Política
CPI das Fake News avança, mas milícias digitais não param
Presidente do Congresso pediu nomes aos partidos. Senador capixaba é nova vítima das milícias digitais
Ameaça ao governo e ao mandato de Jair Bolsonaro, a CPI das Fake News está a um passo de ser criada. Os partidos preparam-se para a indicar os deputados e senadores que farão parte dela. Há chance de a comissão ser instalada antes das férias de julho do Congresso, as quais começam dia 18.
O requerimento de criação da CPI foi lido nesta quarta-feira 3 pelo presidente do Congresso, Davi Alcolumbre (DEM-AP), em sessão conjunta da Câmara e do Senado. Alcolumbre em seguida pediu aos partidos que indiquem seus representantes. Se as siglas não o fizerem, o senador pode designá-los por conta própria.
“Há tempo para instalar a CPI antes do recesso. Muitos parlamentares aqui estão incomodados com as redes sociais desde a eleição”, diz o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE).
O PSL, partido do presidente, não tem interesse na CPI. As chamadas milícias digitais são a fonte de poder de Bolsonaro. É com elas que o ex-capitão empareda o Congresso. E são elas que estão na mira da CPI, proposta para investigar “ataques cibernéticos que atentam contra a democracia e o debate público” e “a utilização de perfis falsos para influenciar os resultados das eleições de 2018”.
Filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) tem dito ser contra qualquer política de intervenção nas redes sociais. Sua colega de legenda Bia Kicis (DF) afirma que a CPI não pode servir de caça às bruxas contra os críticos do Congresso nas mídias sociais.
A mais nova vítima das milícias digitais
O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) é a mais nova vítima das milícias digitais, presumivelmente bolsonaristas. Foi agredido e ofendido via Twitter, Instagram e Facebook logo após questionar o ministro da Justiça, Sergio Moro, em uma audiência pública, em 19 de junho, sobre conversas privadas do ex-juiz reveladas pelo Intercept.
Contarato disse a CartaCapital que seu gabinete mapeia as ofensas para ele processar quem, em sua visão, tenha cometido crimes de injúria, calúnia e difamação. “O ministro Moro jogou a população contra mim, ao dizer que eu era contra a Operação Lava Jato. Eu não sou contra, sou a favor de que seja respeitado o princípio da imparcialidade judicial”, disse.
A ameaça mais grave ao senador partiu de um auditor-fiscal do Espírito Santo. Em um áudio por Whatsapp, esse auditor diz que ia pegar o senador “no facão”. O agressor identificava-se com nome, sobrenome e número de telefone. Contarato acionou a polícia legislativa, que fez contato com o auditor e este confirmou a autoria do áudio, embora tenha dito que se arrependia.
A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) é outra vítima recente das milícias digitais. E, no caso dela, não há dúvida de tratar-se de milícias bolsonaristas.
Em 15 de junho, três dias antes de o Senado votar a derrubada dos dois decretos presidenciais armamentistas, Bolsonaro pregou no Twitter que os “bons cidadãos” cobrassem os senadores a aprovar os decretos.
Eliziane foi cobrada. “Saia na rua sem seus seguranças”, afirmava uma das mensagens. Segundo uma outra, a casa dela seria arrombada e seus familiares levariam bala na testa. Uma terceira dizia que a senadora “está marcada” e a xingava. A senadora fez boletim de ocorrência na polícia legislativa e espera a descoberta da identidade dos autores das ameaças de morte.
A criação da CPI das Fake News é obra do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O proponente da comissão foi um deputado do mesmo partido, Alexandre Leite (SP). Maia é alvo do bolsonarismo nas redes sociais, atacado como rosto da “velha política” do dito “Centrão”, tidos pelo presidente como obstáculos ao governo. Ele convenceu Alcolumbre a juntar o Senado na CPI.
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