Política

Deputado Adriano, um ex-Sarney na Assembleia Legislativa do Maranhão

‘Sou economista, administrador, nunca precisei de emprego público nem fiz parte de governos. Tenho pensamentos próprios’, diz o parlamentar

Foto: Gilson Teixeira
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Era uma vez, no antigo Sarneystão, uma família que tinha tudo. Nada se decidia sem a bênção e nada prosperava sem a participação do clã. Os domínios estendiam-se para além do horizonte, resguardados por fiéis vassalos, que garantiam também os louvores à família. O Tribunal de Contas foi batizado de Governadora Roseana Sarney, a ponte, de José Sarney, a maternidade, de Marly Sarney. Os inimigos, por sua vez, eram esmagados sem piedade. Passaram-se 50 anos, mas quem duvidaria de um poder eterno?

Era uma vez. No antigo Sarneystão, a família caiu em desgraça. Os votos minguaram nas urnas, a Justiça, que antes beijava os pés, passou a morder os calcanhares. E a alcunha de tantas glórias e tanto poder começou a se apagar da memória do povo. O tribunal e a maternidade mudaram de nome. Caiu em desuso a homenagem na ponte, chamada popularmente de São Francisco. Da dinastia resta uma última fagulha de esperança, mas até esta prefere manter distância… 

Ao tomar posse no segundo mandato consecutivo, Adriano Sarney enviou um ofício à presidência da Assembleia Legislativa para solicitar uma mudança em sua persona política. Ele agora prefere ser chamado de Deputado Adriano, nada mais.

A exclusão do sobrenome virou piada. Os governistas, por implicância, referem-se ao colega como Adriano, ex-Sarney. O parlamentar garante não se abalar. “Não temo rejeição. Uso apenas meu primeiro nome para imprimir minha marca própria. Sou economista, administrador, nunca precisei de emprego público nem fiz parte de governos. Tenho pensamentos próprios.”

Os pensamentos próprios conduzem Adriano, o ex, na difícil tarefa, incomum para o clã, de exercer a oposição em um ambiente adverso. Apenas 3 dos 42 parlamentares investem contra o governador Flávio Dino, em geral de forma desorganizada. Ao filho de Zequinha cabe a missão de recolher os cacos e tentar reconduzir o clã aos dias de glória. Será uma jornada atribulada, se não impossível. Sem acesso a cargos e verbas, com a família politicamente destroçada e envelhecida, resta-lhe manter acesa a chama da indignação em discursos quase diários na tribuna. Palavras ao vento? “Flávio Dino quebrou o Maranhão”, acusa. “Antes dele, o nosso PIB crescia acima da média nacional, hoje cai mais do que o de outros estados. Todas as áreas de governo sofrem com o descaso, mas vemos um gasto de 80 milhões de reais em marketing para criar uma imagem distorcida da realidade.”

Listado entre os possíveis candidatos à prefeitura de São Luís, o deputado sem sobrenome não nega o interesse. “Meu partido lançou a ideia. Estou estudando os números da capital e como posso fazer para reverter a situação caótica na qual se encontra a cidade.” 

Adriano declara-se perseguido pelo governador. Sua principal denúncia se concentra nas emendas não pagas pelo Estado. Como bom opositor, não desperdiça as oportunidades. As agressões de Bolsonaro dirigidas aos nordestinos serviram de mote para as críticas a Dino. “Ele reclama de discriminação, mas faz o mesmo aqui. Em cinco anos, nunca vi ele liberar os recursos que aprovei para a saúde, a educação, a cultura…”

Apesar da mágoa, o ex-Sarney prefere manter uma certa distância do entrevero. “Não sou complexado, sou nordestino e maranhense com muito orgulho. Acho esse confronto péssimo para o estado, puramente ideológico.”

Era uma vez um político sem sobrenome. E um sobrenome sem política.

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