Política

Dilma: “Não é possível alegar surpresa ou se estarrecer diante da defesa do AI-5”

Ex-presidente se manifestou sobre a declaração de Eduardo Bolsonaro e lembrou que família do presidente sempre defendeu a ditadura

Dilma Rousseff (Foto: Ricardo Stuckert)
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Ao defender seu voto a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016, o então deputado federal Jair Messias Bolsonaro invocou o nome do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. “Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff, o meu voto é sim”, declarou à época.

Conhecido pelas torturas durante o período da ditadura, o nome do torturador voltou à tona nos últimos dias após o filho do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), declarar que o Brasil poderia ter um novo AI-5, caso a esquerda resolvesse se rebelar.

Neste sábado 2, Dilma Rousseff se manifestou sobre a fala, que vem rendendo polêmicas e coloca o mandato do filho do presidente sob risco de cassação. Dilma, que foi presa e torturada durante o período da ditadura, respondeu a uma pergunta do jornal O Estado de S. Paulo sobre o que pensa da defesa que Eduardo Bolsonaro fez do AI-5, ao dizer que eventuais protestos contra o governo poderiam tornar necessário um ato de força semelhante. Veja a resposta na íntegra:

Sobre os surtos neofascistas e a covardia

Ninguém, dos órgãos de imprensa, pode se declarar surpreendido pela manifestação do deputado Eduardo Bolsonaro a favor do AI-5. Na verdade, ninguém pode se surpreender porque já houve seguidas manifestações contra a democracia por parte da família Bolsonaro. Defenderam a ditadura militar e, portanto, o AI-5; reverenciaram regimes totalitários e ditadores; homenagearam o torturador e a tortura; confraternizaram com milicianos. Desde sempre pensaram e agiram a favor do retrocesso. Antes das eleições não havia dúvidas a respeito. Durante as eleições e depois dela, muito menos, pois têm se expressado contra a democracia e os princípios civilizatórios em todas as oportunidades que tiveram.

O grave é que nunca receberam da imprensa a oposição enérgica que mereciam. Ao contrário, acredito que a imprensa fez vista grossa ao crescimento do neofascismo bolsonarista, porque este adotara a agenda neoliberal. É que, além das pautas neofascistas, a extrema direita defende a retirada de direitos e de garantias ao trabalho e à aposentadoria; as privatizações desnacionalizantes das empresas públicas e da educação universitária e a suspensão da fiscalização e da proteção ambiental à Amazônia e às populações indígenas. Não é possível alegar surpresa ou se estarrecer diante da defesa do AI-5. Na verdade, em prol da realização da agenda neoliberal, na melhor hipótese se autoiludiram, acreditando que poderiam cooptar ou moderar Bolsonaro.

Mas a defesa do AI-5 e da ditadura sempre esteve lá.

Vamos novamente lembrar, o chamado filho 03, que agora diz que considera o AI-5 necessário, é o mesmo que, há algum tempo, disse que “um soldado e um cabo” bastavam para fechar o STF. Óbvio que sem o poder coercitivo de um AI-5, isto nunca seria possível.

O presidente, então ainda deputado, proferiu no plenário da Câmara um voto em que homenageou um dos mais notórios e sanguinários torturadores do regime militar. Aquele coronel só agiu com tal brutalidade contra os opositores do regime militar porque estava protegido pelo AI-5.

Jair Bolsonaro afirmou em entrevista que a ditadura militar cometeu poucos assassinatos de opositores políticos. E que os militares deviam ter matado “pelo menos uns 30 mil”. Também afirmou, na campanha do ano passado, que, se vencesse a eleição, só restariam dois caminhos aos petistas – o exílio ou a prisão – e de que maneira isto seria possível sem a força brutal de um ato institucional como o AI-5?

É estranho que me perguntem o que eu acho da última declaração sobre o AI-5, pois a minha vida toda lutei, e continuo lutando, contra o AI-5, seus assemelhados e seus defensores. O Estadão, que me faz esta pergunta, também deve e precisa responder, pois sua posição editorial tem sido, diga-se com muita gentileza, no mínimo ambígua diante da ascensão da extrema direita no País.

Quem nunca questionou as ameaças da família Bolsonaro com a firmeza necessária e que, em nome de uma oposição cega, covarde e irracional ao PT, se omitiu diante do crescimento do ódio e da extrema-direita, tornou-se cúmplice da defesa canhestra do autoritarismo neofascista.

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