaxin e a Sputnik V ao Plano Nacional de Imunizações, sob a justificativa de que o número de doses contratadas já é suficiente para vacinar todos os brasileiros com mais de 18 anos até o fim deste ano.
“Portanto, o Ministério da Saúde não conta, dentro do PNI, com agentes imunizantes que não tenham obtido aval da Anvisa de maneira definitiva ou emergencial porque entendemos que o que temos de número de doses já é o suficiente para imunizar a população até o fim do ano”, afirmou o ministro.
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