Política

Dilma de fôlego próprio

Ela já herda eleitores de Lula e alcança inédito porcentual de intenções de voto

Pesquisa de intenção de voto Ibope
Apoie Siga-nos no

As mais recentes pesquisas de intenções de voto do mês de março mostram que a candidatura da presidenta Dilma Rousseff ganhou identidade própria e que, já agora, apenas uma fatia menor do eleitorado ainda pensa em Lula como alternativa a ela. Segundo o Ibope, ela é citada espontaneamente por 35% dos eleitores. Lula baixou de 19% para 12%.

Entre novembro de 2012 e agora, Dilma subiu 9 pontos porcentuais. Somados os números da atual presidenta e do ex-presidente, o potencial de votos na petista alcança 47%. Dos 7 pontos a menos de Lula, 6 escoaram para ela.

Nunca antes um candidato à reeleição tão distanciado da disputa atingiu nível tão elevado de intenções de voto em pesquisa espontânea. Nesse processo de escolha, não são apresentados ao pesquisado os nomes dos candidatos. Em março de 2006, seis meses antes da reeleição, Lula tinha 27%. Em julho de 1998, três meses antes da disputa pela reeleição, Fernando Henrique tinha 25%.

Isso indica que, salvo pesados temporais e fortes trovoadas, em 2014 Dilma será uma candidata forte, por si só, e com a vantagem adicional de ter um cabo eleitoral poderosíssimo como Lula. Com isso poderá até mesmo, como se especula, fechar a eleição no primeiro turno.

Considerando os antecedentes da candidata, o fato é surpreendente. Ainda mais se for levado em conta o tiroteio diário que sofre da mídia conservadora. Não se pode negar que isso dá a ela a possibilidade de adiar o momento de enfrentar a questão secundária, o novo marco regulatório.

Mas falta alguma prova mais consistente de que, por isso, Dilma deixe o ministro Paulo Bernardo sentado sobre um problema que transcende situações políticas pessoais.

Em dois anos de governo, Dilma Rousseff ganhou identidade, mas nesse período ela pagou por ter cão e por não ter cão. A sisudadesconhecidafoi comparada a um “poste” quando foi lançada candidata à Presidência. Acusada posteriormente de não saber fazer política, foi, enfim, condenada por supostamente fazer política com olho na eleição de 2014.

Essa condenação ficou clara na troca de ministros que ela fez recentemente. O objetivo foi fortalecer a coalizão governista. Quando a presidenta montou o governo, após tomar posse, o que ela fazia senão isso? Trocar ministros é tão normal quanto trocar o óleo do carro. A consequência natural de uma coisa e de outra é tentar melhorar o desempenho.

Pré-candidato à Presidência, o senador tucano Aécio Neves sentiu o golpe e disse que o objetivo dela era ganhar mais tempo na propaganda eleitoral em 2014. Desde sempre foi assim. Em 2010, a petista, além do apoio do PMDB do vice, Michel Temer, montou uma aliança com mais oito partidos. Com isso teve um tempo de propaganda de quase dez minutos e meio. O tucano José Serra contou com cinco partidos aliados e com mais de sete minutos de propaganda.

Estabilizado esse cenário, até 2014 a oposição busca a saída com a construção de um mutirão de candidatos para tentar levar a eleição para o segundo turno.

Há quatro possíveis atores influentes nesse cenário. Marina Silva, se construir o partido que lançou, e Eduardo Campos, se assumir a candidatura projetada. Os outros dois são tucanos. Um deles, Aécio Neves, é pré-candidato certo. O outro, José Serra, é uma incógnita. Tem ainda 2% das intenções de voto (14% deles no Sudeste) e pode ser eleitor influente em São Paulo. Mas apoiaria quem? Aécio ou Eduardo?

Andante mosso

Tropa de elite


Durante a recepção dos tucanos ao mineiro Aécio Neves, em São Paulo, Fernando Henrique falou: “O PSDB precisa de um banho de povo. Precisamos é de povo”. Pesquisa de intenções de voto comprova essa exortação sincera do ex-presidente, agora candidato à imortalidade acadêmica. Ele disse mais:  “É preciso ter o sentimento das ruas”.

