Política

Dallagnol recebeu 33 mil por palestra em empresa citada na Lava Jato

Novas mensagens publicadas pela Folha de S.Paulo mostram que o procurador não quis investigar a empresa citada em delação premiada

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O procurador da República Deltan Dallagnol fez uma palestra remunerada no valor de 33 mil reais para uma empresa que havia sido citada em um acordo de delação em caso de corrupção na própria força-tarefa da Lava Jato. As informações foram divulgadas nesta sexta-feira 26 pela Folha de S.Paulo, após apuração conjunta com o The Intercept Brasil.

Segundo a reportagem, a empresa do setor de tecnologia, Neoway, foi mencionada durante uma delação em março de 2016, dois anos antes da palestra. Dallagnol também teria aproximado alguns procuradores e representantes da empresa, com o intuito de viabilizar o uso de produtos da companhia em um trabalho da força-tarefa, da qual é coordenador em Curitiba.

Dallagnol também aparece em um vídeo, feito para a empresa, no qual enaltece o uso de ferramentas tecnológicas em investigações.

À reportagem, o procurador declarou desconhecer que a empresa já tinha sido citada na Lava Jato e que não é conhecedor do teor de todos os processos que tramitam na operação.

No entanto, em um chat realizado quatro meses após a palestra, em julho de 2018, Dallagnol afirma a outros procuradores ter descoberto a citação da empresa na delação premiada do lobista do MDB Jorge Luz, que atuava em busca de vantagens em contratos da Petrobras e subsidiárias. Na delação, Luz afirmou ter atuado em favor da Neoway em um projeto de tecnologia da BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras e que recorreu ao então deputado federal Cândido Vaccarezza (PT-SP) e ao atual deputado federal Vander Loubet (PT-MS) para aproximar a Neoway da BR Distribuidora. “Paguei ao Vaccarezza para arrumar o negócio”, declarou.

“Isso é um pepino pra mim. É uma brecha que pode ser usada para me atacar (e a LJ), porque dei palestra remunerada para a Neoway, que vende tecnologia para compliance e due diligence, jamais imaginando que poderia aparecer ou estaria em alguma delação sendo negociada”, afirmou Dallagnol no grupo.

Diálogos avaliados pela reportagem indicam que houve um esforço por parte do procurador de integrar os produtos da empresa à Procuradoria. Também mostram a preocupação de Dallagnol com a possibilidade da sua participação na palestra vir a público.

“Pensando rapidamente o que provavelmente poderia fazer ou informar: -Não tinha conhecimento, não participei da negociação – assim que tomei, me declarei suspeito e me afastei – a palestra remunerada é autorizada pelo CNMP [Conselho Nacional do Ministério Público] e se deu em contexto de mercado (lançamento de produto de compliance) e por valor de mercado”, escreveu aos demais procuradores no chat.

Em agosto de 2018, os procuradores iniciam uma conversa sobre quem iria trabalhar nos casos relativos a Jorge Luz, e o tema da Neoway voltou à tona. Os diálogos mostram que Dallagnol não quis entrar no caso e que foram designados os nomes de sete procuradores para acompanhar o caso. Dallagnol ficou de fora.

À reportagem, a Neoway afirmou que a contratação do coordenador da Lava Jato e dos demais palestrantes “foi remunerada em valores compatíveis com o mercado para atividades dessa natureza, com total observância às leis”. O ex-deputado Cândido Vaccarezza afirma que “nunca sugeriu, pediu, aceitou, recebeu ou autorizou quem quer que seja a receber em seu nome vantagem, pagamento, benefício ou dinheiro de forma ilícita”.

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