Política

Críticas à Globo, uma pauta que une PT e Bolsonaro

Enquanto Haddad diz que emissora “seria ilegal” no resto do mundo por concentração, Bolsonaro quer diminuir sua verba publicitária

Haddad quer reduzir concentracão, enquanto Bolsonaro promete diminuir verba publicitária
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Jair Bolsonaro e o PT não concordam em quase nada, mas há uma pauta que os une: ambos têm elevado o tom das críticas à grande mídia em suas campanhas. O principal alvo do candidato do PSL e de Fernando Haddad, vice de Lula é, naturalmente, a Globo, principal grupo de comunicação do País.

Enquanto o petista, formulador do programa de governo de Lula, defende uma democratização dos meios de comunicação e o combate à concentração da mídia nas mãos de poucas famílias, Bolsonaro já defendeu corte de verbas publicitárias para a emissora e garante que, ao quebrar “o sigilo do BNDES”, vai descobrir a dívida da Globo com o banco de fomento. 

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Tanto o PT como o Bolsonaro têm motivos para criticar a Globo. O primeiro entende que a emissora teve papel determinante no impeachment de Dilma Rousseff e na prisão de Lula. Por outro lado, o postulante do PSL publica constantemente em suas redes sociais críticas à cobertura feita pelo grupo sobre sua candidatura.

Nesta segunda-feira 20, o Jornal Nacional anunciou que não vai cobrir a agenda de campanha de Lula, sob o argumento de que ele está preso. A emissora não chegou a mencionar Haddad como possível substituto, apesar de o ex-prefeito cumprir intensa agenda de campanha em nome do ex-presidente.

O vice de Lula contra-atacou. Em seu twitter, afirmou que a Globo “seria ilegal” em qualquer país do mundo. “Em qualquer país tamanha concentração seria uma coisa absurda. Tem democracia assim?”, escreveu o petista.

Bolsonaro também aposta na agenda de críticas à emissora. Em entrevista recente à Globo News, lembrou que Globo foi criada em 1965 e recitou um editorial escrito por Roberto Marinho no jornal O Globo em defesa dos militares, escrito no fim da ditadura.

“Eu quero aqui saldar a memória do seu Roberto Marinho. Editorial de capa do jornal O Globo de 7 de outubro de 1984, abre aspas: ‘Participamos da revolução de 1964, identificados com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas, ameaçadas pela radicalização ideológica, distúrbios sociais, greves e corrupção generalizada’. Fecha aspas”, declamou o candidato do PSL. O candidato tinha o texto decorado. 

Ao final da entrevista, a Globo leu uma espécie de direito de resposta por intermédio da jornalista Miram Leitão. A emissora afirmou que revisou sua posição recentemente e considerou um erro o apoio à ditadura.

Bolsonaro costuma fazer ataques diários à Globo, como no tuíte abaixo:

Em julho, afirmou em um evento para comerciantes que tinha “uma tara” pela Globo. “Vou quebrar o sigilo do BNDES. Pode ter certeza, nós vamos entrar no BNDES. Vamos saber a dívida de todo mundo lá. Em especial a Rede Globo. Eu tenho uma tara pela Rede Globo, sou apaixonado pela Rede Globo”, disse, em tom irônico, antes de criticar a programação da emissora.

““Eu gosto das novelas deles, que arrebentam com as famílias no Brasil. Eu gosto daquela que faz um programa de manhã: Fátima Bernardes. Também sou vidrado em BBB. No meu governo não vai ter dinheiro para valorizar esse pessoal que faz esse tipo de programa. Pode continuar fazendo, não vai ter censura. Mas dinheiro público?.”

No fim do ano passado, quando começa a consolidar sua candidatura à Presidência, Bolsonaro prometeu que, se eleito, cortaria parte da verba publicitária da Globo. “Vocês aí têm uma audiência de 40%, do ‘Globo’. Mas pegam 80% da propaganda oficial do governo, que em grande parte, sustenta a mídia. Se eu chegar lá, vou fazer justiça, vão perder metade disso, vão ganhar só 40%.”

Apesar das críticas à Globo, Bolsonaro não concorda com a proposta do PT de combater o monopólio dos grupos de comunicação. Em diversas opotunidades ele chamou propostas como a regulação econômica dos veículos e o controle social da mídia como ataques à liberdade de imprensa, em uma posição muito semelhante à dos principais representantes da imprensa nativa. A democratização dos meios de comunicação é, por outro lado, um dos pontos centrais do atual programa de governo do PT.

Por caminhos distintos, PT e Bolsonaro seguirão a atacar a Globo e a grande imprensa durante suas campanhas. Por enquanto, Lula lidera as pesquisas. Se for impedido de concorrer, Haddad tem potencial para herdar parte de seu capital político e possivelmente chegar ao segundo turno. Nos cenários sem o ex-presidente, Bolsonaro lidera com folga as pesquisas.

Para a Globo, um segundo turno entre PT e Bolsonaro será a garantia de que a emissora sofrerá ataques à esquerda e à direita até o fim da campanha. Não é um cenário improvável.

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