Os porcentuais de votos de atores políticos alinhados contra Dilma, incluindo os da improvável candidatura do ministro Joaquim Barbosa (tabela), indicam o contrário: a sustentação deles concentra-se essencialmente nos setores da elite. Agora é tarde.

Minas em 2014


Se a candidatura a presidente do tucano Aécio Neves vingar, nascerá apoiada por vasto número de mineiros. Para a maioria dos eleitores de MG, o segundo maior colégio eleitoral do País, ele é, com vícios e virtudes, um ícone do estado.

Com a “proclamação de independência” de Eduardo Campos, porém, acaba a chance do prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, do PSB, se deslocar para disputar o governo estadual e, como previsto, dar sustentação oficiosa a Aécio.

Pelo menos na capital do estado, a suposta candidatura de Campos tira a escada e deixa Aécio com a brocha na mão.

Ontem e hoje


A disputa entre petistas e tucanos divide o País em paulistas e brasileiros. Essa história vem de longe.

Mistérios da Justiça


Após 16 anos de tramitação na Justiça do Trabalho, pode chegar ao fim a disputa pela posse de uma fazenda na cidade de Limeira, interior de São Paulo, que impede mais de uma centena de trabalhadores rurais de receber indenizações trabalhistas.

O direito desses trabalhadores já estava garantido pelo Tribunal Superior do Trabalho, mas ninguém via a cor do dinheiro: 5 milhões de reais com juros e correção. Uma liminar emperrava o caso e favorecia Daniel Ragazzo D’Aloia, filho de um dos donos da Agropecuária Ragazzo, que deve o dinheiro aos trabalhadores. A decisão simplesmente beneficiava o herdeiro do devedor.

No caminho de Gurgel


Nomeado pelo presidente da República, o procurador-geral é o chefe do Ministério Público da União.Mas não há lista que vincule a escolha do procurador pelo presidente.

Assim, pode ser nomeado pelo presidente qualquer membro do Ministério Público da União, formado pelo Ministério Público Federal, Ministério Público do Trabalho, Ministério Público Militar e Ministério Público do Distrito Federal. Este ano, pela primeira vez, os ministérios públicos do Trabalho e Militar se interessaram em disputar a vaga da Procuradoria-Geral da República, hoje ocupada por Roberto Gurgel. Já enviaram suas listas para a presidência.

Chifradas


Termina dia 17 o mandato do desembargador Tourinho Neto, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em Brasília, no Conselho Nacional de Justiça. Tourinho, recentemente, marcou sua presença na Justiça ao conceder o habeas corpus que livrou Carlinhos Cachoeira da cadeia. Ele atua no CNJ indicado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Foi escolhido a dedo por ser adversário radical da então corregedora nacional de Justiça Eliana Calmon.

Calmon hoje é vice-presidente do STJ, certamente um aliado na vaga de Tourinho.

Coalizão: Em colisão

O mais recente número da prestigiosa revista Inteligência, de circulação trimestral restrita, entrevista o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos (leia mais AQUI). Santos tem um brilho intelectual diferente, frequentemente na contramão do consenso banal. É o caso da suposta força da coalizão partidária de Dilma:

• “O governo está muito bem avaliado (…), em tese deveria se refletir na arena parlamentar. Mas não é assim. As classes C e D têm uma representação majoritária na sociedade (…), mas são minoritárias na representação parlamentar de seus interesses (…), na preservação das atuais políticas sociais.”

• “A estratégia político-parlamentar que Dilma vem seguindo é a da coalizão de segurança máxima (…). Aqui está o nó da política parlamentar do governo: essa estratégia não está funcionando a contento…”

• “São muitos os interesses dos aliados que (…) nem sempre são compatíveis entre si, tornando a sua coordenação extraordinariamente complexa.”

Esse é o hiato, segundo ele, entre o apoio que Dilma deveria ter e aquele que de fato tem no Congresso. Certas derrotas comprovam isso.

ENTENDA MAIS SOBRE: ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.