Política

Covas se aproxima de discurso bolsonarista ao citar Cuba e Venezuela, diz Boulos

A CartaCapital, candidato do PSOL à Prefeitura de SP diz que governará com responsabilidade fiscal, mas sem ‘irresponsabilidade social’

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O candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos, garantiu que, se eleito, governará com responsabilidade fiscal, mas sem incorrer em “irresponsabilidade social”.

Em entrevista a CartaCapital realizada na quarta-feira 25, o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) também afirmou que, em contraposição ao prefeito e candidato à reeleição, Bruno Covas (PSDB), não omite da população paulistana seus aliados nesta disputa municipal. “Eu não escondo quem me apoia – não vi o Doria aparecer em um programa eleitoral do Covas. Eu não escondo quem é minha vice, tenho muito orgulho dela – e ele esconde o vice a sete chaves, vice que é suspeito de esquema com aluguel de creche. Eu não escondo o meu projeto e não escondo a verdade na minha campanha”, disse Boulos. Segundo ele, a postura de Covas ao tentar ligá-lo a Cuba e Venezuela denota uma aproximação a “um discurso bolsonarista”.

Leia outros pontos da entrevista e assista à íntegra do vídeo ao final da postagem:

Responsabilidade fiscal

Segundo Guilherme Boulos, governar a cidade de São Paulo com responsabilidade fiscal é “garantir que as contas públicas da cidade sejam preservadas”. Mas, de acordo com o ele, a gestão de João Doria e Bruno Covas na Prefeitura chega à “irresponsabilidade social”.

“Hoje, apesar de estarmos no meio de uma pandemia, com indícios reais de uma segunda onda, temos hospitais fechados, falta de contratação de médicos nas regiões mais distantes, falta de equipamentos. Temos 25 mil pessoas vivendo nas ruas, que poderiam ser acolhidas de forma emergencial na pequena rede hoteleira da cidade que hoje está às traças. Seria um ganho, inclusive, para esses pequenos hotéis e, sobretudo, uma forma de acolher as pessoas que estão nas ruas da cidade no meio de uma pandemia”, afirmou.

Ele ressaltou que “a Prefeitura não é banco, não é empresa, não tem que dar lucro. Tem que usar o orçamento público para garantir direitos, oportunidades em políticas públicas na ponta”.

Ainda conforme o candidato do PSOL, as propostas apresentadas por ele são “totalmente factíveis”. “O custo das nossas propostas é de 29 bilhões de reais em quatro anos. Temos as fontes orçamentárias para realizar essas propostas e, acima de tudo, sensibilidade para inverter as prioridades”, garantiu.

Governar sem maioria na Câmara Municipal

A respeito da perspectiva de chegar à Prefeitura sem o apoio majoritário dos vereadores de São Paulo, Boulos ressaltou sua “capacidade de diálogo”.

“No movimento social dialoguei com representantes de vários governos dos quais discordo, com o objetivo de fazer moradias populares para as pessoas. Eu não teria condições de governar São Paulo apenas dialogando com a esquerda. A tripartição de poderes na democracia brasileira coloca a necessidade de ter a capacidade de dialogar e buscar posições de equilíbrio. Eu não sou o Jair Bolsonaro, que sai xingando presidente da Câmara, presidente do Senado. Mas, ao mesmo tempo, não topo fazer o que faz esse governo do Bruno Covas, que é o ‘toma lá, dá cá’. Que é comprar voto na Câmara Municipal entregando o comando de subprefeituras a vereadores. Isso eu não vou fazer. Vou governar dialogando com a Câmara e também com a sociedade. Vamos chamar as pessoas através de orçamento participativo, construindo formas de participação modernas, inclusive virtuais”, prometeu.

Ânimos acirrados

Em entrevista à Rádio CBN na quarta-feira 25, Bruno Covas tentou atrelar Guilherme Boulos ao “radicalismo” e citou, inclusive, Cuba e Venezuela. “A partir do momento em que você, somente por uma visão ideológica, acha que, por exemplo, Venezuela e Cuba são democracias porque têm eleição, é claro que isso mostra radicalismo”, afirmou o tucano.

A CartaCapital, Boulos respondeu que Covas e o PSDB “começaram a ver o risco de perder a eleição” e, por isso, o candidato tucano “partiu para um certo desespero”.

“Não cai bem esse figurino nele de querer se aproximar de um discurso bolsonarista, de ficar atacando Cuba, Venezuela, criminalizando movimento social. Isso talvez expresse a dificuldade dele de explicar os problemas que ele tem com vice. Eu não escondo quem me apoia – não vi o Doria aparecer em um programa eleitoral do Covas. Eu não escondo quem é minha vice, tenho muito orgulho dela – e ele esconde o vice a sete chaves, vice que é suspeito de esquema com aluguel de creche. Eu não escondo o meu projeto e não escondo a verdade na minha campanha”, disse Boulos

Entregadores de aplicativos

Em um ano também marcado pelos protestos e pelas paralisações organizados por motoristas de aplicativos, Boulos disse que não acha “razoável que um jovem saia da periferia, fique 13 horas em cima de uma moto e o que ele recebe no fim do mês não dê para pagar as contas. As tarifas que os aplicativos cobram não se justificam, não são razoáveis. As empresas de aplicativos fazem bloqueios de forma arbitrária. Isso não pode existir, e é papel da Prefeitura regulamentar e assegurar direitos na cidade”.

Covas se diz contra reeleição, mas está em busca dela

Em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, Bruno Covas disse ser contra a reeleição em si, mas afirmou estar “dentro da regra do jogo”. “Eu sou contra a reeleição, votei contra quando fui deputado federal. É a regra do jogo, portanto estou dentro da regra do jogo, mas se pudesse escolher, escolheria não ter reeleição no país”, disse Covas.

Boulos ironizou a postura do concorrente: “Eu acho engraçado o Covas dizer ser contra a reeleição e ser candidato à reeleição. Ele disse que queria ter uma vice mulher, mas tem um vice homem que inclusive tem uma acusação de violência contra a mulher. Parece que o Bruno Covas nem na campanha dele define muito bem as regras. No sistema político atual, você ter uma reeleição como forma de aprovação ou não da população sobre o mandato não me parece que esteja entre os grandes problemas do sistema político atual. Temos muito mais coisas para rever no sistema político brasileiro”, disparou.

Resistência ao “BolsoDoria”

Boulos ainda garantiu que dialogará  “de forma institucional com todas as outras instâncias, inclusive o governo estadual e o governo federal”.

Como liderança política, no entanto, disse que valorizará e fortalecerá a participação democrática.

“Projetos que fortaleçam a diversidade. Políticas sociais voltadas para educação, cultura, saúde, moradia popular, trabalho e renda. O maior contraponto que posso fazer à política autoritária representada por Bolsonaro e à política elitista representada por Doria é fazer um governo profundamente democrático e comprometido com os mais pobres”, completou o postulante do PSOL.

Assista à íntegra da entrevista de Guilherme Boulos a CartaCapital:

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