Política

Deputados que estão com Bolsonaro vão apoiar Lula na eleição, diz Paulinho da Força

Presidente do Solidariedade vê o petista como o favorito e afirma não acreditar na viabilidade de uma terceira via em 2022

Foto: Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil
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O deputado federal e presidente nacional do Solidariedade, Paulinho da Força, aponta o ex-presidente Lula como o favorito para vencer as eleições de 2022. De acordo com o parlamentar, é em torno do petista que deve se formar uma frente para derrotar o bolsonarismo no ano que vem.

Em entrevista a CartaCapital, o deputado faz uma leitura do cenário para a disputa pelo Planalto. Na conversa, além de explicar os motivos pelo qual não acredita no impeachment de Jair Bolsonaro, o dirigente partidário também afirma que o presidente pode recuperar parte da popularidade que perdeu durante a pandemia.

“Governo é igual cobra: até morto é perigoso, porque tem muita margem de manobra. Só não faz se for muito ruim”, diz o deputado.

Para Paulinho, no entanto, a base parlamentar que hoje dá sustentação a Bolsonaro deve se desfazer à medida que a eleição se aproxima.

“A base de bolsonaristas é pequena, mas tem os aliados de circunstância, que votam a partir de liberação de emendas”, conta. “Muitos dos deputados que hoje estão com Bolsonaro sabem que na hora da eleição o eleitor dele estará com Lula. Como deputado é um bicho pragmático, ele também muda. Eu acredito que a grande maioria da base parlamentar do Bolsonaro estará na campanha do Lula”, acrescenta.

Leia a entrevista completa:

CC: O senhor chegou a dizer que a reunião dos partidos de centro em busca de um nome para a terceira via era perda de tempo. Por quê?

Paulinho da Força: Eu não acredito que tenha uma possibilidade de construir uma chapa de centro porque, como eu conheço bem os presidentes dos partidos e sei o que cada um pensa, acho difícil que eles saiam de onde estão.

Muitos têm a tendência de encontrar uma saída pelos que já estão aí, ou seja, de um lado o Bolsonaro e do outro o Lula. Esses partidos caminharão para um desses lados e não ficarão no centro.

Se houvesse uma candidatura de centro que pudesse atrair, despontando nas pesquisas e com um programa pronto, poderia se pensar em um nome, mas não acredito nessa possibilidade.

CC: Há chance do Bolsonaro recuperar parte da popularidade que perdeu?

PF: Governo é igual cobra: até morto é perigoso, porque tem muita margem de manobra. Só não faz se for muito ruim. Nós estamos em uma situação em que a economia está muito ruim e, com qualquer melhora, já dá um alívio.

Como eu acho que a economia vai crescer muito, pois estamos no fundo do poço, o Bolsonaro deve melhorar a sua avaliação. E tem margem de manobra para melhorar, como o auxílio emergencial e o Bolsa Família.

Eu não diria que o Bolsonaro é carta fora do baralho para 2022, pois governo federal se mede pela economia.

CC: Mas o Lula é favorito?

PF: O Lula tem tudo para ganhar no primeiro turno. Mas, para isso, precisa trabalhar. Eu disse a ele que tem que voltar a ser o Lula de 2002, que construiu uma candidatura da esquerda para o centro e chegando um pouco à direita. Se ele tiver essa capacidade, ganhará no primeiro turno. Acho que ele concordou porque continua falando e fazendo justamente isso

CC: O Solidariedade estará com ele?

PF: Não dá para falar que estará com ele, mas o meu desejo é esse. É uma construção. Eu tenho uma relação boa com presidentes de outros partidos e acho que é possível construir uma candidatura para ganhar no primeiro turno.

CC: O Lula tem sido bem aceito pelos partidos de centro?

PF: O Lula tem muita relação com todos eles. Mesmo os que estão com Bolsonaro e deverão estar em 2022 têm grande respeito pelo Lula, pois ele transita por todos esses partidos. Ele tem sido bem aceito e tem sido ouvido com muito carinho.

CC: O senhor acredita no impeachment do Bolsonaro?

PF: Não. Há o desejo de alguns grupos de tirar o Bolsonaro. Muitos deles carregaram o Bolsonaro nas costas e agora, como os interesses não estão sendo atendidos, querem derrubá-lo. Eu não apoio o impeachment pois eu brinco que quem votou no Bolsonaro tem que sofrer até 2022.

CC: Esse escândalo da vacina não tem potencial de derrubá-lo?

PF: É muito difícil, porque ele já está dizendo que não é obrigado a saber tudo o que tem lá dentro [do Ministério da Saúde]. Ele tem como se desviar dos ataques, a não ser que se pegue uma parte do dinheiro na conta dele, mas acho que isso não aconteceu.

É difícil ter uma denúncia, um batom na cueca, e se não tem isso, faltando pouco mais de um ano para a eleição, ninguém vai entrar em um processo desse. Na Câmara, hoje, mesmo os mais exaltados acham que o melhor é tirar Bolsonaro nas eleições, porque democracia é isso: você vota errado e paga caro por isso.

Eu conheço o Bolsonaro, fui deputado com ele por 12 anos e não sei como o povo votou nele. Mas se o povo votou nós temos que respeitar e temos que ir até o final.

CC: Qual a avaliação do senhor sobre a CPI da Covid?

PF: Está cumprindo o papel e acho que vai ser um fator de desgaste para Bolsonaro, pois toca em um assunto que é uma das bandeiras dele: a corrupção. Na medida em que se vai desvendando que o governo tem corrupção, vai pegando nele. Acho que a CPI vai cumprir papel de desgaste e não de impeachment.

CC: O senhor acredita que haverá desembarque da base de apoio do governo?

PF: A base bolsonarista é pequena, mas tem os aliados de circunstância, que votam a partir de liberação de emendas. Não há uma base do governo e sim um conjunto de interesses. Na eleição é outra história, porque os deputados seguirão os seus partidos e, no geral, essa decisão não passa pela Câmara e sim pela direção partidária.

Muitos dos deputados que hoje estão com Bolsonaro sabem que na hora da eleição o eleitor dele estará com Lula. Como deputado é um bicho pragmático, ele também muda. Eu acredito que a grande maioria da base parlamentar do Bolsonaro estará na campanha do Lula.

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