Política

CPI restringe acesso a documentos sigilosos e neutraliza ação de Flávio Bolsonaro

Discreto, o filho 01 de Bolsonaro pouco vai às sessões, mas tem solicitado acesso a informações sigilosas e que correm em segredo de Justiça

O senador Flávio Bolsonaro. Foto: Evaristo Sá/AFP
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Rio de Janeiro – Alçado no início do mês à condição de membro oficial – embora suplente – da CPI da Covid, o senador Flávio Bolsonaro (Patriotas-RJ) segue se comportando de forma discreta, como quando ainda era apenas um “penetra” na Comissão. Mas um pedido do filho 01 do presidente para ter acesso a documentos sigilosos apresentados à comissão pôs em xeque essa estratégia.

Desde que se tornou membro da CPI, Flávio Bolsonaro pouco compareceu às sessões de depoimentos, transmitidas ao vivo na TV e nas redes sociais. Mas, segundo técnicos que atuam na Comissão, pediu acesso a diversas informações sigilosas. O gabinete do senador, conta a CartaCapital um desses profissionais, pediu acesso a material de processos que correm em segredo de Justiça. Também teria pedido dados das diversas quebras de sigilo de investigados na tentativa de compra da vacina Covaxin.

Após reação da chamada “tropa-de-choque” formada por senadores de oposição, decidiu-se que apenas os autores formais dos pedidos de informação envolvendo material sigiloso poderão ter acesso a eles. Daqui em diante, portanto, Flávio teria dificuldades em acessar, por exemplo, dados obtidos pela quebras dos sigilos telefônico, bancário, fiscal e telemático do deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), já acatada pelo Supremo Tribunal Federal.

Nos corredores, comenta-se que a discrição do 01 tem duas grandes razões

Líder do governo Bolsonaro na Câmara dos Deputados, Barros será apontado no relatório final da CPI como um dos controladores das nomeações para postos-chave do Ministério da Saúde de servidores envolvidos nos eventuais esquemas de superfaturamento e corrupção para a aquisição da vacina produzida na Índia.

Para o senador Humberto Costa (PT-PE) se fazia necessário dar maior proteção a alguns dados recolhidos pela CPI. “O que a CPI está fazendo agora é tomar cuidados”, diz, sem mencionar o caso de Flávio. “Isso vai fazer com que o acesso de todos às informações fique um pouco mais restrito, mais marcado pelo rigor.”

Flávio ganhou vaga na CPI após a ido do senador piauiense Ciro Nogueira (PP-PI), para a Casa Civil. Sua estreia alimentou alguma expectativa entre os senadores. Até agora, com participação esporádica nas sessões abertas, o 01 chamou mais atenção pelos tumultos provocados. 

 

Nos corredores, comenta-se que a discrição tem duas razões. A primeira é ter tempo e espaço para elaborar nos bastidores uma “linha de defesa” mais consistente para o governo, tarefa inglória que, segundo a avaliação do próprio Jair Bolsonaro, não vem sendo cumprida satisfatoriamente pelos governistas que integram a CPI. O objetivo é encontrar fraquezas dos adversários: por exemplo, eventuais ilegalidades cometidas pelos governadores na condução da crise sanitária.

A segunda razão para a atuação low profile de Flávio Bolsonaro é o desejo não chamar atenção para uma das linhas de investigação apuradas nesta segunda fase dos trabalhos. Nela, o senador do Rio é citado por eventual influência em supostas irregularidades cometidas na gestão dos hospitais federais do Rio de Janeiro durante a pandemia. Apura-se, por exemplo, a possível participação de Flávio em um esquema de contratação irregular no Hospital Federal de Bonsucesso que movimentou em 2019 o equivalente a 9,6 milhões de reais.

A oposição avalia, contudo, que a margem de manobra de Flávio é reduzida: “É claro que Flávio ter acesso aos documentos atrapalha as investigações, mas isso não impedirá a CPI de chegar aonde tem que chegar”, diz Randolfe Rodrigues, vice-presidente da Comissão. O senador da Rede diz também que a comissão está atenta a possíveis movimentações de Flávio para obstruir o andamento das investigações: “Temos que ser mais céleres.”

Renan Calheiros na mira

Uma evidente preocupação de Flávio Bolsonaro é centrar fogo no desafeto Renan Calheiros. Antes mesmo de assumir seu posto na CPI, ele protocolou na Comissão de Ética do Senado uma representação contra o relator da Comissão. Segundo Flávio, Renan o estaria perseguindo ao promover “uma investigação paralela de sua vida pessoal, social e profissional” com o intuito de “se vingar” por ter sido ofendido publicamente. O senador alagoano também teria, segundo Flávio, vazado no âmbito da CPI informações sobre processos que corriam em segredo de Justiça e já foram arquivados pelo STF.

Procurado pela reportagem de CartaCapital, Calheiros preferiu não se manifestar sobre o caso. Há alguns dias, porém, ele reagiu de forma irônica à proposta em conversa com jornalistas no Senado, ele foi irônico ao se referir : “Se há algo positivo é o encontro do Flávio com a palavra ética. Embora movido pelos piores instintos, não deixa de ser um encontro surpreendente entre os dois.”

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