Política

Denúncia contra Glenn repercute como autoritarismo na imprensa internacional

Jornais como New York Times e The Guardian denunciam tentativas reiteradas do governo Bolsonaro de cercear a liberdade de imprensa no país

Glenn Greenwald teve papel central na divulgação dos fatos relacionados às conversas entre procuradores da Operação Lava Jato e o então juiz Sergio Moro (Foto: Lia de Paula)
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Repercute na imprensa internacional nesta quarta-feira 22 a denúncia feita pelo Ministério Público Federal (MPF) contra o jornalista Glenn Greenwald, fundador do site The Intercept Brasil. Um procurador acusa o repórter de auxiliar e orientar hackers a invadir telefones de autoridades. Jornais como o americano New York Times e o britânico The Guardian denunciam tentativas reiteradas do governo de Jair Bolsonaro e seus aliados de cercear a liberdade de imprensa no país.

Em artigo, o conselho editorial do New York Times indica que o repórter enfrenta “ameaças contínuas desde que revelou que textos vazados mostravam a atividade ilegal de um juiz que ajudou a abrir caminho para a eleição de Jair Bolsonaro”. A denúncia, afirma o NYT, “é um caso cada vez mais familiar de atirar no mensageiro e ignorar a mensagem”.

Já o Guardian ressalta que “o movimento do governo brasileiro é um atentado ultrajante de retaliação contra um jornalista que fez reportagens críticas ao presidente Bolsonaro, ao seu ministro da Justiça, Sergio Moro, e seus aliados – e cheira o autoritarismo”. O artigo, assinado por Trevor Timm, diretor-executivo da Freedom of the Press Foundation, ainda classifica a denúncia como “um ataque chocante à liberdade de toda a imprensa”.

O diário lembra que, ao longo do ano passado, o próprio Bolsonaro declarou, em mais de uma ocasião, que Glenn “cometeu crimes” com a divulgação de mensagens obtidas por hackers e “deveria ser preso”. As conversas entre procuradores da Operação Lava Jato e o então juiz Moro embasaram uma série de reportagens, batizada de Vaza Jato, na qual são reveladas práticas abusivas na condução da operação.

Mensagens já tinham sido investigadas pela PF

“Para mim, pareceu claramente uma vingança barata de um procurador de uma parte podre do MPF que não ficou contente com os resultados das reportagens que estamos publicando desde junho do ano passado”, disse o editor do The Intercept Brasil, Leandro Demori, em entrevista à RFI. “Eles fazem uma ação como essa já sabendo que há uma chance muito baixa de ‘colar’, mas se todo mundo ficar quieto, vão empurrar um pouco mais a roda. É importante, quando esse início de arbitrariedade começa, que as pessoas gritem, esperneiem na cara dessas pessoas, para elas entenderem que ninguém vai ficar quieto nem ser esmagado em silêncio”, frisou Demori.

O editor ressalta que a denúncia se baseia em trocas de mensagens entre Glenn e os hackers que já haviam sido investigadas pela Polícia Federal. O inquérito concluiu não ter havido crime e ainda elogiou a postura profissional do repórter nos diálogos. “Não se pode generalizar: há gente muito heroica no MPF. Mas o que temos exposto, com a Vaza Jato, é a parte do Ministério Público Federal que não acredita em leis, nem regras, nem limites”, sublinha. “Um procurador que denuncia alguém que sequer foi investigado e tenta passar por cima até do Supremo Tribunal Federal é a parte podre do sistema tentando defender a si próprio.”

Jornais comparam à prisão de Lula

Em uma longa entrevista à revista The New Yorker, Glenn declarou que o seu caso “reflete o sentimento de que eles [o governo e seus aliados] só querem colocar jornalistas na cadeia”. Já na imprensa espanhola, La Vanguardia destaca que a denúncia “causou indignação de quase todas as associações de jornalistas e advogados independentes”. A reportagem avalia que “a campanha de lawfare, a judicialização da política que resultou na prisão do ex-presidente Lula antes das eleições presidenciais, agora mira o jornalismo”.

Na Alemanha, a Der Spiegel também relembra o histórico eleitoral, ao escrever que “a detenção subsequente de Lula, que liderava as pesquisas eleitorais na época, abriu caminho para o político de direita Jair Bolsonaro vencer a eleição presidencial de 2018 no Brasil”.

“Como crítico de Bolsonaro e um homem abertamente gay, Greenwald é uma figura fortemente polarizadora, em um Brasil profundamente dividido e cada vez mais evangélico-conservador”, observa a revista alemã.

Já a imprensa francesa se limitou a publicar amplamente uma reportagem da Agência France Press sobre o assunto.

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